quinta-feira, 28 de julho de 2016


Hoje (28/07/2016), na Igreja de São Bartolomeu,
na Festa da Padroeira da Capela
da Casa Paroquial de Borba,
Nossa Senhora do Monte Tabor,
a Homilia foi assim:


Nos relatos bíblicos da Transfiguração de Jesus, sobre o Monte Tabor, nenhum deles, faz a mais pequena referência, à presença física de Maria no Monte Santo, a quando da Transfiguração.

Então, Nossa Senhora do Monte Tabor, não será uma fantasia devocional? Uma manipulação dos Mistérios da Fé?

São João Paulo II pode dar-nos uma ajuda quando diz: “O rosto de Cristo é um rosto de luz que rasga a obscuridade da morte: é anúncio e penhor da nossa glória, porque é o rosto do Crucificado Ressuscitado, o único Redentor da humanidade, que continua a resplandecer sobre nós (cf. Sl 67, 3)” (João Paulo II, 6 de Agosto de 2002). O mesmo João Paulo II, na «Novo Millennio Ineunte» questiona-nos desta forma: “E não é porventura a missão da Igreja reflectir a luz de Cristo em cada época da história, e por conseguinte fazer resplandecer o seu rosto também diante das gerações do novo milénio? Mas, o nosso testemunho seria excessivamente pobre, se não fôssemos primeiro contemplativos do seu rosto” (João Paulo II, Carta Apostólica «Novo Millennio Ineunte», 16).

Este Rosto Luminoso recebêmo-l’O por Maria, que sobre ela deixou resplandecer, de modo admirável, a Luz que vem de Deus.

Resplandece em Maria que, por misterioso privilégio de Deus, nunca foi tocada pelo pecado, por isso a aclamamos como Imaculada, desde a sua Conceição.

Mas, resplandece ainda mais luminosamente, porque, mesmo sem o contemplar Transfigurado sobre o Monte Santo, o contemplou criança inocente na gruta de Belém, enquanto o embalava em seus braços virginais. Contemplou-o, no Templo de Jerusalém, quando Simeão e Ana o reconheceram como “Luz para se revelar às nações” (Lc 2, 32), a quando da sua purificação (cf. Lc 2, 28-38), ela a «Toda Pura».  E no mesmo Templo, contemplou-o entre os Doutores da Lei (cf. Lc 2, 41-51). Contemplou-o silenciosa e tranquilamente durante os longos anos laboriosos da Vida Oculta em Nazaré da Galileia (cf. Lc 2, 40). Contemplou-o nas Bodas de Caná e a todos nos convida a contemplá-lo como ela, quando nos diz: “«Fazei o que Ele vos disser!»” (Jo 2, 5). Contemplou-o discreta e ocultamente durante a Sua Vida pública. Contemplou-o, na Ceia, a Última Ceia, aquela em que, para nos amar até ao extremo, se nos deu como alimento (Cf. Jo 13 1-19). Contemplou-o Dolorosa na cruz (cf. Jo 19, 25) e inanimado entre os seus braços de Mãe. E foi a primeira a contemplá-lo Ressuscitado, e disso não tenho dúvida - mesmo se os relatos bíblicos o não retiveram -, na madrugada do primeiro dia da Semana, no luminoso e feliz Domingo de Páscoa. Contudo, contemplou-o de forma incompreensívelmente mais plena, quando repetindo a inocência pueril de Samuel (Cf. 1Sm 3, 1-10) responde ao anjo: “«Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.»” (Lc 1, 38)

Por isso, nela a Palavra do Senhor se torna Vida e Vida que nos dá vida em abundância (cf. Jo 10, 10). E antes mesmo, que a Vida se tornasse Carne em seu seio virginal, já ela era Feliz por ouvir a Palavra de Deus e a colocar em prática (cf. Lc 11, 28).

Antes mesmo de O gerar, já era imagem daquele que haveria de gerar e contemplar na carne… Ela foi a primeira, por privilégio de Deus, a ver restaurada em si a beleza, a imagem e semelhança de Deus (Cf. Gn 1, 26-27), que o próprio Deus imprimiu em nós e o pecado destroçou.

Assim, como Rainha do Monte Santo, como Senhora da Transfiguração, como Nossa Senhora do Monte Tabor, desafia-nos a subir com Pedro, Tiago e João, ao alto do Monte, a determo-nos em contemplação diante do Senhor Transfigurado, ladeado por Moisés e Elias, deixando-nos envolver pela Luz da Trindade e escutar a Voz que nos desafia a escutar o seu Filho Bem-Amado, realizando na nossa vida, como a Senhora do Monte Tabor, a Sua Divina Vontade, permitindo que Ele imprima em nós a Sua imagem, restaure em nós a Sua imagem: Cristo, “restituirá a perfeição da imagem divina, que se fragmentou em Adão, por causa da desobediência e do pecado” (El-Maskîne, Père Matta, “La nouvelle création de l´homme”, Abbaye de Bellefontaine, Bégrolles en Mauges, 1998, pg 166) e assim, poderemos dizer, com toda a plenitude do nosso ser: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim.” (Gl 2, 20)

Como nova criatura espiritual, o Homem Novo é-o fundamentalmente à imagem do seu Criador. O objectivo último do Homem Novo, em virtude da sua criação segundo a imagem única e gloriosa do seu Criador, é de tender para o amor e deixar-se atrair pelo resplendor da face de Cristo, à qual todos seremos semelhantes, como diz São João: “E agora, filhinhos, permanecei nele, para que, quando Ele se manifestar, tenhamos plena confiança e não fiquemos cheios de vergonha, longe dele, por ocasião da sua vinda. Se sabeis que Ele é justo, sabei também que todo aquele que pratica a justiça nasceu dele. Caríssimos, agora já somos filhos de Deus, mas não se manifestou ainda o que havemos de ser. O que sabemos é que, quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque o veremos tal como Ele é. (1Jo 2, 28-3, 2) (Cf. El-Maskîne, Père Matta, “La nouvelle création de l´homme”, Abbaye de Bellefontaine, Bégrolles-en-Mauges, 1998, pg 166)

No Mistério da Transfiguração, a Igreja, não celebra apenas a Transfiguração de Cristo, mas também a sua própria transfiguração: 2transformai-vos pela renovação de vosso espírito” (Rm 12, 2) e desafia-nos a “uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo.” (Bento XVI, «Porta Fidei», 6)

“A Igreja vive da imitação de Cristo. Tudo o que Cristo fez, a Igreja o faz também. Ele torna-se a sua vida. O apelo de Cristo a Mateus: «Segue-me» (Mt 9, 9) significa: «Toma a minha vida para ti». A Igreja aplicou este chamamento a ela mesma” (El-Maskîne, Père Matta, “La communion d’amour”, Abbaye Bellefontaine, Bégrolles-en-Mauges, 1992, pg. 127).

Contemplando, em Cristo Transfigurado a glória Divina, tornamo-nos o espelho em que Cristo gosta de reflectir essa mesma glória Divina. Contemplando, reflectimos aquilo que contemplamos: “Permanecendo simples e amorosamente na Sua presença para que possa reflectir em nós a Sua própria imagem como se reflecte o sol no límpido cristal” (Beata Isabel da Santíssima Trindade).

Contemplando Cristo, nós nos tornamos semelhantes a Ele, conformamo-nos a Ele, fazemo-nos um só espírito com Ele (Cf. Júlio II, Regra (OIC), 30), consentimos que o Seu mundo, os Seus propósitos, os Seus sentimentos e a Sua vida se imprimam em nós; que substituam os nossos pensamentos, propósitos e sentimentos, tornando-nos assim semelhantes a Ele. Como diz São João da Cruz tenha sempre a alma o desejo contínuo de imitar a Cristo em todas as coisas, conformando-se à sua vida que deve meditar para saber imitá-la e agir em todas as circunstâncias como ele próprio agiria” (São João da Cruz). Contemplando o Seu “Rosto” vamo-nos deixando, por Ele, “despir das obras das trevas e revestir das armas da luz” (Rm 13, 12), com vista a dizer com o apóstolo Paulo: “para mim, viver é Cristo” (Fl 1, 21).

“Se Jesus é o escolhido de Deus na história, nós estamos chamados a imitá-lo, a imitá-lo em silêncio, no ocultamento, na pobreza, deixando tudo por Ele, dando tudo, perdendo tudo para obtê-lo todo. O homem não é só fruto da criação, mas objecto de aliança, para que imite a Jesus; a nossa tarefa não consiste, por tanto, unicamente em adorar e obedecer, mas em ser em Jesus e em fazer como Ele, em segui-l’O” (MARTINI, Carlo Maria, “La transfiguración de Cristo e del cristiano a la luz del Tabor”, Sal Terrae, Santander, 2012, pg. 30).

Que a Imaculada Virgem Santa Maria do Monte Tabor nos conduza pela mão, neste caminho de contemplação de Cristo, nos ensine, como ela, a ser fiéis e a realizar sempre a Vontade de Deus nas nossas vidas, por forma a que, a Trindade de quem é Filha, Mãe e Esposa, possa imprimir em nós, a beleza e a imagem de Deus, estilhaçada pela desobediência e pelo pecado e possamos com ela cantar: “MAGNIFICAT ANIMA MEA DOMINUM” (Lc 1, 46) pois, “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim.” (Gl 2, 20)