sábado, 3 de outubro de 2015

PALAVRA DE VIDA
Outubro de 2015
Fabio Ciardi
“Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros.” (Jo 13, 35)
É esse o distintivo, o sinal de reconhecimento, a característica típica dos cristãos. Ou pelo menos deveria ser esse, porque foi assim que Jesus imaginou que seria a sua comunidade.
Um fascinante escrito dos primeiros séculos do cristianismo, a Carta a Diogneto, dá conta de que “os cristãos não se distinguem dos outros homens nem pelo território, nem pelo modo de falar, nem pelo modo de vestir. Com efeito, não moram em cidades diferentes, não usam alguma língua estranha, nem adoptam um modo de vida especial”. São pessoas normais, como todas as outras. No entanto, possuem um segredo que as faz influir profundamente na sociedade, fazendo-as ser como que a sua alma (cf. cap. 5-6).
É um segredo que Jesus confiou aos seus discípulos pouco antes de morrer. Tal como os antigos sábios de Israel, ou como um pai diante de seu filho, também Ele, Mestre de sabedoria, deixou como herança a arte do saber viver, do viver bem. Ele a tinha colhido directamente do Pai: “Porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai” (Jo 15,15), e era esse o fruto da sua experiência na relação com Ele. Essa arte consiste na reciprocidade do amor. É essa a última vontade de Jesus, o seu testamento, a vida do Céu que Ele trouxe à terra, partilhando-a connosco a fim de que nós tenhamos a mesma vida.
Ele quer que seja esta a identidade dos seus discípulos, que eles sejam reconhecidos como discípulos pelo amor mútuo:
“Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros.” (Jo 13, 35)
Será que os discípulos de Jesus são reconhecidos pelo amor recíproco? “A história da Igreja é uma história de santidade”, escreveu João Paulo II. “No entanto, ela regista também numerosos episódios que constituem um contratestemunho para o cristianismo” (Incarnationis Mysterium, 11). Durante séculos os cristãos se combateram em nome de Jesus com guerras intermináveis, e persistem na divisão entre si. Ainda hoje há pessoas que identificam os cristãos com as Cruzadas, com os tribunais da Inquisição, ou os veem como defensores ferrenhos de uma moral antiquada, que se opõem ao progresso da ciência.
Não era isso que acontecia com os primeiros cristãos da comunidade nascente de Jerusalém. As pessoas ficavam admiradas pela comunhão dos bens que eles viviam, pela unidade que reinava, pela “alegria e simplicidade de coração” que os caracterizava (cf. At 2,46). “O povo estimava-os muito”, lemos ainda nos Actos dos Apóstolos, com a consequência de que a cada dia “crescia sempre mais o número dos que pela fé aderiam ao Senhor” (At 5,13-14). O testemunho de vida da comunidade tinha uma forte capacidade de atração. Por que também hoje não somos conhecidos como aqueles que se distinguem pelo amor? O que fizemos do mandamento de Jesus?
“Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros.” (Jo 13, 35)
Tradicionalmente, em âmbito católico, o mês de Outubro é dedicado à “missão”, à reflexão sobre a ordem dada por Jesus, de ir a todo o mundo anunciar o Evangelho, à oração e ao apoio àqueles que se encontram na linha de frente. Esta Palavra de Vida pode ajudar-nos todos a focalizar novamente a dimensão fundamental de todo anúncio cristão. Não se trata da imposição de uma fé, não é proselitismo, não é uma ajuda interesseira aos pobres para que se convertam. Não se trata sequer primeiramente de uma defesa exigente dos valores morais ou do posicionamento firme diante das injustiças e das guerras, embora essas atitudes sejam obrigatórias, das quais o cristão não pode se esquivar.
O anúncio cristão é acima de tudo um testemunho de vida que cada discípulo de Jesus deve oferecer pessoalmente: “O homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres” (Evangelii nuntiandi, 41). Até mesmo quem é hostil à Igreja muitas vezes fica tocado pelo exemplo daqueles que dedicam suas vidas aos doentes e aos pobres, e estão dispostos a deixar a pátria para ir às frentes de emergência e oferecer ajuda e amizade aos últimos.
Mas Jesus pede sobretudo o testemunho de toda uma comunidade que mostre a veracidade do Evangelho. Ela deve evidenciar que a vida trazida por Ele pode realmente gerar uma sociedade nova, na qual se vivem relacionamentos de autêntica fraternidade, de ajuda e serviço mútuo, de uma atenção colectiva às pessoas mais frágeis e necessitadas.
A vida da Igreja conheceu esse tipo de testemunhos, como por exemplo as aldeias construídas pelos franciscanos e pelos jesuítas para os nativos na América do Sul (cf. as Reduções), ou os mosteiros com os povoados que surgiam ao seu redor. Também hoje, comunidades e movimentos eclesiais fazem surgir pequenas cidades de testemunho (cf. as Mariápolis permanentes) onde se podem ver os sinais de uma sociedade nova, fruto da vida evangélica, do amor mútuo.
“Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros.” (Jo 13, 35)
Sem ter de abandonar os lugares em que moramos e as pessoas que frequentamos, se vivermos entre nós aquela unidade pela qual Jesus deu a vida, poderemos criar um modo de viver alternativo e semear ao nosso redor germes de esperança e de vida nova. Uma família que renova a cada dia o desejo de viver concretamente no amor mútuo pode se tornar um raio de luz na indiferença recíproca do condomínio ou da vizinhança. Uma “célula de ambiente”, ou seja, duas ou mais pessoas que se colocam de acordo para actuar com radicalismo as exigências do Evangelho no próprio campo de trabalho, na escola, na sede do sindicato, nos gabinetes administrativos, numa prisão, poderá romper a lógica da luta pelo poder, criar um clima de colaboração e favorecer o surgimento de uma fraternidade inesperada.
Não era isso que faziam os primeiros cristãos no tempo do império romano? Não foi desse modo que eles difundiram a novidade transformadora do cristianismo? Sejamos hoje nós “os primeiros cristãos”, chamados, como eles, a nos perdoarmos, a nos vermos sempre novos, a nos ajudarmos; numa palavra, a nos amarmos intensamente como Jesus amou, na certeza de que a sua presença em nosso meio tem a força de envolver também os outros na lógica divina do amor.

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Dia Mundial de Oração
pelo Cuidado da Criação
A Igreja Católica celebra, a 1 de Setembro, o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação. A data foi instituída pelo Papa Francisco e tem um sentido ecuménico, já que a mesma é também comemorada pela Igreja Ortodoxa.

 
O Santo Padre pretende que a celebração do Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação ofereça aos fiéis e às comunidades a oportunidade de «renovarem a adesão pessoal à vocação de protetores da criação», «elevando a Deus o agradecimento pela obra maravilhosa que Ele confiou ao nosso cuidado».

«Como cristãos queremos oferecer a nossa contribuição à superação da crise ecológica que a humanidade está a viver. Por isto devemos, antes de tudo, procurar no nosso rico património espiritual as motivações que alimentam a paixão pelo cuidado da criação, recordando sempre os que creem em Jesus Cristo, Verbo de Deus que se fez homem por nós», explica o Santo Padre.

O Papa alerta que a «crise ecológica» impele a uma «profunda conversão espiritual» e frisa que os cristãos são chamados a uma «conversão ecológica, que comporta deixar emergir, nas relações com o mundo que os rodeia, todas as consequências do encontro com Jesus», citando a encíclica Laudato Sí (217).

A ideia do “Dia de Oração” havia sido sugerida pelo ortodoxo Ioannis, de Pergamo, que participou da apresentação da encíclica Laudato sì , no mês de Junho passado. E para evidenciar o valor agregado à oração que é o “si consenserint” (“se pedirdes unidos”) do Evangelho, na Carta com a qual o Santo Padre institui o Dia de Oração (6.8.2015), coneça dizendo: «Compartilhando com o amado irmão, o Patriarca Ecumenico Bartolomeu, as preocupações pelo futuro da criação, e acolhendo a sugestão de seu representante, o Metropolita Ioannis…». Demonstra com isso que não é importante de quem veio a ideia, porque pode-se sempre aprender uns dos outros. E para reafirmar o conceito, no final do documento o Papa solicita ao cardeal Koch, presidente do Conselho para a Unidade dos Cristãos para «cuidar da coordenação com iniciativas similares tomadas pelo Conselho Mundial de Igrejas».

O Conselho Ecuménico das Igrejas (CEC) dedica ao período que vai de 1º de Setembro (primeiro dia do ano litúrgico na tradição ortodoxa) a 4 de Outubro (dia de São Francisco de Assis na tradição católica), o tema: “O tempo para a criação”, com acções pela questão ambiental e a sua relação com a justiça e a paz.

Significativa, portanto, a opção do Papa de celebrar o Dia de Oração todos os anos no dia 1º de Setembro, a mesma data dos ortodoxos e dia inicial do “tempo” dedicado pelo CEC a esse tema. Assim como é significativo o seu auspício de que unam-se também outras igrejas e comunidades eclesiais, a fim de que se torne uma ocasião frutuosa para «testemunhar a nossa crescente comunhão».

Neste contexto ecuménico, o Santo Padre desejou que esta iniciativa possa envolver outras Igrejas e comunidades eclesiais e ser celebrado em sintonia com as atividades que o Conselho Mundial de Igrejas promove sobre este tema. A instituição do “Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação” foi comunicada numa carta ao presidente do Conselho Pontifício da Justiça e da Paz e ao presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos, respetivamente o cardeal Peter Turkson e o cardeal Kurt Koch.

Aos dois responsáveis Francisco pediu a divulgação da instituição deste dia para que, «em harmonia com as exigências e as situações locais» a sua celebração seja organizada com a participação de todo o Povo de Deus.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Em Belém, no Carmelo
entre a imagem e a relíquia de Santa Maria Baouardy
SANTA MARIA DE JESUS CRUCIFICADO BAOUARDY
monja Carmelita Descalça
(1846-1878)
Memória a 25 de Agosto

Miriam Baouardy nasceu a 5 de Janeiro de 1846, em Ibillin, numa pequena aldeia da Galileia, entre Nazaré e Haifa, numa família de rito greco-católico. Os seus pais perdem, um após outro, os doze filhos em tenra idade. Com profunda dor mas com uma grande confiança em Deus, decidiram fazer uma peregrinação a Belém para rezar na Gruta da Natividade e pedir a graça de uma filha. É assim que Miriam veio ao mundo. No ano seguinte nasce o seu irmão Boulos.
Mas, Miriam não tinha ainda 3 anos quando o seu pai morre confiando-a à fiel custódia de São José. Alguns dias mais tarde morre também a sua mãe. É assim que Boulos é adoptado por uma tia e Miriam por um tio de boa condição social.
Dos seus anos de infância na Galileia, guarda na memória, o maravilhar-se diante da beleza da Criação, da luz, das paisagens de onde tudo lhe fala de Deus e do sentimento, muito forte, de que “tudo passa”.
A experiência de criança é decisiva para sua vida futura: brinca com dois pequenos passarinhos e quer dar-lhes um banho… mas eles não resistem e morrem entre suas mãos. Triste, ouve então interiormente estas palavras: "Vês? É assim que tudo passa, mas se queres dar-me teu coração, Eu ficarei para sempre contigo”.
Aos 8 anos faz sua primeira comunhão. Pouco depois, o seu tio parte para Alexandria com toda a família.
No Egipto: Alexandria e o martírio
Miriam tem 12 anos quando sabe que o seu tio a quer casar. Decidida a dar-se totalmente a Deus, recusa a proposta. Tratam de persuadi-la e ameaçam-na. Nem as humilhações, nem os maus tratos puderam fazer mudar a sua decisão. Após três meses, ela visita um velho criado da casa do seu tio, para enviar uma carta a seu irmão que vive na Galileia para que a venha ajudar. Ouvindo a narração dos seus sofrimentos, o criado que era muçulmano, exorta-a a converter-se ao Islão. Miriam recusa. Encolerizado, o homem pega numa espada e corta-lhe a garganta, abandonando-a logo de seguida numa rua escura. Era dia 8 de Setembro.
Mas a sua hora não havia chegado, e ela acorda numa gruta, ao lado de uma jovem que parecia ser uma religiosa. Durante quatro semanas, ela cuida, alimenta e instrui Miriam. Depois de estar curada, aquela que mais tarde ela revelará ser a Virgem Maria, leva-a a uma igreja.
Desde esse dia, Miriam irá de cidade em cidade (Alexandria, Jerusalém, Beirute, Marselha…), como doméstica, elegendo preferencialmente as famílias pobres, ajudando-as, mas deixando-as quando elas a honram demasiado.
Mas ela irá ser também de maneira particular testemunho desse “universo invisível”. Esse universo que nós acreditam ser ver e que ela experimentou duma maneira muito forte.
Em Marselha: as Irmãs de São José
Em 1865 Miriam encontra-se em Marselha. Entra em contacto com as Irmãs de São José da Aparição. Tem 19 anos, mas só parece ter 12 ou 13. Fala mal o francês e possui uma saúde frágil, de todos modos é admitida ao noviciado e sua alegria é enorme por se poder entregar assim a Deus. Sempre disposta aos trabalhos mais pesados, passa a maior parte do seu tempo lavando ou cozinhando. Mas, dois dias por semana revive a Paixão de Jesus, recebe os estigmas (que na sua simplicidade pensa ser uma doença) e começam a manifestar-se todo o tipo de graças extraordinárias. Algumas irmãs ficam desconcertadas com o que se passa com ela, e ao fim de 2 anos de noviciado, não é admitida na Congregação. Um conjunto de circunstâncias vão conduzi-la até ao Carmelo de Pau.
O Carmelo de Pau, França
É recebida em Junho de 1867. Ali, no meio de todas as provas que terá de atravessar, encontrará sempre o amor e a compreensão. Ingressa de novo no noviciado, onde recebe o nome de Irmã Maria de Jesus Crucificado. Insiste em ser admitida como ‘irmã conversa’, pois gosta mais do serviço aos outros, tendo, por outro lado, dificuldades na leitura, nomeadamente na recitação do Oficio Divino. A sua simplicidade e generosidade conquistam o coração de todos. As suas palavras proferidas depois de um êxtase são o fruto da sua vida: "Onde está a caridade ali está Deus. Se pensais em fazer o bem ao vosso irmão, Deus pensará em vós. Se cavais um poço para vosso irmão, caíreis nele; o poço será para vós. Mas, se fazeis um céu para o vosso irmão, esse céu será para vós…”.
Dom da profecia, ataques do demónio ou êxtases… entre todas as graças divinas das quais está cheia, ela sabe, de maneira muito profunda, ser ‘nada’ diante de Deus, e quando fala dela mesma intitula-se "o pequeno nada", é realmente a expressão profunda de seu ser. É o que a faz penetrar na insondável profundidade da misericórdia divina onde ela encontra a sua alegria, as suas delicias e a sua vida… “A humildade é ser por não ser nada, ela não se apega a nada, ela não se cansa nunca de nada. Está contente, é feliz, onde quer que esteja é feliz, está satisfeita com tudo… Felizes os pequenos!”. Ali está a fonte de seu abandono entre graças mais estranhas e os acontecimentos humanos mais desconcertantes.
A fundação do Carmelo de Mangalore na Índia
Após 3 anos, em 1870, parte com um pequeno grupo de Irmãs para fundar o primeiro convento de Carmelitas Descalças na Índia, em Mangalore. A viagem de barco foi uma aventura e três religiosas morrem antes de chegarem ao destino. De todos modos, são enviados reforços e, em finais de 1870, pode-se iniciar a vida claustral. As suas experiências extraordinárias continuam sem a impedir de realizar os seus trabalhos mais pesados e de dar atenção aos problemas inerentes a uma nova fundação. Durante os seus êxtases, as Irmãs podiam ver o seu rosto resplandecente na cozinha ou noutro local. Participa em espírito nos acontecimentos da igreja, por exemplo, nas perseguições na China e também parece ser possuída exteriormente pelo demónio, fazendo-lhe viver terríveis tormentos e combates. Foi o começo de muitas incompreensões na sua comunidade, onde duvidaram da autenticidade do que ela vivia. Não obstante, pôde emitir os seus votos no final do noviciado, a 21 de Novembro de 1871; mas as tensões criadas em seu redor acabaram por provocar o seu regresso ao Carmelo de Pau em 1872.
O regresso a Pau
Naquele lugar leva de novo a sua vida simples de ‘irmã conversa’ no meio do carinho de suas irmãs, e a sua alma dilata-se. Durante alguns êxtases, ela que é quase analfabeta, profere repentinamente em exultação de gratidão até Deus, poesias duma grande beleza, cheias de encanto e candor oriental, onde a criação inteira canta ao seu Criador. Pelo ímpeto da sua alma até Deus, ela elevar-se-á até ao cima de um árvore sobre uma rama que não suportaria nem sequer uma pequenina ave. “Todo o mundo dorme. E Deus, tão repleto de bondade, tão grande, tão digno de louvores, é esquecido!… Ninguém pensa Nele! Vede, toda a natureza O louva, o céu, as estrelas, as árvores, as ervas, tudo O louva; o homem, que conhece os seus benefícios, que deveria louvá-Lo, dorme!… Vamos, vamos despertar o universo!”
São numerosos os que procuram Miriam para consolo, conselhos, para que reze pelas suas intenções, partem iluminados e fortificados com este encontro.
A fundação do Carmelo de Belém
Pouco depois de seu regresso de Mangalore, ela começa a falar da fundação de um Carmelo em Belém. Os obstáculos são numerosos, mas dissipam-se progressivamente, inclusive de maneira inesperada. Por fim a autorização é dada por Roma e a 20 de Agosto de 1875 um pequeno grupo de carmelitas embarca para nessa aventura. O Senhor conduz Miriam na escolha do local e na forma de construção do novo Carmelo. Como ela é a única que fala árabe, encarrega-se particularmente de seguir os trabalhos, “imersa na areia e na cal”. A comunidade instalar-se-á no dia 21 de Novembro de 1876, enquanto que certos trabalhos continuam.
Prepara também a fundação de um Carmelo em Nazaré, viajando até lá para comprar o terreno, em Agosto de 1878. Durante essa viagem é lhe revelado por Deus o lugar de Emaús. Ela pede a ajuda de Berthe Dartigaux para comprá-lo para o Carmelo.
De volta a Belém, retoma a vigilância dos trabalhos debaixo de um calor sufocante. Quando leva algo para beber aos trabalhadores, Miriam cai de uma escada e parte um braço. A gangrena vai avançar muito rapidamente e morre poucos dias depois, a 26 de agosto de 1878, aos 32 anos. É beatificada a 13 de Novembro de 1983, pelo Papa João Paulo II e canonizada pelo Papa Francisco a 17 de Maio de 2015.
Miriam e o Espírito Santo
Miriam descobre-nos este mundo invisível tão perto de nós e que é todo misericórdia. Ensina-nos a investir toda a nossa vida “naquele que nunca passa”, o que realmente importa, Deus. A luta contra todas as forças do mal ainda está a decorrer. Esta Carmelita Descalça é conhecida por muitos como “Padroeira da Paz” para a Terra Santa, é para nós um estímulo a deixars transfigurar pelo Senhor a fim de nos convertermos a nós mesmos em artesãos desta transfiguração do mundo pela graça de Deus. Testemunho de um mundo já transfigurado, Miriam conduz-nos a esse primeiro dia da Criação, onde o Céu e a Terra ainda não foram separados, onde só há luz e trevas, esse dia Um, reflexo da Unidade divina, donde tudo resplandece desta Unidade.
Miriam sente-se atraída de modo particular pelo Espírito Santo, este Espírito que pairava sobre as águas no principio da Criação. É este Espírito Santo que ela nos quer entregar como herança, já que quando Ele vem tomar o lugar do nosso “eu” transfigura cada coisa, “cria de novo” (Isaías), “Dirigi-vos ao Espírito Santo que inspira tudo”.
“O ‘eu’ é aquele que perde o mundo. Os que têm o “eu” carregam a tristeza e a angústia com eles. Não se pode ter Deus e o mundo ao mesmo tempo. Aquele que não tem o “eu” tem todas as virtudes e a paz e a alegria". Mas com o Espírito Santo, mesmo com “uma gota” só, tudo é possível: “Fonte de paz, de luz, vem iluminar-me; eu sou ignorante, vem ensinar-me… Os discípulos eram muito ignorantes, eles estavam com Jesus e não O compreendiam… Quando lhe deste o raio de luz, os discípulos desapareceram, já não eram como foram, a sua força foi renovada… Espírito Santo, Eu abandono-me a Vós.”
Espírito Santo, inspirai-me.
Amor de Deus, consumi-me.
Ao verdadeiro caminho, conduzi-me.
Maria, Minha Mãe, olhai por mim,
Com Jesus, bendizei-me;
De todo mal, de toda a ilusão,
De todo o perigo, protegei-me.
 
 
 
 

domingo, 7 de junho de 2015

Eucaristia ... Sacramento da Caridade

Sacramento da Caridade, a santíssima Eucaristia é a doação que Jesus Cristo faz de Si mesmo, revelando-nos o amor infinito de Deus por cada homem. Neste sacramento admirável, manifesta-se o amor «maior»: o amor que leva a «dar a vida pelos amigos» (Jo 15, 13). De facto, Jesus «amou-os até ao fim» (Jo 13, 1). … no sacramento eucarístico, Jesus continua a amar-nos « até ao fim », até ao dom do seu corpo e do seu sangue. … Que maravilha deve suscitar, … no nosso coração, o mistério eucarístico!

No sacramento do altar, o Senhor vem ao encontro do homem, criado à imagem e semelhança de Deus (Gn 1, 27), fazendo-Se seu companheiro de viagem. … Neste sacramento, Jesus torna-Se alimento para o homem, faminto de verdade e de liberdade. Uma vez que só a verdade nos pode tornar verdadeiramente livres (Jo 8, 36), Cristo faz-Se alimento de Verdade para nós. … No sacramento da Eucaristia, Jesus mostra-nos de modo particular a verdade do amor, que é a própria essência de Deus. Esta é a verdade evangélica que interessa a todo o homem e ao homem todo. Por isso a Igreja, que encontra na Eucaristia o seu centro vital, esforça-se constantemente por anunciar a todos, em tempo propício e fora dele (opportune, importune: cf. 2 Tm 4, 2), que Deus é amor. Exactamente porque Cristo Se fez alimento de Verdade para nós, a Igreja dirige-se ao homem convidando-o a acolher livremente o dom de Deus.

Bento XVI, «Sacramentum Caritatis», 1-2.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015



Então, e agora?!?!?!
Será que o choque... o respeito pela diferença se esgotaram em Paris?!
 Ninguém faz manifestações públicas de repúdio pelo 21 que foram degolados só por serem cristãos, como fizeram pelos 12 metralhados de Paris só por serem cartoonistas?! Não terão uns direito a ser cristãos, assim como outros, o têm de ser cartoonistas? Ou os direitos esbarram e terminam na suposta liberdade de expressão e informação?
Vá lá, senhores presidentes, ministros, embaixadores ... poderosos e anónimos deste mundo tão civilizado e defensor das liberdades, igualdades e fraternidades... manifestem-se, convoquem ajuntamentos solidário, empunhem cartazes, sejam pródigos em dar entrevistas e exijam directos televisivos, promovam publicações que expressem a riqueza da vida destes homens e de muitos outros que diáriamente são barbaramente mortos, vendidos, explorados... por serem cristãos. De resto, meus senhores, como o fizeram com as vítimas de Paris. Em abono das ditas liberdades, igualdades e fraternidades, é o mínimo.
Vá lá, gente imparcialmente justa e solidária, gritem, mas gritem alto e bom som: JE SUIS CHRÉTIEN COPTE.
Pois, para que todos o saibam, com muito e santo orgulho: EU SOU CRISTÃO - JE SUIS CHRÉTIEN Copta, Católico, Protestante, Ortodoxo...
JE SUIS CHRÉTIEN.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015


Palavra de Vida
Fevereiro de 2015
Fábio Ciardi
“Por isso, acolhei-vos uns aos outros,
como Cristo vos acolheu, para a glória de Deus”. (Rm 15,7)
A caminho de Roma, de onde depois seguiria até a Espanha, o apóstolo Paulo manda primeiro uma carta às comunidades cristãs presentes naquela cidade. Nelas, que em breve haveriam de testemunhar com inúmeros mártires a sincera e profunda adesão ao Evangelho, não faltam, como em outros lugares, tensões, incompreensões e até rivalidades. Com efeito, os cristãos de Roma pertencem às mais variadas camadas sociais, culturais e religiosas. Alguns vieram do judaísmo, outros do mundo grego, da antiga religião romana, etc. [...]. Eles trazem consigo as próprias tradições de pensamento e convicções éticas. Alguns são definidos “fracos” , porque seguem costumes alimentares especiais, por exemplo, são vegetarianos ou seguem calendários que indicam dias especiais de jejum; outros são considerados “fortes” , porque livres desses condicionamentos [...]. A todos Paulo dirige um insistente convite:
“Por isso, acolhei-vos uns aos outros,
como Cristo vos acolheu, para a glória de Deus”. (Rm 15,7)
[...] Paulo está convencido de que cada um, embora na diversidade de opiniões e de costumes, age por amor a Deus. Portanto, não existe motivo para julgar quem pensa de modo diferente, muito menos para escandaliza-lo com atitudes arrogantes e com ares de superioridade. Mas o que é preciso é almejar o bem de todos, a “edificação recíproca”, ou seja, a construção da comunidade, a sua unidade (cf 14, 1-23).
Trata-se de aplicar, também nesse caso, a grande norma da vivência cristã que Paulo tinha recordado pouco antes na carta: “O amor é o cumprimento perfeito da Lei” (13, 10). [...]
O apóstolo propõe como modelo de acolhida mútua a atitude de Jesus quando, na sua morte, [...] assumiu as nossas fraquezas (cf 15, 1-3). Do alto da cruz, Jesus atraiu todos a si e acolheu o judeu João, o centurião romano, Maria Madalena, o ladrão crucificado com ele.
"Por isso, acolhei-vos uns aos outros,
como Cristo vos acolheu, para a glória de Deus”. (Rm 15,7)
Também nas nossas comunidade cristãs [...] não faltam, tal como nas de Roma, desacordos e contrastes entre modos de ver diferentes e culturas muitas vezes distantes umas das outras. Frequentemente se contrapõem tradicionalistas e inovadores [...], pessoas mais abertas e outras mais fechadas, pessoas interessadas num cristianismo mais social ou mais espiritual. As diferenças são alimentadas por convicções políticas e pela diferença de condição social. [...]
As mesmas dinâmicas podem se deflagrar nos relacionamentos entre cristãos de Igrejas  diferentes, mas também na família, nos ambientes de trabalho ou na vida política.
Insinua-se então a tentação de julgar quem não tem o nosso ponto de vista e de considerar-se superior, numa estéril contraposição e exclusão recíprocas.
O modelo que Paulo propõe não é uma uniformidade que massifica, mas a comunhão entre diferentes que enriquece. [...] O modelo não é, para usar uma imagem do Papa Francisco, a esfera, na qual cada ponto se encontra equidistante do centro e não há diferenças entre um ponto e outro. O modelo é o poliedro, que tem superfícies diferentes entre si e uma composição assimétrica, onde todos os elementos mantêm a sua originalidade. “Até mesmo as pessoas que podem ser criticadas pelos seus erros têm algo a oferecer, que não se deve perder. É a união dos povos, que, na ordem universal, conservam a sua peculiaridade; é a totalidade das pessoas numa sociedade que procura um bem comum que verdadeiramente incorpore a todos” (Evangelii gaudium, 336).
“Por isso, acolhei-vos uns aos outros,
como Cristo vos acolheu, para a glória de Deus”. (Rm 15,7)
Esta Palavra de Vida é um convite insistente a reconhecer o positivo do outro, pelo menos porque Cristo deu a vida também pela pessoa que seríamos levados a julgar. É um convite a ouvir, deixando de lado os mecanismos de defesa, a permanecer aberto á mudança, a acolher as diferenças com respeito e amor, a fim de formar uma comunidade diversificada e ao mesmo tempo unida.
Esta frase foi escolhida pela Igreja Evangélica na Alemanha para ser vivida pelos seus membros [...] por todo o ano de 2015. Compartilhá-la, pelo menos este mês, [...] já pode ser um sinal de acolhida mútua.
Assim poderemos dar glória a Deus com um só coração e uma só voz (15,6), porque, como disse Chiara Lubich na catedral reformada de São Pedro, em Genebra: “O tempo presente [...] pede amor a cada um de nós, pede unidade, comunhão, solidariedade. E chama também as Igrejas a recompor a unidade quebrada há séculos. Esta é a reforma das reformas que o Céu nos pede. É o primeiro passo – passo necessário – para a fraternidade universal com todos os homens e mulheres do mundo. Com efeito, o mundo acreditará, se estivermos unidos” (Chiara Lubich, Il dialogo è vita, Roma, 2007, pp 43-33).

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

calhou-me SANTA TERESA DE JESUS (ou de Ávila)
Deus Eterno e Omnipotente,
Criador, Salvador e Vivificador,
eu Vos dou graças pelo Santo Protector
que Me concedestes para este ano de 2015.
Concedei-me que seguindo o seu exemplo
me encontre verdadeiramente conVosco,
deixe abrasar do Vosso Amor,
seja fiel à Vossa Vontade,
me liberte das obras da trevas
e revista das armas da luz (cf. Rm 13, 12),
me deixe habitar por Vós
e seja a morada da Vossa eleição.
Que o meu testemunho de vida,
seja Verdadeiramente evangélico,
contribua para a construção
do “mundo novo”
e, no termo deste ano,
me encontre mais parecido conVosco
e, possa dizer com verdade e com a vida:
“Já não sou eu que vivo,
mas é Cristo que vive em mim.” (Gl 2, 20)
Tudo isto, conduzido e guiado
pela mão carinhosa e maternal de Maria,
Vossa Filha, Mãe e Esposa. Ámen.