segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Excertos
SANTA MISSA PARA A XXVI JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE

HOMILIA DO PAPA BENTO XVI
Queridos jovens,
…, o meu coração enche-se de alegria, pensando no afecto especial com que Jesus vos olha. Sim, o Senhor vos quer bem e vos chama seus amigos (cf. Jo 15, 15). Ele vem ter convosco e deseja acompanhar-vos no vosso caminho, para vos abrir as portas duma vida plena e tornar-vos participantes da sua relação íntima com o Pai. ... Na actualidade, são certamente muitos os que se sentem atraídos pela figura de Cristo e desejam conhecê-Lo melhor. Pressentem que Ele é a resposta a muitas das suas inquietações pessoais. Mas quem é Ele realmente? Como é possível que alguém que viveu na terra há tantos anos tenha algo a ver comigo hoje?
... A fé vai mais longe que os simples dados empíricos ou históricos, e é capaz de apreender o mistério da pessoa de Cristo na sua profundidade.
A fé, porém, não é fruto do esforço do homem, da sua razão, mas é um dom de Deus: «És feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que to revelou, mas o meu Pai que está no Céu». Tem a sua origem na iniciativa de Deus, que nos desvenda a sua intimidade e nos convida a participar da sua própria vida divina. A fé não se limita a proporcionar alguma informação sobre a identidade de Cristo, mas supõe uma relação pessoal com Ele, a adesão de toda a pessoa, com a sua inteligência, vontade e sentimentos, à manifestação que Deus faz de Si mesmo. Deste modo, a pergunta de Jesus: «E vós, quem dizeis que Eu sou?», no fundo está impelindo os discípulos a tomarem uma decisão pessoal em relação a Ele. Fé e seguimento de Cristo estão intimamente relacionados.
E, dado que supõe seguir o Mestre, a fé tem que se consolidar e crescer, tornar-se mais profunda e madura, à medida que se intensifica e fortalece a relação com Jesus, a intimidade com Ele. Também Pedro e os outros apóstolos tiveram que avançar por este caminho, até que o encontro com o Senhor ressuscitado lhes abriu os olhos para uma fé plena.
Queridos jovens, Cristo hoje também se dirige a vós com a mesma pergunta que fez aos apóstolos: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» Respondei-Lhe com generosidade e coragem, como corresponde a um coração jovem como o vosso. Dizei-Lhe: Jesus, eu sei que Tu és o Filho de Deus que deste a tua vida por mim. Quero seguir-Te fielmente e deixar-me guiar pela tua palavra. Tu conheces-me e amas-me. Eu confio em Ti e coloco nas tuas mãos a minha vida inteira. Quero que sejas a força que me sustente, a alegria que nuca me abandone.
Na sua reposta à confissão de Pedro, Jesus fala da sua Igreja... Que significa isto? Jesus constrói a Igreja sobre a rocha da fé de Pedro, que confessa a divindade de Cristo.
Sim, a Igreja não é uma simples instituição humana, como outra qualquer, mas está intimamente unida a Deus. O próprio Cristo Se refere a ela como a «sua» Igreja. Não se pode separar Cristo da Igreja, tal como não se pode separar a cabeça do corpo (cf. 1 Cor 12, 12). A Igreja não vive de si mesma, mas do Senhor. Ele está presente no meio dela e dá-lhe vida, alimento e fortaleza. Queridos jovens, permiti que, como Sucessor de Pedro, vos convide a fortalecer esta fé que nos tem sido transmitida desde os apóstolos, a colocar Cristo, Filho de Deus, no centro da vossa vida. Mas permiti também que vos recorde que seguir Jesus na fé é caminhar com Ele na comunhão da Igreja. Não se pode, sozinho, seguir Jesus. Quem cede à tentação de seguir «por conta sua» ou de viver a fé segundo a mentalidade individualista, que predomina na sociedade, corre o risco de nunca encontrar Jesus Cristo, ou de acabar seguindo uma imagem falsa d’Ele. Ter fé é apoiar-se na fé dos teus irmãos, e fazer com que a tua fé sirva também de apoio para a fé de outros. Peço-vos, queridos amigos, que ameis a Igreja, que vos gerou na fé, que vos ajudou a conhecer melhor Cristo, que vos fez descobrir a beleza do Seu amor. Para o crescimento da vossa amizade com Cristo é fundamental reconhecer a importância da vossa feliz inserção nas paróquias, comunidades e movimentos, bem como a participação na Eucaristia de cada domingo, a recepção frequente do sacramento do perdão e o cultivo da oração e a meditação da Palavra de Deus. E, desta amizade com Jesus, nascerá também o impulso que leva a dar testemunho da fé nos mais diversos ambientes, incluindo nos lugares onde prevalece a rejeição ou a indiferença. É impossível encontrar Cristo, e não O dar a conhecer aos outros. Por isso, não guardeis Cristo para vós mesmos. Comunicai aos outros a alegria da vossa fé. O mundo necessita do testemunho da vossa fé; necessita, sem dúvida, de Deus. … . Incumbe sobre vós também a tarefa extraordinária de ser discípulos e missionários de Cristo noutras terras e países onde há multidões de jovens que aspiram a coisas maiores e, vislumbrando em seus corações a possibilidade de valores mais autênticos, não se deixam seduzir pelas falsas promessas dum estilo de vida sem Deus. Queridos jovens, rezo por vós com todo o afecto do meu coração. Encomendo-vos à Virgem Maria, para que Ela sempre vos acompanhe com a sua intercessão materna e vos ensine e fidelidade à Palavra de Deus. Peço-vos também que rezeis pelo Papa, para que, como Sucessor de Pedro, possa continuar confirmando na fé os seus irmãos. Que todos na Igreja, pastores e fiéis, nos aproximemos de dia para dia sempre mais do Senhor, para crescermos em santidade de vida e darmos assim um testemunho eficaz de que Jesus Cristo é verdadeiramente o Filho de Deus, o Salvador de todos os homens e a fonte viva da sua esperança. Amen.

sábado, 20 de agosto de 2011

Excertos
SANTA MISSA COM OS SEMINARISTAS
HOMILIA DO PAPA BENTO XVI
Catedral de Santa Maria la Real de la Almudena di Madrid
Sábado, 20 de Agosto de 2011

… comprovo de novo como Cristo continua chamando jovens discípulos para fazer deles seus apóstolos, permanecendo assim viva a missão da Igreja e a oferta do evangelho ao mundo. Como seminaristas, estais a caminho para uma meta santa: ser continuadores da missão que Cristo recebeu do Pai. Chamados por Ele, seguistes a sua voz; e, atraídos pelo seu olhar amoroso, avançais para o ministério sagrado. Ponde os vossos olhos n’Ele, ... Dai-Lhe graças por este sinal de predilecção que reserva para cada um de vós.
… Queridos amigos, vos preparais para ser apóstolos com Cristo e como Cristo, para ser companheiros de viagem e servidores dos homens.
Como haveis de viver estes anos de preparação? …, devem ser anos de silêncio interior, de oração permanente, de estudo constante e de progressiva inserção nas actividades e estruturas pastorais da Igreja. … . A santidade da Igreja é, antes de mais nada, a santidade objectiva da própria pessoa de Cristo, do seu evangelho e dos seus sacramentos, a santidade daquela força do alto que a anima e impele. Nós devemos ser santos para não gerar uma contradição entre o sinal que somos e a realidade que queremos significar.
Meditai bem este mistério da Igreja, vivendo os anos da vossa formação com profunda alegria, em atitude de docilidade, de lucidez e de radical fidelidade evangélica, bem como numa amorosa relação com o tempo e as pessoas no meio de quem viveis. É que ninguém escolhe o contexto nem os destinatários da sua missão. Cada época tem os seus problemas, mas Deus dá em cada tempo a graça oportuna para os assumir e superar com amor e realismo. Por isso, em toda e qualquer circunstância em que se encontre e por mais dura que esta seja, o sacerdote tem de frutificar em toda a espécie de boas obras, conservando sempre vivas no seu íntimo aquelas palavras do dia da sua Ordenação com que se lhe exortava a configurar a sua vida com o mistério da cruz do Senhor. Configurar-se com Cristo comporta, queridos seminaristas, identificar-se sempre mais com Aquele que por nós Se fez servo, sacerdote e vítima. Na realidade, configurar-se com Ele é a tarefa em que o sacerdote há-de gastar toda a sua vida. Já sabemos que nos ultrapassa e não a conseguiremos cumprir plenamente, mas, como diz São Paulo, corremos para a meta esperando alcançá-la (cf. Flp 3, 12-14). Mas Cristo, Sumo Sacerdote, é igualmente o Bom Pastor, que cuida das suas ovelhas até ao ponto de dar a vida por elas (cf. Jo 10, 11). Para imitar nisto também o Senhor, o vosso coração tem de ir amadurecendo no Seminário, colocando-se totalmente à disposição do Mestre. Dom do Espírito Santo, esta disponibilidade é que inspira a decisão de viver o celibato pelo Reino dos céus, o desprendimento dos bens da terra, a austeridade de vida e a obediência sincera e sem dissimulação.
Pedi-Lhe, pois, que vos conceda imitá-Lo na sua caridade até ao fim para com todos, sem excluir os afastados e pecadores, …. Pedi-Lhe que vos ensine a aproximar-vos dos enfermos e dos pobres, com simplicidade e generosidade.
Apoiados no seu amor, não vos deixeis amedrontar por um ambiente onde se pretende excluir Deus e no qual os principais critérios por que se rege a existência são, frequentemente, o poder, o ter ou o prazer. Pode acontecer que vos desprezem, como se costuma fazer com quem aponta metas mais altas ou desmascara os ídolos diante dos quais muito se prostram hoje. Será então que uma vida profundamente radicada em Cristo se revele realmente como uma novidade, atraindo com vigor a quantos verdadeiramente procuram Deus, a verdade e a justiça.
…, abri a vossa alma à luz do Senhor para ver se este caminho, que requer coragem e autenticidade, é o vosso, avançando para o sacerdócio só se estiverdes firmemente persuadidos de que Deus vos chama para ser seus ministros e plenamente decididos a exercê-lo obedecendo às disposições da Igreja.
Com esta confiança, aprendei d’Aquele que Se definiu a Si mesmo como manso e humilde de coração, despojando-vos para isso de todo o desejo mundano, de modo que não busqueis o vosso próprio interesse, mas edifiqueis, com a vossa conduta, aos vossos irmãos, …. Amen.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

FESTA DE ACOLHIMENTO DOS JOVENS
Excertos do Discurso do Papa Bento XVI
na Praça Cibeles, Madrid, 18.Agosto.2011

Queridos jovens amigos!
… ouvimos uma passagem do Evangelho onde se fala de acolher as palavras de Jesus e de as pôr em prática. Há palavras que servem apenas para entreter, e passam como o vento; outras instruem, sob alguns aspectos, a mente; as palavras de Jesus, ao invés, têm de chegar ao coração, radicar-se nele e modelar a vida inteira. Sem isso, ficam estéreis e tornam-se efémeras; não nos aproximam d’Ele. E, deste modo, Cristo continua distante, como uma voz entre muitas outras que nos rodeiam e às quais estamos habituados. Além disso, o Mestre que fala não ensina algo que aprendeu de outros, mas o que Ele mesmo é, o único que conhece verdadeiramente o caminho do homem para Deus, pois foi Ele que o abriu para nós, que o criou para podermos alcançar a vida autêntica, a vida que sempre vale a pena viver em todas as circunstâncias e que nem mesmo a morte pode destruir. …
Queridos jovens, escutai verdadeiramente as palavras do Senhor, para que sejam em vós «espírito e vida» (Jo 6, 63), raízes que alimentam o vosso ser, linhas de conduta que nos assemelham à pessoa de Cristo, sendo pobres de espírito, famintos de justiça, misericordiosos, puros de coração, amantes da paz. Escutai-as frequentemente cada dia, como se faz com o único Amigo que não engana e com o qual queremos partilhar o caminho da vida. Bem sabeis que, quando não se caminha ao lado de Cristo, que nos guia, extraviamo-nos por outra sendas como a dos nossos próprios impulsos cegos e egoístas, a de propostas lisonjeiras mas interesseiras, enganadoras e volúveis, que atrás de si deixam o vazio e a frustração.
…, enraizados n’Ele, o vosso entusiasmo e alegria, os vossos anseios de crescer, de chegar ao mais alto, ou seja, a Deus, têm futuro sempre assegurado, porque a vida em plenitude já habita dentro do vosso ser. Fazei-a crescer com a graça divina, generosamente e sem mediocridade, propondo-vos seriamente a meta da santidade. E, perante as nossas fraquezas, que às vezes nos oprimem contamos também com a misericórdia do Senhor, sempre disposto a dar-nos de novo a mão e que nos oferece o perdão no sacramento da Penitência.
Edificando-a sobre a rocha firme, a vossa vida será não só segura e estável, mas contribuirá também para projectar a luz de Cristo sobre os vossos coetâneos e sobre toda a humanidade, mostrando uma alternativa válida a tantos que viram a sua vida desmoronar-se, porque os alicerces da sua existência eram inconsistentes: a tantos que se contentam com seguir as correntes da moda, se refugiam no interesse imediato, esquecendo a justiça verdadeira, ou se refugiam em opiniões pessoais em vez de procurar a verdade sem adjectivos.
…, há muitos que, julgando-se deuses, pensam que não têm necessidade de outras raízes nem de outros alicerces para além de si mesmo. Desejariam decidir, por si sós, o que é verdade ou não, o que é bom ou mau, justo ou injusto; decidir quem é digno de viver ou pode ser sacrificado nas aras de outras preferências; em cada momento dar um passo à sorte, sem rumo fixo, deixando-se levar pelo impulso de cada instante. Estas tentações estão sempre à espreita. É importante não sucumbir a elas, porque na realidade conduzem a algo tão fútil como uma existência sem horizontes, uma liberdade sem Deus. Pelo contrário, sabemos bem que fomos criados livres, à imagem de Deus, precisamente para ser protagonistas da busca da verdade e do bem, responsáveis pelas nossas acções e não meros executores cegos, colaboradores criativos com a tarefa de cultivar e embelezar a obra da criação. Deus quer um interlocutor responsável, alguém que possa dialogar com Ele e amá-Lo. Por Cristo, podemos verdadeiramente consegui-lo e, radicados n’Ele, damos asas à nossa liberdade. Porventura não é este o grande motivo da nossa alegria? Não é este um terreno firme para construir a civilização do amor e da vida, capaz de humanizar todo homem?
Queridos amigos, sede prudentes e sábios, edificai as vossas vidas sobre o alicerce firme que é Cristo. Esta sabedoria e prudência guiará os vossos passos, nada vos fará tremer e, em vosso coração, reinará a paz. Então sereis bem-aventurados, ditosos, e a vossa alegria contagiará os outros. Perguntar-se-ão qual seja o segredo da vossa vida e descobrirão que a rocha que sustenta todo o edifício e sobre a qual assenta toda a vossa existência é a própria pessoa de Cristo, vosso amigo, irmão e Senhor, o Filho de Deus feito homem, que dá consistência a todo o universo. Ele morreu por nós e ressuscitou para que tivéssemos vida, e agora, junto do trono do Pai, continua vivo e próximo a todos os homens, velando continuamente com amor por cada um de nós.
... Muito obrigado!

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Bento XVI
Discurso na cerimónia de boas-vindas à chegada a Madrid para a JMJ
Aeroporto de Barajas, 18-08-2011...
... Venho aqui para me encontrar com milhares de jovens de todo o mundo, católicos, interessados por Cristo ou à procura da verdade que dê sentido genuíno à sua existência.
Chego como Sucessor de Pedro para confirmar todos na fé ...
Para exortar os jovens a encontrarem-se pessoalmente com Cristo Amigo e assim, radicados na sua Pessoa, converterem-se em seus fiéis seguidores e valorosas testemunhas.
Esta multidão de jovens que veio a Madrid… porque e para que vieram? ... desejam escutar a Palavra de Deus, ..., de tal maneira que, arraigados e edificados em Cristo, manifestem a firmeza da sua fé.
...sabem que, sem Deus, seria difícil afrontar estes desafios e ser verdadeiramente felizes, ... . Mas, com Ele a seu lado, terão luz para caminhar e razões para esperar, ... Não estão sozinhos. ...
Não faltam, certamente, dificuldades. ... . Há muitos que, por causa da sua fé em Cristo, são vítimas de discriminação, que gera o desprezo e a perseguição, aberta ou dissimulada, que sofrem em determinadas regiões e países. Molestam-lhes querendo afastá-los d’Ele, privando-os dos sinais da sua presença na vida pública e silenciando mesmo o seu santo Nome. Mas, eu volto a dizer aos jovens, com todas as forças do meu coração: Que nada e ninguém vos tire a paz; não vos envergonheis do Senhor. Ele fez questão de fazer-se igual a nós e experimentar as nossas angústias para levá-las a Deus, e assim nos salvou.
..., é urgente ajudar os jovens discípulos de Jesus a permanecerem firmes na fé e a assumirem a maravilhosa aventura de anunciá-la e testemunhá-la abertamente com a sua própria vida. Um testemunho corajoso e cheio de amor pelo homem irmão, ao mesmo tempo decidido e prudente, sem ocultar a própria identidade cristã, num clima de respeitosa convivência com outras legítimas opções e exigindo ao mesmo tempo o devido respeito pelas próprias.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Que a minha vida seja espelho da Vossa.
Que, como Vós, saiba acolher o Vosso Filho Jesus,
por Ele me deixe amar,
o ame acima de tudo e de todos,
e o dê a todos os que cruzarem a minha vida.
Que a minha vida,
Mãe Imaculada,
seja espelho da Vossa.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Apotegmas (1)
Assim que te levantes do sono,
em primeiro lugar,
a tua boca renda glória a Deus
e entoe cânticos e salmos;
a primeira preocupação que agarra o espírito ao iniciar o dia,
o espírito a rumina como uma pedra ao longo do dia,
seja grão ou cizânia.
Por isso, sê sempre o primeiro a lançar o grão,
antes que o teu inimigo lance a cizânia.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

PALAVRA DE VIDA
Agosto de 2011
Chiara Lubich
"Eis que eu vim para fazer a tua vontade."
(Hb 10, 9)
Esse é um versículo do Salmo 40, que o autor da Carta aos Hebreus coloca nos lábios do Filho de Deus, em diálogo com o Pai. O autor quer ressaltar, desse modo, o amor com que o Filho de Deus se fez homem para realizar a obra da redenção, em obediência à vontade do Pai.
São palavras que fazem parte de um contexto em que o autor quer demonstrar a infinita superioridade do sacrifício de Jesus em relação aos sacrifícios da antiga Lei. Contrariamente a esses últimos, nos quais se ofereciam a Deus, como vítimas, animais ou outras coisas sempre externas ao homem, Jesus, movido por um imenso amor, ofereceu ao Pai, durante a sua vida terrena, a própria vontade, toda a sua pessoa.
"Eis que eu vim para fazer a tua vontade."
(Hb 10, 9)
Essa Palavra nos oferece a chave de leitura da vida de Jesus, ajudando-nos a captar o seu aspecto mais profundo e o fio de ouro que une todas as etapas de sua vida na terra: a infância, a vida oculta, as tentações, as escolhas, a atividade pública, até chegar à morte na cruz. Em cada instante, em todas as situações, Jesus buscou uma única coisa: cumprir a vontade do Pai; e cumpriu-a de modo radical, não fazendo nada fora dela, e rejeitando até mesmo as propostas mais sugestivas que não estivessem em pleno acordo com aquela vontade.
"Eis que eu vim para fazer a tua vontade."
(Hb 10, 9)
Por essa Palavra, podemos compreender a grande lição para a qual apontava toda a vida de Jesus, ou seja, que a coisa mais importante é fazer não a nossa vontade, mas a do Pai, que é tornarmo-nos capazes de dizer não a nós mesmos para dizer sim a Ele.
O verdadeiro amor a Deus não consiste nas palavras bonitas, nas belas ideias e sentimentos, mas na obediência efetiva aos seus mandamentos. O sacrifício de louvor que Ele espera de nós é a oferta amorosa, feita a Ele, daquilo que temos de mais íntimo, daquilo que mais nos pertence: a nossa vontade.
"Eis que eu vim para fazer a tua vontade."
(Hb 10, 9)
Como poderemos viver, então, a Palavra de Vida deste mês? Também essa é uma das palavras que mais coloca em evidência o aspecto contracorrente do Evangelho, pelo fato de se opor à nossa tendência mais arraigada, que é procurar a nossa vontade, seguir os nossos instintos e os nossos sentimentos.
Essa Palavra é também uma das mais chocantes para o homem moderno. Vivemos na época da exaltação do eu, da autonomia da pessoa, da liberdade como fim em si, da auto-satisfação como realização do indivíduo, do prazer considerado como critério das próprias escolhas e como segredo da felicidade. Mas sabemos também as consequências desastrosas que decorrem desse tipo de cultura.
Pois bem. A essa cultura, baseada na busca da própria vontade, contrapõe-se a de Jesus, totalmente orientada ao cumprimento da vontade de Deus, com os efeitos maravilhosos que Ele nos garante.
Portanto, procuraremos viver a Palavra deste mês escolhendo, também nós, a vontade do Pai, ou seja, fazendo dela, como Jesus fez, a norma e o princípio motor de toda a nossa vida. Assim nos lançaremos numa divina aventura, pela qual seremos eternamente gratos a Deus. Por meio dela nos santificaremos e irradiaremos o amor de Deus em muitos corações.
(esta Palavra de Vida foi publicada em Dezembro de 1991)