terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O seu ao Seu dono…
Devolvamos Jesus ao Natal
“…não havia lugar para Ele na hospedaria…”
(Lc 2, 6). Esta passagem do Evangelho de São Lucas, que escutamos na Missa do Galo, certamente provoca em nós um sentimento de solidariedade, para com a Santa Família de Nazaré e, sentimo-nos escandalizados com a falta de generosidade e hospitalidade, das gentes de Belém, por não acolherem uma jovem em trabalho de parto. E temos muita razão, contudo… infelizmente hoje, em Dezembro de 2010, com outros nomes, com outras caras e cores… a história dos habitantes de Belém, repete-se na nossa terra, na nossa vizinhança, na nossa casa… Jesus vem ao nosso encontro e nós fechamos-lhe as portas da nossa vida, não deixamos que Ele faça parte de nossa existência… As Suas propostas de uma vida mais justa, mais verdadeira, mais solidária, mais santa, não encontram eco em nós. As suas propostas de acolher e amar o outro como a nós mesmos, de o perdoar, de lhe estender a mão, pois “Sempre que fizestes isto a um dos meus irmãos mais pequenos, a mim mesmo o fizestes” (Mt 25, 40), não encontram eco nas nossas vidas. Digam-me lá se isto não é fechar as portas a Jesus, que chega, se isto não é impedi-l’O de fazer parte do nosso quotidiano, da nossa história pessoal?
“Veio ao que era Seu e os Seus não O receberam…” (Jo 1, 11). Não só lhe fechamos a porta, sempre que não escutamos as suas propostas de vida nova, mais feliz, mais autêntica, mais plena…, como nos esforçamos por desalojar Jesus, daquilo que é Seu por direito… É Natal porque Jesus nasceu, e ponto. Luzes, Pais Natais, neve, prendas, renas, bolos-rei, doces, chocolates… E Jesus? Onde está Jesus…? No meu coração, a incredulidade e, depois, quase a rebelião: este mundo rico “apoderou-se” do Natal e de tudo o que o rodeia, e “desalojou” Jesus! Aprecia, do Natal, a poesia, o ambiente, a amizade que suscita, os presentes que sugere, as luzes, as estrelas, os cânticos. Aposta no Natal tendo em mira o maior lucro do ano… Mas não pensa em Jesus” (Chiara Lubich).
Está na hora de dar o seu ao Seu dono. A poesia do Natal, a festa da família, as prendas, etc… devem-se a um Deus que de tal forma nos Ama, com tal entusiasmo, generosidade e paixão, a ponto de se fazer Emanuel, “Deus-Connosco”. Porque nos ama desta forma, quer partilhar a nossa vida, para lhe dar sentido, para a restaurar e encher de esperança, de alegria, de paz…
Devolvamos Jesus ao Natal…
Acolhamo-l’O sempre que cruzar as nossas vidas, vier ao nosso encontro no pobre que nos estende a mão, na pessoa que precisa do nosso perdão, naquele que precisa da nossa companhia para afastar a angústia da solidão, no que implora o nosso sorriso para afastar a nuvem da tristeza ou do isolamento… Nos gritos da Humanidade que sofre, está Jesus, abramos de par em par as portas do nosso coração para o acolher, para o receber… dêmos-lhe lugar…, que Ele faça de nós, verdadeiramente, a morada da Sua predilecção.
Gritemos ao mundo que Ele, Jesus, o Emanuel, o Amor, é o Senhor do Natal… Ele é o segredo, Ele dá sentido às nossas alegrias e tristezas, o seu amor, as suas palavras, curam as feridas do nosso coração, restaura-nos, fazem-nos pessoas melhores…
Gritemos: “o Natal é Jesus, é de Jesus”.
Coloquemo-l’O nas nossas janelas, nos nossos presépios, na celebração da nossa fé - não deixemos passar o Natal sem a Santa Missa -, nos nossos gestos de generosidade verdadeiramente evangélicos…
Que nas nossas casas e nas nossas vidas se grite Quem nasceu: JESUS.
Preparemos-Lhe uma festa sem igual, pois Ele “…é 0 verdadeiro e único tesouro que temos que dar à humanidade” (cf. Bento XVI).

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Mensagem de Natal do Arcebispo de Évora
D. José Francisco Sanches Alves
MANIFESTOU-SE A BONDADE DE DEUS (Tit. 3,4)
A bondade é intrínseca à essência de Deus. Mas como a Deus ninguém jamais o viu, também não poderemos captar a Sua bondade a não ser que Ele no-la manifeste. E foi o que Ele fez. Para nos manifestar a Sua bondade, veio viver para o meio de nós. O Verbo de Deus encarnou no seio da Virgem Maria, fez-se homem para que os humanos pudessem captar a Sua bondade e a forma como Ele a colocou ao nosso alcance e ao nosso serviço.
O Evangelho diz-nos o que fez Deus para que nós pudéssemos captar a Sua bondade: desceu do céu à terra e assumiu a nossa humanidade; apresentou-se revestido de humildade; na sua relação privilegiou os mais carenciados de bens materiais, de saúde e de apoio moral; levou a sua bondade até ao extremo de entregar voluntariamente a própria vida pela salvação da humanidade pecadora.
A manifestação da bondade de Deus não tinha como finalidade única enriquecer a nossa informação, o nosso conhecimento. Ia muito mais além. Deus quis libertar-nos do pecado, elevar-nos até à divindade. Desceu do Céu à terra para que nós fôssemos elevados da terra ao Céu. E mostrou-nos o caminho a percorrer para chegar lá, dando-nos o exemplo de vida e acrescentado: como Eu fiz, fazei vós também (Jo 13,15).
Contemplando Jesus Cristo, imagem da substância de Deus, compreenderemos qual deva ser a nossa atitude de cristãos perante a vida e perante os outros, em todo o tempo e lugar, e, nomeadamente, no contexto actual de crise, que tem vindo a lançar tantos concidadãos e irmãos nossos no desemprego, na pobreza inesperada, no rebaixamento social e moral. Cresce, dia a dia, o número dos que se vêem obrigados a recorrer às instituições de solidariedade e a estender a mão à caridade de pessoas singulares. Aumenta o número dos que vivem isolados, gastos pela idade ou deteriorados pela doença. Há crianças e jovens que padecem graves carências alimentares e afectivas. Centenas de homens e mulheres fazem da rua a sua casa por não possuírem o abrigo de um tecto, onde se possam acolher e descansar.
De todas essas situações se elevam gritos silenciosos, dirigidos ao coração dos seus semelhantes mais afortunados, para que, movidos pela bondade aprendida em Jesus Cristo, venham em seu auxílio. Como as vozes dos que esperavam o Messias, as vozes dos pobres dos nossos dias chegam ao trono de Deus. E agora é a nossa vez de escutar os apelos de quem espera que a bondade de Deus se manifeste por nosso intermédio. Para isso, a exemplo de Cristo, revestidos de humildade e de bondade, devemos ir ao encontro dos que precisam, dispostos a partilhar o que temos e o que somos.
Não tapemos os ouvidos - ouçamos os gritos dos pobres. Não cerremos os olhos - vejamos o que se passa à nossa volta. Não fechemos o coração - deixemo-nos comover pela indigência dos abandonados, dos marginalizados e dos isolados. De braços estendidos e mãos abertas, partilhemos os bens materiais, os afectos e os dons espirituais com que fomos enriquecidos pela bondade de Deus, que se manifestou neste mundo, para a todos enriquecer com os seus bens.
Desejo a todos um Santo Natal de partilha, de bondade e de AMOR.
+José, Arcebispo de Évora
Eis a voz do meu amado! Ele aí vem, transpondo os montes, saltando sobre as colinas. O meu amado é semelhante a uma gazela ou ao filhinho da corça. Ei-lo detrás do nosso muro, a olhar pela janela, a espreitar através das grades. O meu amado ergue a voz e diz-me: «Levanta-te, minha amada, formosa minha, e vem. Já passou o inverno, já se foram e cessaram as chuvas. Desabrocharam as flores sobre a terra; chegou o tempo das canções e já se ouve nos nossos campos a voz da rola. Na figueira começam a brotar os primeiros figos e a vinha em flor exala o seu perfume. Levanta-te, minha amada, formosa minha, e vem. Minha pomba, escondida nas fendas dos rochedos, ao abrigo das encostas escarpadas, mostra-me o teu rosto, deixa-me ouvir a tua voz. A tua voz é suave e o teu rosto é encantador».
(Cant 2, 8-14)

domingo, 19 de dezembro de 2010

REZAR COM OS SALMOS...
Salmo 111 (112)
Sentido Inicial
Este salmo descreve a vida e o modo de agir do homem justo, e a felicidade que daí lhe advém, nos três domínios fundamentais da vida: a posteridade, a riqueza para distribuir pelos pobres, a vitória sobre os inimigos.
Esse homem é fiel a Deus e ama os seus preceitos (1), é generoso (3. 9), usa de misericórdia para com os outros e em tudo procede com justiça (4-5). As bênçãos desta vida enchê-lo-ão de paz: ele e seus filhos serão poderosos (2), terá riquezas (3), viverá em segurança (6-7), será um homem de fé e verá os adversários confundidos (8), e ao partir deste mundo deixará atrás de si memória eterna (6), apesar da inveja e indignação dos ímpios (10).
Sentido actual
A tradição interpretou este salmo como cântico vespertino a Jesus Cristo, 0 Justo segundo o coração de Deus, «que andou de lugar em lugar, fazendo 0 bem» (Act 10, 38), luz nas trevas, misericórdia, compaixão e bondade do Pai, e hino de louvor aos santos que, depois d'Ele, procedem «como filhos da luz, cujo fruto consiste na bondade, na justiça e na verdade» (Ef 5, 8-9).
Rezado na hora em que o sol desaparece, ele evoca a felicidade daqueles que, pela sua comunhão com Cristo, são herdeiros das bênçãos da nova aliança, e lembra a recompensa dos santos e o seu destino glorioso, ideia tradicional do domingo, chamado pelos Padres o oitavo dia, figura da eternidade feliz.
O homem que, pela sua generosidade, imita a generosidade divina, realiza a palavra de Jesus: «Sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste» (Mt 5,48). A ele se refere São Paulo, quando escreve: «Cada um dê como dispôs em seu coração, sem tristeza nem constrangimento, pois Deus ama quem dá com alegria. E Deus tem poder para vos cumular de toda a espécie de graça, para que, tendo sempre e em tudo quanto vos é necessário, ainda vos sobre para as boas obras de todo o género. Como está escrito: "Distribuiu, deu aos pobres; a sua justiça permanece para sempre". Aquele que dá a semente ao semeador e o pão em alimento, também vos dará a semente em abundância e multiplicará os frutos da vossa justiça. Assim, sereis enriquecidos em tudo, para exercer toda a espécie de generosidade que suscitará, por nosso intermédio, a acção de graças a Deus» (2 Cor 9, 7-11).
Salmo 111 (112)
1 Feliz o homem que teme o Senhor *
e ama ardentemente os seus preceitos.
2 A sua descendência será poderosa sobre a terra, *
será abençoada a geração dos justos.
3 Haverá em sua casa abundância e riqueza, *
a sua generosidade permanece para sempre.
4 Brilha aos homens rectos, como luz nas trevas, *
o homem misericordioso, compassivo e justo.
5 Ditoso o homem que se compadece e empresta *
e dispõe das suas coisas com justiça.
6 Este jamais será abalado, *
o justo deixará memória eterna.
7 Ele não receia más notícias, *
seu coração está firme, confiado no Senhor.
8 O seu coração é inabalável, nada teme, *
e verá os adversários confundidos.
9 Reparte com largueza pelos pobres, *
a sua generosidade permanece para sempre e pode levantar a cabeça com altivez.
10 Ao vê-lo, o ímpio fica indignado, *
range os dentes e desfalece: os desejos dos ímpios saem frustrados.
Comentário de Santo Agostinho
«A Igreja é, de maneira mais perfeita, o corpo de Cristo. Aquele que é a sua cabeça subiu ao céu. Ele é por excelência a pedra viva, a pedra angular, da qual Pedro disse: Aproximai-vos d'Ele, pedra viva, rejeitada pelos homens, mas escolhida e preciosa aos olhos de Deus. Também vós, como pedras vivas, entrais na construção de um edifício espiritual, em função de um sacerdócio santo, cujo fim é oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus, por Jesus Cristo.
Aquele que quiser tornar-se uma pedra viva, adaptada a tal edificio, deve compreender espiritualmente como é que o templo se levanta sobre as ruínas do primeiro Adão, e como renasce um povo novo, segundo o homem novo e celeste, já não à imagem do homem terrestre mas d' Aquele que está no céu.
Em Cristo ressuscitado nós podemos, depois das etapas desta vida, após o longo cativeiro do nosso exílio, construir uma morada já não perecível mas solidamente estabelecida, para durar sempre, a Jerusalém espiritual.
Isso faz dizer ao Apóstolo: O templo de Deus é santo, e vós sois esse templo. Entremos, portanto, como uma pedra viva no templo em construção, para escapar a este mundo que cai em ruínas, e fazer parte da cidade santa e definitiva. Então, não apenas a nossa voz mas também a nossa vida cantará o salmo.
O acabamento do edifício será uma paz inefável e a sabedoria que começa pelo temor de Deus. Comece, pois, por este temor, aquele que, pela sua conversão, quer entrar no edifício de Deus: Feliz o homem que teme ao Senhor e ama ardentemente os seus preceitos».
Oração Sálmica
Senhor misericordioso, compassivo e justo, que repartis com largueza pelos pobres, concedi-nos a abundância e a riqueza da vossa casa, para que seja abençoada a geração dos justos e a generosidade do vosso Filho permaneça para sempre. Por Nosso Senhor...
in Saltério Litúrgico,
Secretariado Nacional de Liturgia / G.C. Gráfica de Coimbra Ldª, pgs 715-719

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

“… com ânsia e gemido saído do coração já ferido do Amor de Deus,
começa a invocar o seu Amado e diz:
Aonde te escondeste, Amado,
e me deixaste com gemidos?
Como cervo fugiste, tendo-me ferido,
saí atrás de ti clamando,
e tinhas ido.”
São João da Cruz

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

REZAR COM OS SALMOS...
Sentido Inicial
Este salmo é mais um dos que cantavam os peregrinos que subiam a Jerusalém. Trata-se de uma acção de graças pela libertação de grandes perigos, impossíveis de identificar, mas provavelmente posteriores ao exílio. Seja como for, podemos continuar a rezá-lo em situações semelhantes.
Começa por um condicional irreal: Se o Senhor não estivesse connosco. O povo de Deus, libertado dum grave perigo, descreve o que lhe teria acontecido se Deus o não tivesse ajudado (1-5). Porém, graças à intervenção do Senhor, o perigo passou, pelo que o salmista dá graças a Deus pela libertação e afirma que só no Senhor está a sua protecção (6-8).
Sentido Actual
Esta é a oração dos pobres de Deus que, ao findar de mais um dia, dão graças pela protecção de que se sentiram objecto. Se o Senhor não estivesse connosco, teríamos sido devorados vivos, as águas ter-nos-iam ajogado. Mas Jesus Cristo foi o nosso companheiro de jornada, e porque Ele bebeu da torrente do sofrimento, a nossa vida escapou como um pássaro, quebrou-se a armadilha e nós ficámos livres. O nosso auxílio vem do Senhor. Bendito seja Deus para sempre.
Podemos imaginar Jesus a pronunciar este condicional irreal: Se o Pai não Me tivesse feito ressuscitar, o túmulo ter-me-ia devorado vivo. Podemos imaginar Paulo a dizer: Se eu não tivesse, por Jesus Cristo, vencido a morte, a torrente teria passado sobre mim.
«Nada temas ... , porque Eu estou contigo e ninguém porá as mãos em ti para te fazer mal» (Act 18, 9-10), disse Jesus a Paulo. Ele acreditou e saiu vencedor de todos os perigos: «Cinco vezes fui açoitado, três vezes flagelado, uma vez apedrejado, três vezes naufraguei, e passei uma noite e um dia no alto mar. Viagens a pé sem conta, perigos nos rios, perigos de salteadores, perigos da parte dos meus irmãos de raça, perigos da parte dos pagãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos da parte dos falsos irmãos! Trabalhos e duras fadigas, muitas noites sem dormir, fome e sede, frequentes jejuns, frio e nudez» (2 Cor 11, 24-27). Mas nenhum perigo lhe fez mal. A mão do Senhor protegeu-o. E ele pode dizer com toda a verdade: «Sinto alegria nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições e nas angústias, por Cristo. Pois quando sou fraco, então é que sou forte» (2 Cor 12, 10).
Salmo 123 (124)
1 Se o Senhor não estivesse connosco, *
que o diga Israel,
2 se o Senhor não estivesse connosco, *
os homens que se levantaram contra nós
3 ter-nos-iam devorado vivos, *
no furor da sua ira.
4 As águas ter-nos-iam afogado, *
a torrente teria passado sobre nós;
5 sobre nós teriam passado *
as águas impetuosas.
6 Bendito seja o Senhor, *
que não nos abandonou como presa dos seus dentes.
7 A nossa vida escapou como pássaro *
do laço dos caçadores:
quebrou-se a armadilha *
e nós ficámos livres.
8 A nossa protecção está no nome do Senhor, *
que fez o céu e a terra.
Comentário de Santo Agostinho
«Já sabeis, irmãos caríssimos, que um cântico gradual é o cântico da nossa ascensão, não a montanha, mas no fervor do nosso coração. Quer seja um só que o cante, quer seja cantado por vários, não formam mais que um só homem, reunido em Cristo, de quem todos os cristãos são membros. E que cantam eles? Que cantam os membros de Cristo? Eles amam, e o amor faz cantar, o amor eleva. Às vezes cantam na tribulação, outras vezes na alegria, mas sempre com esperança: a nossa provação é na vida presente, a nossa esperança no mundo futuro. A nossa alegria, irmãos, ainda não nasce da posse, mas da esperança. Porém, a nossa esperança é tão segura que já parece realidade perfeita, porque repousa sobre a promessa d' Aquele que é a verdade, que não pode enganar-Se nem enganar. Estamos cheios de alegria ao cantar este salmo: os membros de Cristo cantam-no na alegria. E quem pode exultar aqui na terra, a não ser em esperança, como dissemos? Seja firme a nossa esperança e esfuziante a nossa alegria. Os que cantam não nos são estranhos, e não podemos dizer que não descobrimos no salmo a nossa própria voz. Escutai o salmo, como se vos ouvísseis a vós mesmos; escutai o salmo, como se vos contemplásseis no espelho das Escrituras. Quando olhas para as Escritura como se fossem um espelho, o teu rosto alegra-se. Ao veres que és semelhante, pela alegria da esperança, a certos membros de Cristo que cantaram este salmo, também tu te encontrarás entre eles, e por tua vez o cantarás. Porque cantam eles na alegria? Porque escaparam ao perigo. A esperança fá-los cantar. Alguns membros do nosso corpo podem cantar este salmo com toda a verdade. São os mártires. Já libertados, alegram-se em Cristo».
Oração Sálmica
Senhor Jesus, que predissestes aos vossos discípulos que seriam odiados por causa do vosso nome, mas que nem um só cabelo da sua cabeça se perderia, concedei-nos na provação da vida a protecção do Espírito Santo e a alegria da sua consolação, para que, livres dos laços do caçador, exaltemos para sempre o vosso nome. Vós que sois Deus com o Pai, na unidade do Espírito Santo. Ámen.
in Saltério Litúrgico,
Secretariado Nacional de Liturgia / G.C. Gráfica de Coimbra Ldª, pgs 556-559

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Ó Jesus, meu Bem-Amado, como é doce amar-te, pertencer-te, ter-te por único Todo! Ah, agora que vens diariamente ao meu coração, que a nossa união seja ainda mais íntima. Que a minha vida seja uma oração contínua, um longo acto de amor. Que nada me possa distrair de ti, nem ruídos, nem distracção, nada, não é? Gostaria tanto, ó meu Mestre, de viver contigo no silêncio. Mas o que acima de tudo mais amo é fazer a tua vontade, e dado que ainda me queres no mundo, submeto-me de todo o meu coração pelo amor de ti. Ofereço-te a cela do meu coração, que seja a tua pequena Betânia; vem aqui repousar-te, amo-te tanto... Queria consolar-te e ofereço-me a ti como vítima, ó Mestre, por ti, contigo. Aceito antecipadamente todos os sacrifícios, todas as provas, mesmo a de já não te sentir comigo. Não te peço senão uma única coisa: que eu seja sempre, sempre, generosa e fiel; mesmo que nunca me corrija. Quero cumprir perfeitamente a tua vontade, responder sempre à tua graça; desejo ser santa contigo e para ti, mas sinto a minha incapacidade, oh! sê a minha santidade. Se alguma vez [me] arrepender, oh! conjuro-te, suplico-te: enquanto eu for ainda tudo para ti, leva-me, faz-me morrer. Sou a tua «pequena mimada», tu mo dizes, mas talvez, em breve, venha a provação e, então, hei-de ser eu a retribuir-te. Mestre, não são estes dons, estas consolações com que me comulas que procuro; és tu, oh! unicamente tu! Ampara-me sempre, toma-me cada vez mais; que tudo em mim te pertença; quebra, arranca tudo o que te desagradar para que eu tudo seja para ti. Oh!, cada batimento do meu coração é um acto de amor. Meu Jesus, meu Deus, como é bom amar-te, ser inteiramente tua!
Beata Isabel da Santíssima Trindade
23 de Janeiro de 1900
(Notas Íntimas)

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Caros irmãos e irmãs!
Hoje o nosso apontamento para a oração do Angelus adquire uma luz especial, no contexto da Solenidade da Imaculada Conceição de Maria. Na Liturgia desta festa é proclamado o Evangelho da Anunciação (Lc 1, 26-38), que contém o diálogo entre o anjo Gabriel e a Virgem. “Alegra-te, cheia de graça: o Senhor é contigo” – diz o mensageiro de Deus, e deste modo revela a identidade mais profunda de Maria, o "nome" por assim dizer, com que o próprio Deus a conhece: "cheia de graça". Esta expressão, que nos é tão familiar desde a infância porque a pronunciamos cada vez que recitamos a "Avé Maria", oferece-nos a explicação do mistério que hoje celebramos. Na verdade Maria, desde o momento em que foi concebida pelos seus pais, foi objecto de uma singular predilecção da parte de Deus, o qual, no Seu desígnio eterno, a predestinou para ser a mãe do Seu Filho feito homem e, em consequência, preservada do pecado original. Por isso o Anjo dirige-se a ela com este nome, que implicitamente significa: "desde sempre cheia do amor de Deus", da sua graça.
O mistério da Imaculada Conceição é fonte de luz interior, de esperança e de conforto. No meio das provas da vida e especialmente das contradições que o homem experimenta dentro de si e à sua volta, Maria, Mãe de Cristo, diz-nos que a Graça é maior que o pecado, que a misericórdia de Deus é mais poderosa que o mal e sabe transforma-lo em bem. Infelizmente diariamente fazemos a experiência do mal, que se manifesta de muitas formas nas relações e nos acontecimentos, que tem a sua raiz no coração do Homem, um coração ferido, doente, e incapaz de se curar sozinho. A Sagrada Escritura revela-nos que na origem de todo o mal está a desobediência à Vontade de Deus, e que a morte tomou o domínio porque a liberdade humana cedeu à tentação do Maligno. Mas Deus não desiste do seu desígnio de amor e de vida: através de um longo e paciente caminho de reconciliação preparou para a aliança nova e eterna, firmada no sangue do seu Filho, que para oferecer-se a si mesmo em expiação "nasceu de uma mulher" (Gl 4, 4). Esta mulher, a Virgem Maria, beneficiou antecipadamente da morte redentora do seu Filho e desde a Concepção foi preservada do contágio da culpa. Por isso, com o seu Coração Imaculado, Ela nos diz: confiai-vos a Jesus, Ele vos salva.
(...)
Bento XVI, Angelus "Praça de São Pedro", 8 de Dezembro de 2010
(tradução do Italiano ao Português da responsabilidade do autor deste blog)

sábado, 4 de dezembro de 2010

REZAR COM OS SALMOS...
Sentido Inicial
Cada versículo desta estrofe do salmo 118 é uma súplica. Os quatro primeiros pedem ao Senhor a sua luz e a sua presença para discernir correctamente o caminho a tomar, e para o seguir fielmente e com alegria: ensinai-me o caminho dos vossos decretos; dai-me entendimento e coração; conduzi-me pela senda dos vossos mandamentos (33-36). Os quatro últimos são sobretudo um pedido de socorro: desviai os meu olhos das vaidades, afastai de mim a afronta que me atemoriza e, por duas vezes, fazei-me viver (37-40).

Sentido Actual
No Pai Nosso, Jesus ensinou-nos a pedir ao Pai: «Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu» (Mt 6, 10). A vontade de Deus é que o homem seja santo e viva. Jesus foi santo e vive para sempre na glória do Pai. Ninguém como Ele colocou toda a sua vida ao serviço da vontade de Deus. O Pai conduziu-O pelo caminho dos mandamentos. Essa graça pede-a agora a Igreja para todos os fiéis e para todos os homens.
Salmo 118 (119), 33-40
33 Ensinai-me, Senhor, o caminho dos vossos decretos, *
para ser fiel até ao fim.
34 Dai-me entendimento para guardar a vossa lei *
e para a cumprir de todo o coração.
35 Conduzi-me pela senda dos vossos mandamentos, *
pois nela estão as minhas delícias.
36 Inclinai o meu coração para as vossas ordens *
e não para o vil interesse.
37 Desviai os meus olhos das vaidades *
e fazei-me viver nos vossos caminhos.
38 Cumpri a promessa feita ao vosso servo, *
destinada aos que Vos temem.
39 Afastai de mim a afronta que me atemoriza, *
pois são agradáveis os vossos juízos.
40 Vede como amo os vossos preceitos, *
fazei-me viver segundo a vossa justiça.
Comentário de Santo Agostinho
«Eis como o salmista quer que o Senhor grave a lei dentro de si, não em tábuas de pedra, como se fez aos rebeldes do Antigo Testamento, mas como se escreve nos corações e se grava pelo Espírito Santo, dedo de Deus, na mente dos filhos santos da Jerusalém do alto, dos filhos da promessa e da herança eterna, não para a guardarem na memória e a descuidarem na vida, mas para a conhecerem entendendo-a e a praticarem amando-a, na amplidão do amor e não na estreiteza do temor.
Quem cumpre a lei por temor e não por amor, sem dúvida que a cumpre obrigado. Aquele que cumpre a lei por ser obrigado, se pudesse não a cumpria, e por isso não é amigo da lei mas antes seu inimigo. Não se purifica ao cumpri-la, porque é impuro no querer».
Oração Sálmica
Ensinai-nos, Senhor, a cumprir de todo o coração a vossa vontade, para desviarmos na terra os olhos das vaidades e contemplarmos no céu as delícias eternas. Por Nosso Senhor...
in Saltério Litúrgico,
Secretariado Nacional de Liturgia / G.C. Gráfica de Coimbra Ldª, pgs 256-258

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Eu também estou a teus pés.
Eu também Te vejo ressuscitado…
E não somente me apareceste,
não somente me deste os teus pés a beijar…
encerraste-me nos teus braços
como a Virgem Santíssima…
E estás sempre aqui, sempre diante de mim.
Oh! Que felicidade!
Jesus, meu amado, estás diante de mim,
ressuscitado… e não morres mais…
Tu, que estás diante de mim,
és feliz para a eternidade…
É tão doce ver-Te! Olhar para Ti!
Minha felicidade é acima de tudo tua:
a felicidade do céu, amar-Te e ver-Te feliz…
Beato Carlos de Jesus (Foucauld),
diante do Sacrário na Páscoa 1898
PALAVRA DE VIDA
DEZEMBRO de 2010
Chiara Lubich
«Nada é impossível a Deus»
(Lc 1, 37)
.
Na Anunciação, Maria pergunta ao Anjo: «Como será isso?» (cf. Lc 1, 34), e ele responde: «Nada é impossível a Deus», dando-lhe como prova o exemplo de Isabel, que concebera um filho na sua velhice. Maria acreditou e tornou-se a Mãe do Senhor.
Deus é omnipotente. Esta Sua qualidade é mencionada em diversas situações, na Sagrada Escritura, quando se quer exprimir a força de Deus: ao abençoar, ao julgar, ao dirigir o curso dos acontecimentos, ao realizar os Seus planos.
Existe um único limite à omnipotência de Deus: é a liberdade humana. Esta pode opor-se à vontade de Deus. Mas, opondo-se a Deus, a pessoa enfraquece espiritualmente, quando, pelo contrário, seria chamada a partilhar a própria força de Deus.
«Nada é impossível a Deus»
(Lc 1, 37)
.
(...) É uma Palavra que nos convida a ter uma confiança ilimitada no amor de Deus-Pai, porque, se Deus é e se o Seu ser é Amor, a confiança plena Nele não é senão uma consequência lógica.
Todas as graças estão em Seu poder: tanto as físicas como as espirituais, as possíveis e as impossíveis. E Deus concede-as tanto a quem as pede como a quem não pede, pois, como diz o Evangelho, Ele, o Pai que está no Céu, «faz com que o Sol se levante sobre os bons e os maus» (cf. Mt 5, 45). Mas Deus pede-nos para agirmos todos como Ele, com o mesmo amor universal, sustentado pela fé de que:
«Nada é impossível a Deus»
(Lc 1, 37)
.
Como viver, então, esta Palavra na vida de todos os dias?
Todos nós temos que enfrentar, de vez em quando, situações difíceis, dolorosas, quer na nossa vida pessoal, quer nos relacionamentos com os outros. E experimentamos, às vezes, toda a nossa fraqueza, porque notamos em nós apegos a coisas e a pessoas que nos tornam escravos, com amarras, de que nos gostaríamos de libertar. Encontramo-nos, muitas vezes, diante de paredes de indiferença e de egoísmo, e sentimo-nos sem coragem perante acontecimentos que não conseguimos compreender.
Pois bem, nesses momentos, a Palavra de Vida pode vir em nosso auxílio. Jesus deixa-nos fazer a experiência da nossa incapacidade, não para nos desencorajar, mas para nos ajudar a compreender melhor que «nada é impossível a Deus». Ele prepara-nos para experimentar a extraordinária força da Sua graça, que se manifesta precisamente quando vemos que, com as nossas pobres forças, não conseguimos resistir.
«Nada é impossível a Deus»
(Lc 1, 37).
Repetindo dentro de nós esta frase nos momentos mais críticos, alcançaremos da Palavra de Deus a energia que ela contém, fazendo-nos participar, de certa forma, da própria omnipotência de Deus. Mas há uma condição: temos que viver a Sua vontade, procurando irradiar à nossa volta o amor que está depositado nos nossos corações. Assim estaremos em sintonia com o Amor omnipotente de Deus pelas suas criaturas, para Quem tudo é possível, contribuindo para realizar os Seus planos sobre os indivíduos e sobre a humanidade.
Mas há um momento especial em que podemos viver esta Palavra e experimentar toda a sua eficácia: é na oração.
Jesus disse que tudo o que pedirmos, em Seu nome, ao Pai, Ele nos concederá. Procuremos, portanto, pedir-Lhe aquilo que considerarmos mais importante, com a certeza da fé de que nada é impossível a Ele: desde a solução de casos desesperados, até à paz no mundo, a cura de doenças graves, e até a resolução de conflitos familiares e sociais.
Além disso, se formos muitos a pedir a mesma coisa, estando em pleno acordo através do amor recíproco, então será o próprio Jesus no meio de nós a pedir ao Pai e, segundo a Sua promessa, seremos atendidos.
Com esta fé na omnipotência de Deus e no seu Amor, também nós pedimos um dia para N. que aquele tumor, detectado numa radiografia, "desaparecesse", ou que fosse um erro ou um fantasma. E assim aconteceu.
Esta confiança ilimitada, que nos faz sentir nos braços de um Pai a Quem tudo é possível, deve acompanhar-nos em todas as vicissitudes da vida. Não quer dizer que vamos obter sempre aquilo que pedirmos. A Sua é a omnipotência de um Pai: Ele usa-a sempre e unicamente para o bem dos seus filhos, mesmo que eles não saibam. O importante é viver cultivando a certeza de que nada é impossível a Deus, e isto vai fazer-nos experimentar uma paz nunca antes sentida.
Palavra de Vida, Dezembro de 1999, publicada em Città Nuova, 1999/22, p. 7

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

"É assim que a vou seduzir:
ao deserto a conduzirei,
para lhe falar ao coração."

(Os 2, 16)
Apliquemo-nos frequentemente à oração, com desejo ardente e verdadeira compunção. Estando ainda na terra, vivamos com o nosso espírito no céu e desejemos apaixonadamente as coisas do Céu e a vida eterna: “Aspirai com ardor aos dons espirituais mais elevados” (1Cor 12, 31).
Devemos ter sempre presente diante dos olhos e em nossos corações a Virgem Imaculada, Rainha e Senhora, que guardava em seu coração todas as coisas (cf. Lc 2, 51), tenhamo-la como vida doçura e esperança dos que peregrinam na terra e modelo a imitar: “inspirar-nos para tudo na Virgem e tudo fazer em união com ela" (venerável madre Maria dos Anjos Sorazu oic).

sábado, 20 de novembro de 2010

"«Santificai o Senhor no vosso coração» (1Ped 3, 15). Mas para isto é necessário pôr em prática esta outra palavra de São João Baptista: «É preciso que Ele cresça e que eu diminua» (Jo 3, 30). ... façamo-lo crescer em nossas almas, guardêmo-lo só e separado; que seja, de verdade, Rei. E nós, desapareçamos, esqueçâmo-nos, sejamos exclusivamente o «louvor da sua glória» (Ef 1, 12)".
Beata Isabel da Santíssima Trindade
(C 220 - carta à senhora Angles de 5 de Janeiro de 1905)

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

SIM, POSSO SER SANTO...
Se me dizem para ser um atleta "topo de gama",
só posso responder: não posso.
Simplesmente, não posso,
pois a minha compleição física não me o permite.
Se me dizem para ser um cientista ou investigador
que coloca a inteligência e saber
na procura de soluções para os problema e dores da Humanidade,
só posso responder: não posso.
Simplesmente, não posso,
pois a minha capacidade intelectual não me o permite.
Se me dizem para ser um artista, um escritor, um intelectual...
só posso responder: não posso.
Simplesmente, não posso,
pois a minha capacidade não me o permite.
Se me dizem para ser SANTO...
Sim, sim, sim, posso.
Posso, pois Deus criou-me à Sua imagem e semelhança (cf. Gn 1, 26)
e Ele é o Deus Santo (cf. 1Pe 1, 16; Lv 11, 44)...
Sim posso... sim, quero... pois Ele plantou em mim
uma capacidade infinita de amar...
Sim, posso... sim, quero...
é que "ser santo" não é nada de extraordinário...
O extraordinário da santidade está em viver
com entusiasmo, generosidade, confiança,
perseverança, descrição e alegria
o ordinário do dia-a-dia.
Sim posso... Sim, quero... pois posso amar.
Posso amar ao jeito de Jesus,
como Jesus me amou e me ensinou a amar.
Sim, posso... sim, quero... sim, preciso ser Santo.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A BELEZA DO HUMANO

Estreou ontem, nas salas de cinema, um filme extraordinário de Xavier Beauvois, sobre os monges cistercenses de Thibirine que, em 1996, foram mortos por fundamentalistas argelinos.O filme começa por mostrar a vida do mosteiro, perdido naquela longínqua aldeia do Atlas, e a profunda ligação que aqueles monges tinham com a população, que se manifestava em fortes laços de amizade.
Os monges levavam uma vida simples, com estudo, trabalho manual para garantir a sua sobrevivência, e muita oração. Quando estala a violência, contra cristãos estrangeiros, surge a questão: partir ou ficar.
O mais fascinante deste filme é ver como os monges franceses eram homens normais, frágeis como nós: claro que tinham medo e, numa primeira fase, queriam sair dali. Mas o superior da comunidade pediu-lhes tempo para reflectir e o resultado é um fascinante percurso de crescimento interior e humano que cada um desses homens cumpre, reforçado com a oração e o canto litúrgico. Humanamente, têm medo, mas tomam uma opção de amor e cada um decide ficar, sabendo que vai morrer.
O que fascina é que, apesar da debilidade que tinham, tomaram a sua vida a sério e arriscaram amar até ao fim.
O filme não exalta o martírio nem cai na mística publicitária da morte bela. Nada disso. O que brota deste magnífico filme é a beleza do humano, sempre que a vida é vivida como dom.

(Fonte: site Rádio Renascença)

Jesus Cristo, Bom Pastor
que dás a vida pelas Tuas ovelhas.
Tu és o Filho muito amado do Pai,
Tu és o nosso Mestre e Salvador.
Faz dos nossos seminários
Comunidades de discípulos,
Sementeiras de Amor, de serviço
e de entrega radical pelo Teu Reino;
sinais de esperança de um futuro de vida verdadeira,
em abundância para todos.
Fortalece e ilumina no discernimento vocacional
os nossos seminaristas;
confirma nos dons do Espírito Santo
os seus formadores;
enche de generosidade e espírito de serviço
os auxiliares que com eles trabalham.
Recompensa e abençoa os benfeitores,
que com a oração e partilha de bens,
zelam pela missão;
ampara o nosso Bispo e os nossos párocos,
para que sejam sempre fiéis ao dom do seu sacerdócio;
desperta a generosidade e a coragem dos nossos jovens
para Te seguirem
e concede às nossas famílias
o dom de Te proporem
como caminho, verdade e vida...
Nós Te pedimos
por intercessão de Nossa Senhora, Tua e nossa Mãe.
Ámen.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Dos Homens e dos Deuses
Chega aos cinemas portugueses, neste dia 11 de Novembro,
o filme reconhecido com o Grande Prémio do Festival de Cannes
Em 1996, sete monges da Ordem Cisterciense da Estrita Observância são raptados e assassinados em Tibhirine, aldeia aninhada na região argelina do Magrebe. É o culminar da escalada de violência que opõe o Grupo Islâmico Armado (GIA), extremista, ao governo que acusa de corrupto.
O impacto deste horrível desaparecimento, cujos contornos exactos estão ainda por esclarecer, estende-se até aos nossos dias, levado agora ao cinema sob direcção do realizador francês Xavier Beauvois.
A obra, reconhecida com o Grande Prémio do Festival de Cannes e merecedora da forte e comovida chuva de aplausos que encheram o Palais des Festivals na noite do passado 23 de Maio, é uma extraordinária ode à fé, ao amor ao próximo e ao espírito de serviço que cumpre, em estilo e estrutura narrativa, o despojamento do seu sujeito.
Com efeito, é-nos dado comungar a forma abnegada como uma comunidade de homens lida com uma realidade adversa para a qual não contribui senão com a sua vocação de amor e dádiva. Uma vocação reafirmada ao arrepio das pressões externas para abandonarem a aldeia que servem à sua sorte.
Sem ceder a tentações sensacionalistas, Beauvois desvenda aos nossos olhos o dia-a-dia daquele pequeno mosteiro de Tibhirine, dos seus sete habitantes e da pacata população da aldeia local, induzindo progressivamente o adensar do contexto violento que involuntariamente envolve uns e outros.
Simples e acessível, a linguagem fílmica pretere o horror dos acontecimentos, trágicos, e da crescente violência, ao espírito com que aquela irmandade os enfrenta. Um espírito sustentado na sua extraordinária força e revitalizado na dúvida e fraqueza pela oração, pelo permanente desejo de união e comunhão, pelo tempo e oportunidade concedidos ao discernimento.
Mais que um nefasto episódio da história política ou religiosa, estamos perante uma obra que nos propõe um caminho, pela busca do verdadeiro sentido da vida: o que os sete monges sacrificados, na sua fé cristã, encontraram, e que Xavier Beauvois tão bem percorre, alumiando-o para crentes e não crentes.
Margarida Ataíde
(Fonte: Agência Ecclesia)


O Sacerdote “HOMEM DE ORAÇÃO”
Carta do Papa Bento XVI aos Seminaristas (18 de Outubro de 2010), 1
“Quando o Senhor fala de «orar sempre», naturalmente não pede para estarmos continuamente a rezar por palavras, mas para conservarmos sempre o contacto interior com Deus. Exercitar-se neste contacto é o sentido da nossa oração. Por isso, é importante que o dia comece e acabe com a oração; que escutemos Deus na leitura da Sagrada Escritura; que Lhe digamos os nossos desejos e as nossas esperanças, as nossas alegrias e sofrimentos, os nossos erros e o nosso agradecimento por cada coisa bela e boa, e que deste modo sempre O tenhamos diante dos nossos olhos como ponto de referência da nossa vida. Assim tornamo-nos sensíveis aos nossos erros e aprendemos a trabalhar para nos melhorarmos; mas tornamo-nos sensíveis também a tudo o que de belo e bom recebemos habitualmente cada dia, e assim cresce a gratidão. E, com a gratidão, cresce a alegria pelo facto de que Deus está perto de nós e podemos servi-Lo.”

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O Sacerdote “HOMEM DE DEUS”
Carta do Papa Bento XVI aos Seminaristas (18 de Outubro de 2010), 1
“Quem quer tornar-se sacerdote, deve ser sobretudo um «homem de Deus» … Deus mostrou-Se em Jesus Cristo. No rosto de Jesus Cristo, vemos o rosto de Deus. Nas suas palavras, ouvimos o próprio Deus a falar connosco. Por isso, o elemento mais importante no caminho para o sacerdócio e ao longo de toda a vida sacerdotal é a relação pessoal com Deus em Jesus Cristo. O sacerdote não é o administrador de uma associação qualquer, cujo número de membros se procura manter e aumentar. É o mensageiro de Deus no meio dos homens; quer conduzir a Deus, e assim fazer crescer também a verdadeira comunhão dos homens entre si.”

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

PALAVRA DE VIDA
NOVEMBRO de 2010
Chiara Lubich
«É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha,
do que um rico entrar no Reino do Céu»
(Mt 19, 24).

(…)
Faz-nos impressão ouvir esta frase? Penso que temos razão em ficar admirados e talvez em pensar naquilo que deveríamos fazer. Jesus nunca disse nada só por dizer. Por isso, é preciso levarmos estas palavras a sério, sem pretender diluí-las.
Mas procuremos compreender o seu verdadeiro sentido a partir do próprio Jesus, pelo modo como Ele se comportava com os ricos. Ele visitava também pessoas abastadas. A Zaqueu, que deu só metade dos seus bens, Jesus disse: a salvação entrou nesta casa.
Além disso, os Actos dos Apóstolos testemunham que, na Igreja primitiva, a comunhão dos bens era livre e, portanto, não se exigia a renúncia concreta a tudo o que se possuía.
Jesus não tinha, pois, a intenção de fundar apenas uma comunidade de pessoas chamadas a segui-Lo (…), que deixassem de lado todas as riquezas. No entanto, diz:
«É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha,
do que um rico entrar no Reino do Céu»
(Mt 19, 24).

Então o que é que Jesus condena? Não condena, com certeza, os bens da Terra em si, mas sim o rico que está apegado aos bens.
E porquê?
É claro: porque tudo pertence a Deus! E o rico, pelo contrário, comporta-se como se as riquezas fossem suas.
A verdade é que as riquezas ocupam, facilmente, o lugar de Deus no coração humano. Elas cegam e predispõem a pessoa para todos os vícios. Paulo, o Apóstolo, escreveu: «Os que querem enriquecer caem na tentação, na armadilha e em múltiplos desejos insensatos e nocivos que precipitam os homens na ruína e na perdição. Porque a raiz de todos os males é a ganância do dinheiro. Arrastados por ele, muitos se desviaram da fé e se enredaram em muitas aflições» (1 Tm 6, 9-10).
Já Platão tinha afirmado: «É impossível que um homem extraordinariamente bom seja ao mesmo tempo extraordinariamente rico».
Qual deve ser, então, a atitude de quem possuir bens? É preciso que tenha o coração livre, totalmente aberto a Deus, que se sinta unicamente administrador dos seus bens e saiba, como disse João Paulo II, que sobre eles paira uma hipoteca social.
Os bens desta Terra, não sendo um mal em si, não devem ser desprezados. Mas é preciso usá-los bem. Não são as mãos, mas sim o coração é que deve estar longe deles. Trata-se de os saber utilizar para o bem dos outros. Quem for rico, seja-o para os outros.
«É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha,
do que um rico entrar no Reino do Céu»
(Mt 19, 24).
Mas cada um pode dizer: eu, realmente, não sou nada rico e, por isso, estas palavras não me dizem respeito.
Prestem atenção. A pergunta que os discípulos, estupefactos, fizeram a Cristo, logo a seguir a esta Sua afirmação, foi: «Então, quem pode salvar-se?» (Mt 19, 25). Ela mostra claramente que estas palavras se dirigiam um pouco a todos.
Mesmo os que deixaram tudo para seguir Cristo podem ter o coração apegado a mil e uma coisas. Até um pobre, que blasfema porque lhe tocaram na sacola, pode ser um rico diante de Deus.
(…)
Palavra de Vida, Julho de 1979, publicada integralmente em Essere la Tua Parola. Chiara Lubich e cristiani di tutto il mondo, vol. II, Città Nuova, Roma 1982, pp. 41-43.

domingo, 31 de outubro de 2010

... a Eucaristia... o Coração do Domingo...
“…a participação na Eucaristia seja verdadeiramente, para cada baptizado, o coração do domingo: um compromisso irrenunciável, abraçado não só para obedecer a um preceito mas como necessidade para uma vida cristã verdadeiramente consciente e coerente. … . Em muitas regiões, os cristãos são - ou vão-se tornando - um «pequenino rebanho» (Lc 12,32). Isto coloca-os perante o desafio de testemunharem com mais força, muitas vezes em condições de solidão e hostilidade, os aspectos específicos que os identificam. Um deles é a obrigação de participar todos os domingos na celebração eucarística”.
João Paulo II, Carta Apostólica «Novo Millenio Ineunte», 36

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Beata Chiara "Luce" Badano
«
...uma explosão de luz divina»
memória litúrgica: 29 de Outubro
(*29 de Outubro de 1971 – +7 de Outubro de 1990)
Não poderia existir lugar mais adequado para a beatificação de Chiara Badano que o Santuário do Divino Amor, aquele amor divino, que arrebatou totalmente o seu coração tão jovem e amante da vida. Todo santuário mariano é a casa de Maria, e Chiara – como todos nós – se sente bem na casa da Mãe celeste. Todo santuário mariano é também uma espécie de antecâmara do céu, pois abre a mente e o coração para o encontro com Jesus, com Maria, a mãe do Divino Amor, e com todos os anjos e santos do céu. Lembremo-nos de que a nossa Beata expirou justamente no dia da festa de Nossa Senhora do Rosário, dia 7 de outubro de 1990, sussurrando à sua mãe terrena: “Adeus, esteja feliz, porque eu o sou”.
No Paraíso, a casa de Deus Amor, a Bem-aventurada Virgem Maria esperava de braços abertos esta sua filha dilecta, que tanto amava o seu Jesus e que tanto tinha sofrido em união com o Crucificado Abandonado. Maria a apertou fortemente contra o seu peito materno. Era mesmo este o desejo de Chiara: “Quando morrer, não sofrerei mais, irei para o céu e verei Jesus e Nossa Senhora”
No paraíso, também Jesus, o esposo celeste de Chiara, a saudou com as palavras de amor do Cântico dos Cânticos: “Fala o meu amado e me diz: "Levanta-te minha amada, formosa minha e vem a mim! Vê o inverno: já passou! Olha a chuva: já se foi! As flores florescem na terra, o tempo da poda vem vindo, e o canto da rola está se ouvindo em nosso campo. Despontam figos na figueira e a vinha florida exala perfume. Levanta-te, minha amada, formosa minha, vem a mim! Pomba minha, que se aninha nos vãos do rochedo, pela fenda dos barrancos... Deixa-me ver tua face, deixa-me ouvir tua voz, pois tua face é tão formosa e tão doce a tua voz!”
... Chiara, jovem de coração cristalino como a água da nascente, que encontra refúgio e consolação em Deus: “Digo a Deus: "Sois o meu Senhor, fora de vós não há felicidade para mim. Senhor, vós sois a minha parte de herança e meu cálice; vós tendes nas mãos o meu destino. Ponho sempre o Senhor diante dos olhos, pois ele está à minha direita; não vacilarei. Por isso meu coração se alegra e minha alma exulta, até meu corpo descansará seguro, porque vós não abandonareis minha alma na habitação dos mortos”. (Sal.16,2-1.5.8-10). Chiara via Deus e o mostrava nesta terra, mediante a caridade que ela tinha para com o próximo: “Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo o que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor [...].. Ninguém jamais viu a Deus. Se nos amarmos mutuamente, Deus permanece em nós e o seu amor em nós é perfeito". (1 Jo. 4,7.12). Chiara viveu ao pé da letra a palavra que Jesus nos dirigiu no Evangelho de hoje: “Permanecei no meu amor [...]. Disse-vos essas coisas para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja completa”. (Jo. 15,-9.11). Os dias da existência terrena de Chiara foram dias de caridade distribuída com mãos abertas. A vida que humanamente foi uma dolorosa subida ao Calvário, pela sua grande caridade se tornou uma luminosa transfiguração como num Tabor. Ela mudou a dor em alegria, as trevas em luz, dando significado e sabor também ao sofrimento do seu corpo débil. Na doença, ela se revelou uma mulher forte e sapiente: “Vós sois o sal da terra e a luz do mundo”. (Mt. 5, 13.14).
...
O vestido nupcial, com o qual Chiara foi ao encontro do Senhor Jesus, estava enriquecido pelos sete diamantes da espiritualidade cristã e focolarina: Deus Amor; fazer a vontade de Deus; Palavra de Vida vivida; amor para com o próximo; amor recíproco que realiza a unidade; presença de Jesus na unidade. Mas há um sétimo diamante, o mais precioso, que brilha mais do que os outros, é o amor a Jesus Crucificado e Abandonado. Este – afirma Chiara Lubich, a fundadora do Movimento dos Focolares – é o ponto principal que resume a espiritualidade focolarina e que a nossa Bem-aventurada interpretou da melhor maneira. O Amor a Jesus Abandonado lhe infundiu a energia espiritual, a graça capaz de suportar toda a adversidade. Adoecendo aos 16 anos com um osteossarcoma, aceitou a cruz com sofrimento, mas com serena fortaleza. “Não tenho mais as pernas e gostaria muito de andar de bicicleta, mas o Senhor me deu asas". Sofria, mas a alma cantava. Rejeitou a morfina porque – dizia – “me tira a lucidez e eu posso oferecer a Jesus somente a minha dor”. No final de Dezembro de 1989, quando a doença a estava devorando, Chiara Lubich lhe deu a Palavra de Vida: “Quem permanece em mim e eu nele, dará muito fruto". (Jo. 15,5). No dia 26 de Julho do mesmo ano, a Lubich lhe deu um nome novo, "Luce". Nome certíssimo porque Chiara era uma explosão de luz divina, que surpreendia todos, jovens e adultos. Dizia com frequência: “Jesus é para se amar e basta”. E desde pequena, foi muito generosa no corresponder ao ideal de amor de Deus e do próximo.
As manifestações desta caridade são múltiplas. Irmã Bonária conta que Chiara durante o período da escola primária dava a sua merenda a uma colega pobre. Quando Chiara contou isso à mãe, ela acrescentava todo dia duas merendas. Ainda assim Chiara continuou distribuindo para as crianças pobres, porque nelas via Jesus.
Em Sassello vivia um rapaz, [Cesare Merialdo, já falecido], um pouco doente, que dizia coisas sem nexo, fora do lugar. Quando estava na Igreja, cantava em voz alta, desafiando muito e perturbando todos. As pessoas o marginalizavam. Um dia, na Missa da tarde, Cesare estava no banco na frente da mãe de Chiara. De repente se virou e lhe pediu que se sentasse ao seu lado. Mas a mãe não se mexeu. Voltando para casa, a senhora contou o episódio à filha. Chiara ficou séria e perguntou: “Você não se mexeu? Jesus estava no Cesare”. A mãe tranquilizou a filha: logo em seguida tinha ido se sentar ao lado de Cesare. Este rapaz, quando soube da morte de Chiara, visitou o corpo, tirou o chapéu, lhe beijou os pés e sozinho rezou o terço.
Com apenas onze anos, toma a decisão de “amar quem me for antipático”. Quando convidava alguém para almoçar dizia a mãe que colocasse a toalha melhor, “porque hoje Jesus vem nos visitar”.
Na cidade havia um certa senhora Maria, uma mulher marginalizada, não considerada por ninguém e nunca ia à Igreja. Chiara, a encontrava muitas vezes pela rua, a ajudava a levar os objectos pesados e a chamava "senhora" Maria. Quando Maria soube da morte de Chiara, quis ir à igreja. Se vestiu bem, assistiu a Missa e deu como oferta ‘cinquenta mil liras’, muito para a época.
Um dia uma amiga perguntou a Chiara: "Com os amigos no café, acontece que você fale de Jesus, que procure passar algo de Deus?‟. “Não, não falo de Deus”. "Porque deixa escapar as ocasiões?" E ela: “O mais importante não é falar de Deus. Eu o devo dar”.
Com os seus actos de caridade Chiara mostrava e dava Deus. Com os seus actos de amor a nossa Bem-aventurada encheu a mala para a sua Santa Viagem. O amor a Jesus é vivido por ela quotidianamente em muitos episódios de caridade. Não são propósitos feitos no ar, mas factos concretos. A Gianfranco Piccardo, voluntário que ia escavar trinta poços de água potável no Benin, entregou a sua poupança, "um milhão e trezentas mil liras", presente recebido no seu último aniversário, dizendo: "Não me servem, tenho tudo".
No dia de São Valentino em 1990, Chiara, já quase sempre acamada, desejou que a mãe e o pai saíssem naquela noite para jantar. A mãe encontrou a desculpa de que já não dava tempo para reservar um lugar. Chiara pegou na lista telefónica e depois de algumas tentativas, conseguiu reservar um lugar para eles num restaurante de Albissola Marina. Antes que saíssem fez estas recomendações: "Olhem-se nos olhos e não voltem antes de meia-noite". Pouco antes havia dito à mãe: "Lembre-se, mamã, que antes de mim existia papá". Chiara estava treinando os pais para ficarem sozinhos, sem ela.
Todos os que a visitavam pensavam em lhe levar afecto e consolação, mas na realidade eram eles a receber conforto e encorajamento. Durante a doença doava Jesus, não fazendo pregações, mas difundindo alegria e esperança de vida eterna. O seu apostolado era unir harmoniosamente este vale de lágrimas com a Jerusalém celeste. Uma enfermeira conta que, quando chegava uma visita, pedia que pessoa aguardasse o fim do tratamento. Quando se lhe fazia notar que depois estaria muito cansada, Chiara respondia: “Não faz mal, lá fora, é Jesus quem está esperando”.
O encontro com Chiara – chega a dizer uma testemunha – dava a “sensação de que se encontrava Deus”.
Esta jovem, de aparência frágil, na realidade era uma mulher forte. Mesmo no leito de morte fez um último dom, o das córneas ainda transplantáveis, porque não atingidas pelo mal. Foram transplantadas em dois jovens que hoje vêem graças a ela.
Uma testemunha, Ivana Pianta, lembra que Chiara, aos treze anos, fazia parte das gen 3 da Ligúria, e pela sua coerência de vida era por vezes criticada pelas amigas e até mesmo por algum sacerdote. Na pequena cidade onde morava era ridicularizada, porque era uma gen, porque ia à Missa também durante a semana, participava com atenção da aula de religião, procurava amar a todos os professores, mesmo os mais difíceis, era muito disponível para ajudar a todos. Por isso as suas amigas – e as crianças por vezes sabem ser ruinzinhas - chamavam-lhe "freira". Isso a fazia sofrer muito, mas na Mariápolis encontrava a resposta Nele, em Jesus Abandonado.
O coração de Chiara encerrava um amor grande como um oceano. Mesmo doente dizia: “Agora não tenho mais nada sadio. Porém, tenho ainda o coração com o qual posso sempre amar".
Amava o próximo, amava a Igreja, amava o Papa. Um dia, sua mãe foi à escola onde a filha estudava para conversar com uma professora que, assim que a viu, exclamou: “Na vida, a sua filha será juiz ou advogado”. De regresso a casa, a mãe pediu uma explicação sobre isso. Chiara então lhe explicou que uma professora, que não acreditava em Deus, fala mal do Papa, criticando-o pelas suas inúmeras viagens: “Eu me levantei e lhe disse: "Não concordo com o que a senhora disse‟. E acrescentei que o Papa viaja unicamente para evangelizar o mundo”.
Chiara, como Moisés, estava chegando ao fim da sua santa viagem, tinha alcançado o alto da montanha santa mais elevada, frente a frente com Deus Trindade. Dali irradiava luz e alegria, voltando a entregar ao seu próximo as tábuas da lei, como dez divinas palavras de amor, e as bem-aventuranças de Jesus, para orientar a vida terrena em direcção ao sol de Deus.
Não comum, extraordinário, incrível são adjectivos usados pelos médicos que a seguiam para descrever a serenidade e a fortaleza de Chiara diante da doença mortal. É verdade. A sua atitude não era normal, porque completamente sobrenatural, fruto da graça divina, da fé infinita e do heroísmo cheio de virtude. Ela falava do vestido de noiva para o seu funeral, como faria uma jovem que se prepara para o matrimónio. Dizia: “eu não choro, porque estou feliz”. Dizia à mãe: “quando me quiser encontrar, olhe para o céu, me encontrará numa estrelinha”.
Chiara Lubich, explicando o nome Luce, que havia dado a Chiara, escreveu que, olhando para uma fotografia dela, a jovem “não tinha os olhos da alegria simples e sim algo a mais, direi que a luz do Espírito”. Diante desta jovem, a Igreja agradece Deus Trindade pela sua vida de caridade e bondade. Chiara Badano, jovem moderna, desportista, positiva, transmite-nos uma mensagem de optimismo e de esperança. Também hoje, o breve período da juventude, pode ser vivido na santidade. Também hoje existem jovens íntegros, que na família, na escola, na sociedade não desperdiçam a própria vida. A Bem-aventurada Chiara Badano é uma missionária de Jesus, uma apóstola do Evangelho como boa nova para um mundo rico de comodidades, mas muitas vezes doente de tristeza e de infelicidade. Ela nos convida a reencontrarmos a frescura e o entusiasmo da fé. O convite é dirigido a todos: antes de tudo aos jovens, mas também aos adultos, aos consagrados, aos sacerdotes. A todos é dada a graça suficiente para se fazerem santos. Respondamos com alegria a este convite de santidade e agradeçamos ao Santo Padre Bento XVI pelo dom da Beatificação da nossa Chiara Luce. Trata-se de um sinal concreto da confiança e da estima que o Papa tem nos jovens, em quem vê o semblante jovem e santo da Igreja.

D. Ângelo Amato, SDB, Homilia na Beatificação de Chiara Luce Badano (25 de Setembro de 2010)