quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Mensagem de Natal
do Arcebispo de Évora

Manifestou-se a graça de Deus
A iluminação dos espaços públicos, os insistentes anúncios publicitários e a agitação febril das compras anunciam a todos com repetida insistência que se aproxima o Natal.
Para os cristãos a festa do Natal tem a dupla finalidade de comemorar a manifestação da graça de Deus em Belém, com o nascimento de Jesus, e de tornar presente a poder salvífica dessa manifestação que continua a actuar na nossa sociedade. Ao celebrar o Natal, comemoramos o passado e podemos vivenciar com intensidade a presença espiritual do mesmo Salvador, no meio de nós.
Os evangelistas que relatam o nascimento de Jesus acentuam dois aspectos diferentes. Por um lado, documentam a historicidade dos factos e as condições de simplicidade e pobreza em que tudo aconteceu. Tudo foi muito humilde e sem qualquer espécie de notoriedade. O nascimento de Jesus passou despercebido à grande maioria da população. Por outro lado, dão relevo a pormenores de grande importância messiânica e salvífica dos quais apenas alguns pastores de Belém e uns magos vindos do Oriente tiveram conhecimento, através de fenómenos celestes extraordinários. A eles foi revelada a divindade de Jesus, o Salvador prometido. Com Maria e José, foram eles os primeiros a quem se manifestou da graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens (Tito 2,11).
Como em Belém, também hoje o nascimento de Jesus passa despercebido para muitas pessoas que não se dão conta de tão sublime manifestação da graça de Deus. Porém, outros há que, iluminados não com a luz das estrelas mas com a luz da fé, se sentem inundados com a fulgurante manifestação dessa graça. Como os pastores e os magos, reconhecem a presença do Salvador disfarçada na humanidade sofredora dos pobres do nosso tempo e acorrem pressurosos a exprimir o seu agradecimento sincero com donativos.
Com efeito, os tradicionais presentes de Natal, causadores de tanta agitação e de tão elevadas despesas, nesta quadra natalícia, evocam os presentes que os pastores e os magos deram ao menino Jesus. Porém, forçoso é reconhecer que a habitual troca de prendas poder ser destituída da autêntica gratuidade na medida em que for contaminada pelo espírito de consumismo e de interesse comercial que domina as relações interpessoais nos nossos dias.
Ora, tal como a manifestação da graça se tornou gratuitamente fonte de salvação para todos, apesar pecadores, como nos ensina a carta a Tito, assim também na festa do Natal todos somos convidados a exprimir gratuidade para com os nossos concidadãos mais carenciados. E são tantos os que lutam com dificuldades económicas e de outra ordem, nos nossos dias e no nosso meio. Além dos problemas económicos, a nossa sociedade está marcada pela solidão, pela marginalização, pelas doenças crónicas e incuráveis, pela orfandade, pelo abandono de crianças e tantas outras situações de precariedade e de miséria moral e material. A todos eles se referia Jesus ao dizer o que fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos a Mim o fizestes (Mt 25,40). Com efeito, se reconhecemos em Jesus o Salvador e acreditamos nas Suas palavras, então temos muitas formas de nos encontrarmos com Ele e de Lhe oferecermos os nossos presentes, com o mesmo espírito de alegria e de gratidão dos pastores e dos magos.
Os magos que vieram do Oriente eram pagãos e ricos. Ofereceram ouro, incenso e mirra. Os pastores pertenciam ao povo de Israel e eram pobres. Ofereceram os dons da sua pobreza. Uns e outros se sentiram gratuitamente agraciados com os bens celestes da graça de Deus. E todos corresponderam com o que tinham ao seu alcance.
Esses factos sugerem-nos que ninguém fica excluído da salvação trazida por Jesus Cristo. E, por isso, todos nós, seja qual for a nossa condição, em troca dos dons sublimes que nos foram dados por Deus, devemos oferecer também algo do que possuímos. E todos temos muito para oferecer. Tal como a maior pobreza não é a falta de bens materiais mas a falta de amor, também o maior dom não são os presentes materiais mas o amor sincero e gratuito. Amor é o que todos podemos dar sem custos económicos e é o que mais falta faz na nossa sociedade, envenenada pela frieza das relações interpessoais e carecida do calor vivificante que só o amor lhe pode dar.
Termino com um convite: imitemos os pastores e os magos, oferecendo com generosidade algo do que nos foi dado. E, com alegria contagiante, digamos a todos: manifestou-se a graça de Deus, que é fonte de salvação para todos os homens.
Desejo a todos um Natal rico de amor!
Évora, 16 de Dezembro de 2009
+ José, Arcebispo de Évora

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Fazer “ver” Cristo
Sabemos que muitos dos nossos contemporâneos dizem: «Cristo, sim; Igreja, não». Não vêem ligação entre Cristo e a Igreja. Não se apercebem da Sua presença nela. Mas o que é, que coisa quererá ser a Igreja, senão aquela que mostra o rosto do Senhor no meio do mundo? Pensemos no Cura de Ars, pastor humilde e simplicíssimo. Chamado dar testemunho acerca dele, um camponês disse: «Vi Deus num homem». Pensemos em Madre Teresa de Calcutá, na inumerável multidão que no seu funeral seguia o seu corpo. Cristãos, hindus e muçulmanos, todos tinham notado nela o fascínio de Jesus.
São muito preciosas estas testemunhas da presença de Cristo. E devemos agradecê-las ao Senhor.
Mas no nosso tempo, tão complexo e tão necessitado de salvação, urge que em toda a Igreja se veja Cristo, que toda ela irradie a Sua presença.
Card. François-Xavier Van Thuan

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

"... para a alma acertar no caminho para Deus e se unir com Ele, há-de ter a boca da vontade aberta só para Deus, vazia e sem nenhum pedaço de apetite, a fim de que Deus a encha e farte do seu amor e doçura; há-de viver com fome e sede só de Deus, sem querer satisfazer-se com mais nada, ... É o que ensina Isaías quando diz: Todos vós que tendes sede, vinde às águas, etc. (Is 55, 1). Ele convida os que têm sede só de Deus, e o apetite de nada, à abundância das águas vivas da união com Deus".
São João da Cruz
(carta "A um Religioso Carmelita Descalço")
São João da Cruz, "Obras Completas",
Edições Carmelo, Marco de Canaveses, 2005, pg. 846.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

…Continuei a ler, sem desanimar e esta frase reconfortou-me: “Aspirai aos dons mais elevados, e ainda, vou mostrar um caminho que ultrapassa tudo.” E o Apóstolo vai explicando como os carismas melhores nada são sem o amor… E que a caridade é esse caminho que ultrapassa tudo e que conduz a Deus com total segurança Podia, finalmente, descansar… Ao olhar o corpo místico da Igreja, eu não me tinha reconhecido em nenhum dos membros descritos por S. Paulo; ou melhor, queria reconhecer-me em todos eles… O amor deu-me a chave da minha vocação. Compreendi que se a Igreja tinha um Corpo composto por diferentes membros, não podia faltar-lhe o mais necessário, o mais nobre de todos eles. Compreendi que a Igreja tinha um coração e que esse coração estava ardendo de Amor. Compreendi que só o Amor podia fazer actuar os membros da Igreja; que se o Amor se apagasse, os apóstolos já não anunciariam o Evangelho e os mártires se negariam a derramar o seu sangue… Compreendi que o amor encerrava em si todas as vocações, que o amor era tudo, que o amor abarcava todos os tempos e lugares… Numa palavra, que o amor é eterno…! Então transbordante de alegria exclamei: Jesus, meu amor… por fim encontrei a minha vocação! A minha vocação é o amor…! Sim, encontrei o meu lugar na Igreja, e fostes Vós que mo destes. No coração da Igreja, minha Mãe, eu serei o amor… Assim serei tudo… Assim o meu sonho será realizado…!!!
Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face ocd

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Admirável intercâmbio
A vocação sacerdotal é um mistério. É o mistério de um “admirável intercâmbio” - admirabile commercium - entre Deus e o homem. Este dá a Cristo a sua humanidade, para que Ele possa servir-se dela como instrumento de salvação, como se fizesse deste homem um outro Ele mesmo.
Se não se capta o mistério deste “intercâmbio”, não se consegue entender como pode acontecer que um jovem, escutando a palavra “Segue-me!”, chegue a renunciar a tudo por Cristo, na certeza de que, por este caminho, a sua personalidade humana se realizará plenamente.
João Paulo II
(Hubertus Blaumeiser e Tonino Gandolfo (org.), “Como o Pai me amou… 365 pensamentos para o ano sacerdotal - 1º volume”, Editora Cidade Nova, Abrigada, 2009, pg. 7)

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Ó Maria, Virgem Imaculada! (...) Saudamos-te e invocamos-te com as palavras do Anjo: "cheia de graça" (Lc 1, 28), o nome mais bonito, com o qual o próprio Deus te chamou desde a eternidade.
"Cheia de graça" és tu, Maria, repleta do amor divino desde o primeiro momento da tua existência, providencialmente predestinada para ser a Mãe do Redentor, e intimamente associada a Ele no mistério da salvação. Na tua Imaculada Conceição resplandece a vocação dos discípulos de Cristo, chamados a tornar-se, com a sua graça, santos e imaculados no amor (cf. Ef 1, 14). Em ti brilha a dignidade de cada ser humano, que é sempre precioso aos olhos do Criador. Quem para ti dirige o olhar, ó Mãe Toda Santa, não perde a serenidade, por muito difíceis que sejam as provas da vida. Mesmo se é triste a experiência do pecado, que deturpa a dignidade dos filhos de Deus, quem a ti recorre redescobre a beleza da verdade e do amor, e reencontra o caminho que conduz à casa do Pai.
"Cheia de graça" és tu, Maria, que aceitando com o teu "sim" os projectos do Criador, nos abristes o caminho da salvação. Na tua escola, ensina-nos a pronunciar também nós o nosso "sim" à vontade do Senhor. Um "sim" que se une ao teu "sim" sem reservas e sem sombras, do qual o Pai celeste quis precisar para gerar o Homem novo, Cristo, único Salvador do mundo e da história.
Dá-nos a coragem de dizer "não" aos enganos do poder, do dinheiro, do prazer; aos lucros desonestos, à corrupção e à hipocrisia, ao egoísmo e à violência. "Não" ao Maligno, príncipe enganador deste mundo. "Sim" a Cristo, que destrói o poder do mal com a omnipotência do amor.
Nós sabemos que só corações convertidos ao Amor, que é Deus, podem construir um futuro para todos.
"Cheia de graça" és tu, Maria! O teu nome é para todas as gerações penhor de esperança certa. Sim! Porque, (...), Tu "és fonte viva de esperança" (Par., XXXIII, 12). A esta fonte, à nascente do teu Coração imaculado, voltamos mais uma vez peregrinos confiantes para haurir fé e conforto, alegria e amor, segurança e paz
Virgem "cheia de graça", mostra-te terna e solícita aos habitantes desta tua cidade, para que o autêntico espírito evangélico anime e oriente os seus comportamentos; mostra-te Mãe e vigilante guarda (...) da Europa, para que das antigas raízes cristãs os povos saibam tirar nova linfa para construir o seu presente e o seu futuro; mostra-te Mãe providente e misericordiosa do mundo inteiro, para que, no respeito da dignidade humana e no repúdio de qualquer forma de violência e de exploração, sejam lançadas as bases firmes para a civilização do amor. Mostra-te Mãe especialmente de quantos têm mais necessidade: os indefesos, os marginalizados e os excluídos, as vítimas de uma sociedade que com muita frequência sacrifica o homem a outras finalidades e interesses.
Mostra-te Mãe de todos, ó Maria, e dá-nos Cristo, a esperança do mundo! "Monstra Te esse Matrem", ó Virgem Imaculada, cheia de Graça! Amém!
Bento XVI
Solenidade da Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria
Praça de Espanha, Sexta-feira, 8 de Dezembro de 2006

domingo, 6 de dezembro de 2009

Eu Vos amo, ó meu Deus,
e o meu único desejo é amar-Vos
até ao último alento da minha vida.
Eu Vos amo, ó Deus infinitamente amável,
e prefiro morrer amando-Vos
do que viver sem Vos amar por um só instante.
Eu Vos amo, Senhor,
e a única graça que Vos peço é amar-Vos eternamente.
Meu Deus,
se a minha língua não puder dizer-Vos permanentemente
que Vos amo,
quero que o meu coração o repita todas as vezes que respiro.
Eu Vos amo, ó meu Divino Salvador,
que fostes crucificado por mim...
Meu Deus, concedei-me a graça de morrer amando-Vos
e sabendo que Vos amo.
Amén.
São João Maria Vianney
Santo Cura de Ars

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Perdoa-me e ajuda-me, meu Deus!
Faz morrer em mim o homem velho,
vil, tíbio, ingrato, infiel, débil, indeciso e enfraquecido,
e «cria em mim um coração novo»,
caloroso, corajoso, agradecido, fiel, forte, decidido e enérgico…
Consagro-Te todos os instantes que me restam viver.
Faz com que o meu futuro
seja totalmente o contrário do meu passado,
que o redima,
que seja inteiramente empregue a fazer a tua vontade,
que em todos os instantes te glorifique
na medida exigida pela tua vontade.
Ámen.
Beato Carlos de Foucauld
PALAVRA DE VIDA
Dezembro de 2009
Chiara Lubich
«Brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está no Céu» (Mt 5, 16).

(…) A luz manifesta-se nas “boas obras”. Resplandece através das boas obras realizadas pelos cristãos.

Podem dizer-me: «Mas não são só os cristãos que realizam boas obras. Há outras pessoas que colaboram no progresso, constroem casas, promovem a justiça…».

É verdade. O cristão, sem dúvida, faz também tudo isto e deve fazê-lo. Mas não é só essa a sua função específica. Ele deve realizar as boas obras com um espírito novo: aquele espírito que faz com que não seja ele a viver em si próprio, mas Cristo nele. De facto, o evangelista não se refere apenas a actos de caridade isolados (como visitar os presos, vestir os nus ou outra obra de misericórdia qualquer, de acordo com as exigências actuais). Refere-se à adesão total da vida do cristão à vontade de Deus, de modo a fazer com que toda a sua vida seja uma boa obra.

Se o cristão assim fizer, será “transparente”, e o louvor que obtiver com as suas acções destina-se, não a ele propriamente, mas a Cristo nele. E, através dele, Deus estará presente no mundo. A função do cristão é, pois, deixar transparecer esta luz que existe nele, ser o “sinal” desta presença de Deus entre os homens.

«Brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está no Céu» (Mt 5, 16).

Se as boas obras de cada cristão têm esta característica, também a comunidade cristã no meio do mundo deve ter essa mesma função específica: revelar, através da sua vida, a presença de Deus, que se manifesta onde dois ou três estiverem unidos no Seu nome. Uma presença que foi prometida à Igreja até ao fim dos tempos.

A Igreja primitiva dava muito relevo a estas palavras de Jesus. Sobretudo nos momentos difíceis, quando os cristãos eram caluniados, ela exortava-os a não reagirem com violência. A melhor contestação ao mal que se dizia contra eles deveria ser o seu comportamento.

Lê-se na Carta a Tito: «Exorta igualmente os jovens a serem moderados, apresentando-te em tudo a ti próprio, como exemplo de boas obras, de integridade na doutrina, de dignidade, de palavra sã e irrepreensível, para que os adversários fiquem confundidos, por não terem nada de mal a dizer de nós» (Tt 2, 6-8).

«Brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está no Céu» (Mt 5, 16).

Também nos nossos dias, a luz para levar os homens a Deus é a vida cristã vivida. Conto-vos um pequeno episódio.

A Antonieta nasceu na Sardenha mas, por motivos de trabalho, foi para Grenoble, na França. Foi trabalhar para um escritório onde havia muita gente que não tinha vontade de trabalhar. Sendo cristã, procurava ver Jesus em cada pessoa, para O servir. Ajudava todos e estava sempre calma e sorridente. Às vezes, havia quem se zangasse, levantasse a voz e se vingasse nela, ironizando: «Já que gostas de trabalhar, toma lá, bate à máquina também o meu trabalho!».

Ela calava-se e trabalhava. Sabia que não eram maus. Provavelmente cada um teria as suas contrariedades.

Um dia, o chefe de secção foi ter com ela, quando os outros não estavam, e perguntou-lhe: «Agora diga-me como consegue sorrir sempre e nunca perder a paciência?». Ela rodeou a questão dizendo: «Procuro manter-me calma e ver as coisas pelo lado bom». O chefe de secção bateu com o punho na secretária e exclamou: «Não! Deve ter qualquer coisa a ver com Deus. De outra maneira, seria impossível! E eu que não acreditava em Deus!».

Alguns dias mais tarde, a Antonieta foi chamada à direcção e disseram-lhe que ia ser transferida para outra secção, «para que - continuou o director - a transforme tal como o fez com aquela onde está agora».

«Brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está no Céu» (Mt 5, 16).

Palavra de Vida, Agosto de 1979, publicada integralmente em Essere la Tua Parola, Chiara Lubich e cristiani di tutto il mondo, vol. II, Città Nuova, Roma, 1982, pp. 53-55.

domingo, 22 de novembro de 2009

Ser feliz...
Ser padre é ser feliz.
Com toda a certeza, e sem espaço para qualquer dúvida, se me perguntam o que é ser padre, só posso responder: É ser feliz.
"O meu coração e a minha carne exultam no Deus vivo" (Sl. 84 [83], 3).
Afirmo-o sem ilusões poéticas e plenamente consciente de que a vida não é fácil... a vida dos sacerdotes não é fácil. Mesmo assim e também na dureza da vida, ser padre é ser feliz... é que "eu sei a fonte que mana e corre embora seja noite..." (cf. São João da Cruz), "sei em quem pus a minha confiança" (2Tm 1, 12) até porque "se Deus é por nós, quem será contra nós?" (Rm 9, 31).
De verdade e do fundo do coração, ser feliz... é o que posso e tenho que partilhar...
O Bom Deus, até mesmo quando a homilia me não correu bem, quando sou justa ou injustamente criticado, quando me confronto com as minhas debilidades e não sou suficientemente generoso e paciente, quando fisicamente estou cansado e o meu espírito pleno de preocupações, de projecto, de questões mais simples ou complicadas de resolver: "exulto de alegria em Deus meu salvador" (cf. Lc 1, 47).
É tão frequente, muito frequente mesmo, sobretudo ao Domingo, depois de um dia pleno a sustentar na fé, os meus irmãos... depois de um dia cheio a partir-lhes a Palavra e a distribuir-lhes o Pão... a ser o instrumento de que Deus se serve para os restaurar, para lhes devolver a esperança...
Que festa..., que alegria Senhor, o coração não me cabe no peito, tal é a alegria que me concedeis. Quem vê o padre, no "seu" carro, de regresso a casa e se apercebe que canta, só pode pensar:
"Está tonto, coitado". E tem razão, tonto de alegria e com o coração em festa, pois não lhe faltais, Senhor. Tonto, por só na fé conseguir entender que, apesar dos seus pecados o compensais tão abundantemente pelos suas insignificantes e tropegas "generosidades".
Ser feliz... a isso me chamais.
Com uma felicidade indizível me preencheis.

"A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador..." (Lc 1, 46-47).

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Vós sois o meu alento, o ar que respiro e o pão que como.
Que quereis de mim Senhor?
Quereis que Vos ame mais?...
E como Senhor?... se o meu coração é tão pequeno, tão ruim e tão miserável; fazei-mo grande e generoso, que eu seja todo coração para ser todo Vosso e amar-Vos, amar-Vos muito, como ninguém vos amou. Senhor meu e Deus meu, Vós o podeis fazer se quiserdes, e eu nada posso se Vós não me ajudais.
Acalmai-me a ansia que sinto pois assim não posso viver.
A minha alma está cheia e transborda.
Haveis posto tanto amor numa alma tão pequena Senhor e tão miserável!
Se Tu Senhor fazes a ferida, por caridade põe o cautério, mas não me deixeis neste estado, pois não poderei resistir.
São Rafael Arnáiz Barón ocso
(tradução do Espanhol ao Português da responsabilidade do autor deste blog)

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O Vosso servo é humano...
Tantas vezes, Senhor,
vezes demais,
o coração do Vosso servo sofre e chora...
pois tanto lhe tendes dado
e ele, tão pouco Vos tem retribuído.
Cumulaste-o com a Vossa graça
e ele não Vos é fiel...
por isso sofre e chora.
Queria ser parecido a Vós,
queria que olhando para ele
Vos vissem a Vós...
até porque a isso o chamais,
essa é a sua vocação,
"in persona Christi".
Mas, como sabeis, Senhor,
o Vosso servo é humano...
"não faz o bem que quer e faz o mal que não quer".
Mesmo se o chamais a tocar-Vos e distribuir-Vos
ele é humano...
E como é humano!... limitado!... frágil!...
Não fora a Vossa graça, Senhor!...
É por Vós, Senhor.
Só por Vós.
Como sabeis, Senhor,
o Vosso servo é humano...
ajudai-o para que não caia
e se teimar em cair,
suavizai-lhe a queda
e estendei-lhe a mão
para que se levante e Vos siga.
E Vos siga...
como prometeu um dia...
como promete todos os dias...
como Vos promete agora.
E seguindo-Vos se torne parecido a Vós
e possa dizer:
"Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim" (Gl 2, 20).

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Hoje, com uma das minhas comunidades paroquiais, fizemos Adoração ao Santíssimo Sacramento.
Partilho os textos do P. Raniero Cantalamessa, de que nos servimos para Adorar, Contemplar, Amar "O Deus Santo, o Deus Forte o Deus Imortal".
A contemplação Eucarística “Configura”
A contemplação eucarística nem é estéril nem inactiva. O homem reflecte em si, por vezes mesmo fisicamente, aquilo que contempla. Não podemos estar muito tempo expostos ao sol, que os sinais aparecem logo no rosto. Permanecendo por largo tempo e com fé, não necessariamente com fervor sensível, perante o Santíssimo Sacramento, nós assimilamos os pensamentos e os sentimentos de Cristo, não por via discursiva mas intuitiva; Por outras palavras, é o que diz o apóstolo São Paulo: «Nós que, com a face descoberta, reflectimos como num espelho a glória do Senhor, somos transfigurados nessa mesma imagem, cada vez mais resplandecente pela acção do Senhor, que é Espírito» (2Cor 3, 18). É também verdadeira, mesmo em sentido cristão, a intuição do filósofo Plotino: «Cada ser é aquilo que contempla».
Raniero Cantalamessa, “Isto é o meu Corpo - A Eucaristia à luz do Adoro te devote e do Ave verum”, Paulus Editora, Lisboa, 2006, pgs. 26-27.
A contemplação Eucarística “Cura”
A contemplação eucarística tem também um extraordinário poder de cura. No deserto, Deus ordenou a Moisés que levantasse sobre um poste uma serpente de bronze, e aqueles que eram mordidos pelas serpentes venenosas, se olhavam para a serpente, eram curados (Cfr. Nm 21,4-9). Jesus aplicou a Si mesmo o símbolo misterioso da serpente de bronze (Jo 3,14). O que então devemos fazer quando formos atingidos pelas mordeduras do orgulho, da sensualidade e de todas as outras doenças da alma não é perder-se em considerações vãs ou em procurar desculpas, mas correr para a presença do Santíssimo, olhar para a Hóstia consagrada e fazer com que a cura passe por onde passou o pecado: os nossos olhos.
Raniero Cantalamessa, “Isto é o meu Corpo - A Eucaristia à luz do Adoro te devote e do Ave verum”, Paulus Editora, Lisboa, 2006, pg. 27.
A contemplação Eucarística “é Amor”
«Tu amas-me?» (Jo 21,15-17). «Ao interrogar Pedro - escreve Santo Agostinho - Cristo interrogava cada um de nós». Se acreditamos que o Jesus que recebemos é o Jesus ressuscitado, vivo, realmente presente como estava diante de Pilatos, não será difícil reviver intensamente esse momento e dizermos também nós com a humildade do apóstolo: «Senhor, Tu conheces tudo e sabes que Te amo».
Raniero Cantalamessa, “Isto é o meu Corpo - A Eucaristia à luz do Adoro te devote e do Ave verum”, Paulus Editora, Lisboa, 2006, pg. 78.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Como se fosse a última...
Sim, Jesus,
faz-me falar sempre
como se fosse a última palavra que digo,
faz-me agir sempre
como se fosse a última acção que faço,
faz-me sofrer sempre
como se fosse o último sofrimento
que tenho para Te oferecer,
faz-me rezar sempre
como se fosse a última possibilidade
que tenho, aqui na terra,
de falar Contigo.
Chiara Lubich

domingo, 1 de novembro de 2009

PALAVRA DE VIDA
Novembro de 2009
Chiara Lubich
«É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no Reino do Céu» [Mt 19, 24].
(…)
Faz-nos impressão ouvir esta frase? Penso que temos razão em ficar admirados e talvez em pensar naquilo que deveríamos fazer. Jesus nunca disse nada só por dizer. Por isso, é preciso levarmos estas palavras a sério, sem pretender diluí-las.
Mas procuremos compreender o seu verdadeiro sentido a partir do próprio Jesus, pelo modo como Ele se comportava com os ricos. Ele visitava também pessoas abastadas. A Zaqueu, que deu só metade dos seus bens, Jesus disse: a salvação entrou nesta casa.
Além disso, os Actos dos Apóstolos testemunham que, na Igreja primitiva, a comunhão dos bens era livre e, portanto, não se exigia a renúncia concreta a tudo o que se possuía.
Jesus não tinha, pois, a intenção de fundar apenas uma comunidade de pessoas chamadas a segui-Lo (…), que deixassem de lado todas as riquezas. No entanto, diz:
«É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no Reino do Céu» [Mt 19, 24].
Então o que é que Jesus condena? Não condena, com certeza, os bens da Terra em si, mas sim o rico que está apegado aos bens.
E porquê?
É claro: porque tudo pertence a Deus! E o rico, pelo contrário, comporta-se como se as riquezas fossem suas.
A verdade é que as riquezas ocupam, facilmente, o lugar de Deus no coração humano. Elas cegam e predispõem a pessoa para todos os vícios. Paulo, o Apóstolo, escreveu: «Os que querem enriquecer caem na tentação, na armadilha e em múltiplos desejos insensatos e nocivos que precipitam os homens na ruína e na perdição. Porque a raiz de todos os males é a ganância do dinheiro. Arrastados por ele, muitos se desviaram da fé e se enredaram em muitas aflições» (1 Tm 6, 9-10; 3).
Já Platão tinha afirmado: «É impossível que um homem extraordinariamente bom seja ao mesmo tempo extraordinariamente rico».
Qual deve ser, então, a atitude de quem possuir bens? É preciso que tenha o coração livre, totalmente aberto a Deus, que se sinta unicamente administrador dos seus bens e saiba, como disse João Paulo II, que sobre eles paira uma hipoteca social.
Os bens desta Terra, não sendo um mal em si, não devem ser desprezados. Mas é preciso usál-os bem. Não são as mãos, mas sim o coração é que deve estar longe deles. Trata-se de os saber utilizar para o bem dos outros. Quem for rico, seja-o para os outros.
«É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no Reino do Céu» [Mt 19, 24].
Mas cada um pode dizer: eu, realmente, não sou nada rico e, por isso, estas palavras não me dizem respeito.
Prestem atenção. A pergunta que os discípulos, estupefactos, fizeram a Cristo, logo a seguir a esta Sua afirmação, foi: «Então, quem pode salvar-se?» (Mt 19, 25). Ela mostra claramente que estas palavras se dirigiam um pouco a todos.
Mesmo os que deixaram tudo para seguir Cristo podem ter o coração apegado a mil e uma coisas. Até um pobre, que blasfema porque lhe tocaram na sacola, pode ser um rico diante de Deus.
(…)
Palavra de Vida, Julho de 1979, publicada integralmente em Essere la Tua Parola. Chiara Lubich e cristiani di tutto il mondo, vol. II, Città Nuova, Roma 1982, pp. 41-43

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Passagem de Propriedade
...consagrar alguma coisa ou alguém significa dar tal coisa ou pessoa em propriedade a Deus, tirá-la do âmbito daquilo que é nosso e inseri-la na atmosfera d’Ele, de tal modo que deixe de pertencer às nossas coisas para ser totalmente de Deus. Consagração é, pois, tirar do mundo e entregar ao Deus vivo. Aquela coisa ou pessoa deixa de pertencer a nós ou a si mesma, mas é imersa em Deus. Este acto de privar-se duma coisa para a entregar a Deus, chamamo-lo também sacrifício: já não será propriedade minha, mas d’Ele. No Antigo Testamento, a entrega duma pessoa a Deus, isto é, a sua «santificação» coincide com a sua ordenação sacerdotal, e assim se define também em que consiste o sacerdócio: é uma passagem de propriedade, um ser tirado do mundo e dado a Deus. E, deste modo, ficam agora patentes as duas direcções que fazem parte do processo da santificação/consagração: sair dos contextos da vida do mundo e «ser posto à parte» para Deus. Mas por isto mesmo não é uma segregação; antes, ser entregue a Deus significa ser posto a representar os outros. O sacerdote é subtraído aos laços do mundo e dado a Deus, e precisamente assim, a partir de Deus, deve estar disponível para os outros, para todos.
Bento XVI
(Missa Crismal, 9 de Abril de 2009)

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Escutai, Senhor, a minha oração;
pela Vossa fidelidade, atendei as minhas súplicas;
respondei-me, pela Vossa justiça.
Ergo para Vós as minhas mãos;
como terra seca, a minha alma está sedenta de Vós.
Senhor, respondei-me depressa;
estou prestes a desfalecer!
Não escondais de mim a Vossa face...
Fazei-me sentir desde a manhã, a Vossa bondade,
porque em Vós eu confio.
Mostrai-me o caminho a seguir,
porque para Vós elevo a minha alma.
Livrai-me, Senhor, dos meus inimigos,
porque em Vós me refugio.
Ensinai-me a cumprir a Vossa vontade,
pois Vós sois o meu Deus.
Que o Vosso espírito de bondade
me conduza pelo caminho recto.
Salmo 143 (142) 1.6-8.10

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

São Rafael Arnáiz ocso
Vida e Mensagem do irmão Rafael
(trailler)
A vida do Irmão Rafael foi uma vida de intensa busca de Deus e, à medida em que ia experimentando em si mesmo a santa presença do Senhor, era levado a uma entrega cada vez maior, chegando ao anseio mais profundo da alma, que o conduz sempre mais a uma renuncia total, dando à luz o que poderíamos chamar de seu selo e assinatura: Só Deus… Só Deus … Só Deus …

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Quereis tudo... quereis-me todo...
“Falta-te uma coisa: vai vender o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-Me” (Mc 10, 21,-22).
Senhor, como sois delicado e ao mesmo tempo exigente e firme no Vosso Amor para comigo. Quereis tudo. Não vos contentais com alguma coisa, quereis tudo, quereis-me todo.
“Tudo! Absolutamente tudo!” É o sussurro suave e firme que fazeis ecoar no meu coração. Depois de Vos terdes dado Todo, porque me amais… quando me fazeis experimentar a grandeza, a torrente inesgotável, as doçuras do Vosso Amor, qualquer riqueza, qualquer tesouro, o bem mais precioso e puro deste mundo, em comparação com o Vosso Amor são “… como nada …um pouco de areia… como lodo” (cf. Sd 8-9).
Bendito sejais, Senhor, pois ”fixais em mim o Vosso olhar e me fitais com afeição” (Mc 10, 21)!
Vinde até mim, “Palavra viva e eficaz… penetrai em mim até ao mais fundo do meu ser” (cf. Heb 4, 12), rasgai, cortai, eliminais as riquezas deste mundo que me impedem de crescer para vós, de me tornar Vosso discípulo, de Vos seguir. E, plantai no mais íntimo do meu ser a semente do Vosso amor, uma Sede abrasadora de Vós, fazei de mim, Trindade Santa, a morada da Vossa eleição, o lugar do Vosso repouso… que eu não viva se não viver em Vós e de Vós.
“Palavra viva e eficaz…” (cf. Heb 4, 12), Sabedoria eterna e luminosa… Luz de santidade… que consiga desfazer-me, libertar-me, vender as riquezas que me impossibilitam o voo livre na Vossa direcção. “Despi-me das obras das trevas e revesti-me das armas da luz” (cf. Rm 13, 12).
Mergulhai a minha vida na Vossa Vida… que olhando para mim, não me vejam, mas Vos vejam a Vós. Que possa cantar o hino da Vida Nova, da Vossa Vida Nova na minha vida, que não quero que seja minha mas Vossa, só Vossa, toda Vossa. Que possa cantar com a vida: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 20).
A única riqueza
do Sacerdote

A iniciativa do Papa é, sem dúvida, sugerida pela difícil situação que o padre vive hoje em si mesmo, na Igreja e na sociedade. E isto apesar das preciosas indicações do Vaticano II e de tudo o que se lhe seguiu. Porquê? É caso para se perguntar.
A resposta não é imediata nem simples. É todo o povo de Deus, na riqueza e variedade das suas vocações e das suas tarefas, que paga os custos do fim de um modelo de Igreja, pensado para uma determinada situação histórica, que já fez o seu tempo. O Evangelho - é verdade - é sempre novo e sempre contemporâneo em relação a cada momento da História. Mas, precisamente por isso, na fidelidade ao seu inalterável ADN e aos preciosos ganhos da Tradição, é necessário abrirmo-nos desarmados, aqui e além, ao sopro do Espírito para compreender onde ir e como fazer.
Isto - repito - vale, em primeiro lugar, para todo a povo de Deus, de quem os sacerdotes são uma expressão qualificada, como o são os outros carismas e ministérios na Igreja. E talvez seja este o ponto - espiritual, teológico, pastoral - a realçar este ano. À luz da autêntica e ainda actualíssima mensagem do Vaticano II e, ao mesmo tempo, sabendo ler e frutificar para a vida de toda a Igreja as injecções de luz e de energia vital que, certamente, não faltaram, nestas últimas décadas, na sua experiência.
A questão, bem vistas as coisas, não é aquela - perdida à partida - de querer conter ou amenizar uma crise que, de facto, está à vista de todos e requer algo de profundo. Mas, sobretudo, a de pedir ao Evangelho - que fala na Igreja e ao mundo pelo sopro do Espírito - o que devemos fazer ou, ainda melhor, o que devemos ser para acolher e testemunhar o dom de Deus.
Ao declarar um "Ano Sacerdotal", Bento XVI disse claramente que «Deus é a única riqueza que, de facto, os homens desejam encontrar num sacerdote». Isto acontece - hoje - quando o padre se torna testemunha credível da presença de Deus na História, que é Jesus vivo e operante entre «dois ou mais unidos no Seu nome». Aí está a Igreja. É a expressão eficaz de todo o povo de Deus em comunhão com o Papa, os bispos, os múltiplos carismas do Espírito e os inumeráveis caminhos de serviço ao Homem na vida de todos os dias e nos ambientes mais variados da vida social.
Só se for vivido "em relação": no presbitério juntamente com o bispo, com as outras vocações na comunhão da Igreja, na capacidade de diálogo com todos - e nunca fechado em si mesmo ou a pensar de modo egocentrista - é que o indispensável e fascinante serviço do padre pode voltar a florir e a fazer história, libertando o melhor da sua especificidade: guiar com respeito e em espírito de serviço para as nascentes inexauríveis do amor de Deus que Jesus nos oferece com generosidade. Como, em boa verdade, já acontece de muitas formas e em muitas situações, embora de um modo um pouco discreto.
Piero Coda (Teólogo Italiano)
in «Cidade Nova», ano XIX, Outubro de 2009, pg. 13

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Maria,
Mãe de Jesus Cristo
e Mãe dos sacerdotes
recebei este preito que nós Vos tributamos
para celebrar a vossa maternidade
e contemplar junto de Vós
o Sacerdócio do vosso Filho e dos vossos filhos,
ó Santa Mãe de Deus.
Mãe de Cristo,
ao Messias Sacerdote
destes o corpo de carne
para a unção do Espírito Santo,
a salvação dos pobres e contritos de coração,
guardai no vosso Coração
e na Igreja os sacerdotes,
ó Mãe do Salvador.
Mãe da fé,
acompanhastes ao templo o Filho do Homem,

cumprimento das promessas feitas aos nossos Pais,
entregai ao Pai para Sua glória
os sacerdotes do Filho Vosso,

ó Arca da Aliança.
Mãe da Igreja,
entre os discípulos no Cenáculo,
suplicastes o Espírito para o Povo novo
e os seus Pastores,

alcançai para a ordem dos presbíteros
a plenitude dos dons,
ó Rainha dos Apóstolos.
Mãe de Jesus Cristo,
estivestes com Ele nos inícios da Sua vida
e da Sua missão,

Mestre O procurastes entre a multidão,
assististe-l'O levantado da terra,
consumado para o sacrifício único eterno,

e tivestes perto João, Vosso filho,
acolhei desde o princípio os chamados,
protegei o seu crescimento,

acompanhai na vida e no ministério
os Vossos filhos,
ó Mãe dos sacerdotes.
Ámen!
Oração Final

da Exortação Apostólica Pastores Dabo Vobis
de João Paulo II

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

PALAVRA DE VIDA
Outubro de 2009
Chiara Lubich
«Pela vossa perseverança
salvareis as vossas almas»
(Lc 21, 19).
(…)
“Perseverança”. É a tradução da palavra grega original, que inclui também outros significados: a paciência, a constância, a resistência e a confiança.
A perseverança é necessária e indispensável quando se tem um sofrimento ou uma tentação, ou se tem a tendência para desanimar, quando se é aliciado pelas seduções do mundo, quando se é perseguido.
Penso que cada um de nós já se encontrou em pelo menos uma dessas circunstâncias, e por isso já experimentou que, sem a perseverança, poderia muito bem ter sucumbido. Talvez até já cedemos algumas vezes. Ou pode ser que, neste preciso momento, nos encontremos mesmo numa dessas dolorosas situações.
E então, o que fazer?
Recomeçar e… perseverar.
De outra forma não é válido para nós o nome de “cristão”.
Sabemos muito bem que: quem quer seguir Cristo deve pegar todos os dias na sua cruz, deve amar – pelo menos com a vontade – o sofrimento. A vocação cristã é a vocação para a perseverança.
Paulo, o apóstolo, mostra a sua perseverança, à comunidade, como sinal de autenticidade cristã.
E não tem medo de a colocar no mesmo plano que os milagres.
Quando amamos a cruz e perseveramos, podemos seguir Cristo que está no Céu, e, portanto, salvarmo-nos.
«Pela vossa perseverança
salvareis as vossas almas»
(Lc 21, 19).
Podem distinguir-se duas categorias de pessoas: as que sentem o convite para serem verdadeiros cristãos, mas em cujas almas este convite cai como uma semente num terreno cheio de pedras. Há muito entusiasmo, semelhante a um fogo de palha, e depois não fica nada.
Por outro lado, há aquelas que recebem o convite como um terreno bom recebe a semente. E a vida cristã germina, cresce, ultrapassa as dificuldades e resiste às tempestades.
Estas últimas possuem a perseverança e…
«Pela vossa perseverança
salvareis as vossas almas»
(Lc 21, 19).
Claro que, para perseverar, não nos podemos apoiar unicamente nas nossas forças.
Vai ser necessária a ajuda de Deus.
Paulo chama a Deus: «O Deus da perseverança» (Rm 15, 5).
É a Ele, portanto, que devemos pedir a perseverança, e Ele não deixará de no-la dar.
Porque, se somos cristãos, não nos podemos contentar com o termos sido baptizados ou com uma ou outra prática esporádica de culto ou de caridade. É necessário crescermos como cristãos. E todo o crescimento, no campo espiritual, não existe se não for no meio de provas, sofrimentos, obstáculos e batalhas.
Quem sabe realmente perseverar são aqueles que amam. O amor não vê obstáculos, não vê dificuldades, não vê sacrifícios. E a perseverança é o amor posto à prova.
(…)
Maria é a mulher da perseverança.
Peçamos a Deus que acenda no nosso coração o amor por Ele. Então a perseverança, em todas as dificuldades da vida, surgirá em nós como consequência, e com ela salvaremos a nossa alma.
«Pela vossa perseverança
salvareis as vossas almas»
(Lc 21, 19).
Mas, além disso, a perseverança é contagiosa. Quem é perseverante encoraja também os outros a irem até ao fim.
(…)
Temos que ter metas altas. Nós só temos uma única vida e também esta é breve. Cerremos os dentes dia após dia, enfrentemos todas as dificuldades que surgirem para seguir Cristo… e salvaremos as nossas almas.
Palavra de Vida, Junho de 1979, publicada integralmente em Essere la Tua Parola. Chiara Lubich e cristiani di tutto il mondo, vol. II, Città Nuova, Roma 1982, pp. 25-28.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Ó meus Três,
meu Tudo,
minha Beatitude,
Solidão infinita,
Imensidade em que me perco,
eu me entrego a Vós como uma presa.
Sepultai-Vos em mim
para que eu me sepulte em Vós,
enquanto espero ir con­templar, na Vossa luz,
o abismo das Vossas gran­dezas.
beata Isabel da Santíssima Trindade ocd

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

«Se alguém me tem amor,
há-de guardar a minha palavra;
e o meu Pai o amará,
Nós viremos a ele
e nele faremos
a nossa morada»
(Jo 14, 23).
«Pode-se conceber a vida interior propriamente dita como uma verdadeira interpenetração, cada dia mais perfeita e mais consciente, da alma por Deus e de Deus pela alma. Deus, no mais íntimo da alma; a alma, no mais íntimo de Deus. Deus e a alma amando-se profunda e mutuamente, dizendo-o e provando-o sem cessar de mil maneiras. Deus e a alma sem abandonar-se, nunca, e interessando-se sempre um pelo outro. Deus e a alma possuindo-se plenamente, gostando-se mutuamente de maneira inefável, de modo que a alma se converte no paraíso de Deus, e Deus converte-se, dentro deste mundo, no paraíso da alma; e tudo isto, uma vez mas, aumentando cada dia sem medida. Assim poderíamos definir a verda­deira vida interior: "Se conhecesses o dom de Deus..."»
JEAN RÉMY, “Isabel de la Trinidad y la oración”, Sal Terrae, Santander, 2005, pg. 169

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Jesus, por nosso Amor, estais aqui.
Estai aqui connosco...

Os Vossos pés estão aqui,
os pés que percorreram os caminhos da Galileia
para ir ao encontro dos Homens,
estão aqui…
As Vossas mãos estão aqui,
as mãos que tocaram, acariciaram, abençoaram
e apontaram o caminho da Vida a tantos Homens,
estão aqui...
A Vossa voz está aqui,
a voz serena e firme que ecoou aos ouvidos
e tocou o coração de tantos Homens
restituindo-lhe a alegria, a paz, a esperança,
está aqui...
O Vosso Coração está aqui,
o Coração que se compadeceu
e amou sem limites
está aqui…
O Vosso Sangue está aqui,
o Sangue purificador derramado generosamente
sobre as feridas provocadas pelo pecado,
está aqui...
Jesus estais aqui connosco…
Jesus, por nosso Amor,
estais aqui presente,
Todo presente,
no Santíssimo Sacramento do Altar,
Sedento do nosso amor, da nossa atenção, da nossa presença,
disposto a saciar a nossa sede,
a cicatrizar as nossas feridas, a restaurar a nossa esperança,
a derramar sobre cada um de nós,
sobre a Humanidade inteira,
o Vosso Amor sem medida…
Jesus, por nosso Amor, estais aqui.
P. Marcelino José Moreno Caldeira
Vila de Cano,
9 de Outubro de 2008

terça-feira, 1 de setembro de 2009

PALAVRA DE VIDA
Setembro de 2009
Chiara Lubich

«Procurai primeiro o reino de Deus e a Sua justiça, e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo» (Mt 6, 33).
Todo o Evangelho é uma revolução. Não há comparação possível entre as palavras de Cristo e as palavras dos homens. Ouçamos esta: «Procurai primeiro o reino de Deus e a Sua justiça, e todas estas coisas [as necessidades da vida] vos serão dadas por acréscimo».
A primeira preocupação das pessoas, em geral, é procurar ansiosamente aquilo que é necessário para dar segurança à sua existência. Talvez o mesmo se passe connosco. Pois bem, Jesus põe-nos perante o “Seu” modo de ver e oferece-nos o Seu modo de agir. Pede-nos uma atitude totalmente diferente daquela que é habitual, e que se deve manter não uma vez apenas, mas sempre. É esta: procurar primeiro o reino de Deus.
Quando estivermos orientados para Deus com todo o nosso ser e fizermos de tudo para que Ele reine (isto é, quando governarmos a nossa vida de acordo com as Suas leis) dentro de nós e nos outros, o Pai há-de dar-nos aquilo de que precisamos, dia após dia.
Se, pelo contrário, nos preocuparmos antes de tudo connosco, vamos acabar por tratar principalmente das coisas deste mundo e tornar-nos-emos vítimas delas. Acabaremos por ver nos bens desta Terra o “nosso” verdadeiro problema, a “finalidade” de todos os nossos esforços. E vai nascer dentro de nós a grave tentação de contar unicamente com as nossas forças e de viver como se Deus não existisse.
«Procurai primeiro o reino de Deus e a Sua justiça, e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo» (Mt 6, 33).
Jesus transforma completamente a situação. Se a nossa primeira preocupação for Ele, viver para Ele, então o resto vai deixar de constituir o problema principal da nossa existência. Será um “acréscimo”, ou um “acrescento”.
Será uma utopia viver assim? Será uma Palavra irrealizável, para nós, pessoas modernas, hoje, num mundo industrializado onde vigora a concorrência e se passa, muitas vezes, por crises económicas? Só quero lembrar que as dificuldades concretas de subsistência não eram muito menores para a gente da Galileia, quando Jesus pronunciou estas palavras.
Não se trata de saber se é utopia ou não. Jesus põe-nos perante a questão fundamental da nossa vida: ou vivemos para nós próprios, ou vivemos para Deus. Mas tentemos agora compreender bem esta Palavra: «Procurai primeiro o reino de Deus e a Sua justiça, e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo».
Jesus não nos leva ao imobilismo, à passividade para com as coisas terrenas, a uma conduta irresponsável ou superficial no trabalho.
Jesus quer substituir a “preocupação” pela “ocupação”, livrando-nos da ansiedade, do medo e da inquietação.
Na verdade, Ele diz: «Procurai “primeiro” o reino...».
O sentido de “primeiro” é “acima de todas as coisas”. A procura do reino de Deus é colocada no primeiro lugar e não exclui que o cristão deva também ocupar-se das necessidades da sua vida.
«Procurar o reino de Deus e a Sua justiça» significa, também, ter uma conduta conforme às exigências de Deus, que Jesus manifestou no Seu Evangelho.
Só se procurar o reino de Deus é que o cristão pode experimentar o maravilhoso poder de Deus em seu favor.
Vou-vos contar um episódio.
Passou-se já há bastante tempo, mas tem uma actualidade impressionante. De facto, conheço muitos jovens e crianças que ainda agora fazem como fazia aquela rapariga.
Chamava-se Elvira. Frequentava uma escola do magistério primário. Era pobre. Só poderia continuar os estudos se tivesse uma média alta. Ela tinha uma fé forte. O seu professor de Filosofia era ateu, de modo que, bastantes vezes, apresentava as verdades sobre Cristo e sobre a Igreja de uma maneira desfocada, quando não era mesmo deformada. O coração da rapariga fervia. Não por si, mas pelo amor a Deus, à verdade e às suas colegas. Apesar de saber bem que, contrariando o professor, poderia ter uma nota baixa, aquilo que ela sentia era mais forte do que ela. Em todas as ocasiões levantava a mão, pedindo a palavra: «Não é verdade, professor». Talvez não tivesse, algumas vezes, todos os argumentos para se opor às ideias do professor, mas naquele «não é verdade» estava a sua fé, que é uma oferta da verdade e faz pensar.
As colegas, que gostavam dela, procuravam dissuadi-la das suas intervenções para que não fosse depois prejudicada. Mas não conseguiam.
Passaram-se alguns meses. Chegou o momento de se afixarem as notas. A rapariga olhou a tremer. Depois, uma onda de alegria: obtivera a nota máxima!
Tinha procurado, acima de tudo, que Deus e a Sua Verdade reinassem, e o resto tinha vindo por acréscimo.
«Procurai primeiro o reino de Deus e a Sua justiça, e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo» (Mt 6, 33).
Se cada um de nós procurar o reino do Pai, poderá experimentar que Deus é Providência em todas as exigências da nossa vida. Descobriremos como são normais todas as coisas extraordinárias do Evangelho.
Palavra de Vida, Maio de 1979, publicada em Essere la Tua Parola. Chiara Lubich e cristiani di tutto il mondo, vol. II, Città Nuova, Roma 1982. pp. 11-13.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

… de Jesus Abandonado.
É clara a minha missão, a minha vocação,
o desígnio de Deus sobre mim…
amar profundamente Jesus,
viver na mais íntima comunhão com o Transfigurado
e não permitir que o grito do Abandonado:
“Meu Deus, meu Deus, porquê me abandonaste?”,
volte a ecoar sobre a face da terra.
Que em circunstância alguma,
o Verbo de Deus, feito Homem das Dores,
se volte a sentir Abandonado…
A minha missão, a minha vocação,
o desígnio de Deus sobre mim…
amá-LO,
adorá-LO,
contemplá-LO,
conformar-me a Ele
e não permitir que se sinta só…
Mesmo que todos Vos abandonem, Jesus,
concedei-me a graça de Vos ser fiel
e jamais Vos deixar só…
A minha missão, a minha vocação,
o Vosso desígnio de amor sobre mim…
Amar-Vos,
ser Vossa companhia,
viver no Vosso Coração
e d’Ele ser bálsamo
que, com amor,
suaviza e cura
a ferida do Vosso Abandono!
P. Marcelino Caldeira
Fátima, 20/8/2009