quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Santo Agostinho
bispo
memória litúrgica: 28 de Agosto

Resumo Biográfico

Nasceu em Tagaste (África) no ano 354. Depois de uma juventude perturbada, quer intelectualmente quer moralmente, converteu se à fé e foi baptizado em Milão por Santo Ambrósio no ano 387. Voltou à sua pátria e aí levou uma vida de grande ascetismo. Eleito bispo de Hipona, durante trinta e quatro anos foi perfeito modelo do seu rebanho e deu lhe uma sólida formação cristã por meio de numerosos sermões e escritos, com os quais combateu fortemente os erros do seu tempo e ilustrou sabiamente a fé católica. Morreu no ano 430.

Oh eterna verdade, verdadeira caridade, cara eternidade!
Sentindo-me estimulado a reentrar dentro de mim, recolhi me na intimidade do meu coração, conduzido por Vós, e pude fazê-lo porque fostes Vós o meu auxílio. Entrei e vi, com o olhar da minha alma, uma luz imutável que brilhava acima do meu olhar interior e acima da minha inteligência. Não era como a luz terrena e visível a todo o ser humano. Diria muito pouco se afirmasse apenas que era uma luz muito mais forte do que a comum, ou tão intensa que penetrava todas as coisas. Não era deste género aquela luz; era completamente distinta de todas as luzes do mundo criado. Não estava acima da minha inteligência como o azeite sobre a água nem como o céu sobre a terra; era uma luz absolutamente superior, porque foi ela que me criou; e eu sou inferior porque fui criado por ela. Quem conhece a verdade, conhece esta luz. Oh eterna verdade, verdadeira caridade e cara eternidade! Vós sois o meu Deus; por Vós suspiro dia e noite. Quando Vos conheci pela primeira vez, elevastes me para Vós, a fim de que eu pudesse apreender a existência do que via, e que, por mim só, não seria capaz de ver. Deslumbrastes a fraqueza da minha vista com a intensidade da vossa luz; e tremi com amor e horror. Encontrava me longe de Vós numa região desconhecida, como se ouvisse a voz lá do alto: «Eu sou o pão dos fortes; cresce e comer-Me-ás. Não Me transformarás em ti como o alimento do teu corpo, mas tu é que serás transformado em Mim».
Eu procurava o caminho onde pudesse adquirir a força necessária para saborear a vossa presença; mas não o encontraria enquanto não me abraçasse ao Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem, que está acima de todas as coisas, Deus bendito pelos séculos dos séculos, que me chamava e dizia: «Eu sou o caminho da verdade e a vida»; não o encontraria enquanto não tomasse aquele Alimento, que era demasiado forte para a minha fraqueza, mas que Se uniu à carne – porque o Verbo Se fez carne – a fim de que a vossa Sabedoria, pela qual criastes todas as coisas, Se tornasse o leite da nossa infância.

Tarde Vos amei, ó beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! Vós estáveis dentro de mim, mas eu estava fora, e fora de mim Vos procurava; com o meu espírito deformado, precipitava me sobre as coisas formosas que criastes. Estáveis comigo e eu não estava convosco. Retinha me longe de Vós aquilo que não existiria se não existisse em Vós. Chamastes, clamastes e rompestes a minha surdez. Brilhastes, resplandecestes e dissipastes a minha cegueira. Exalastes sobre mim o vosso perfume: aspirei o profundamente, e agora suspiro por Vós. Saboreei Vos, e agora tenho fome e sede de Vós. Tocastes me e agora desejo ardentemente a vossa paz.

Das Confissões de Santo Agostinho, bispo

(Lib. 7, 10, 18; 10, 27: CSEL 33, 157-163.255) (Sec. V)

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Gratuidade e Amor...
A raiz da vida monástica encontra-se, mais ou menos explícita, na consciência do amor incompreensível com que Deus nos ama gratuitamente.
Para responder a este amor, o monge consagra a sua vida a Deus, não como uma simples perca mas como pura gratuidade.
Quer estar com Deus, permanecer e conversar com Ele no segredo e silêncio de uma presença íntima e contínua, que é a forma primeira e fundamental do amor. Crê que Deus merece ser procurado, servido, adorado e amado por Ele mesmo, gratuitamente.
Não o inquieta a fecundidade espiritual ou apostólica, porque está convencido que essa fecundidade é fruto do amor, o qual não se encontra no plano das palavras ou da acção, nem sequer no da oração, mas sim no plano do ser.
A vida monástica é na Igreja e no mundo um testemunho da gratuidade e do amor.
A. Southey

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Assunção da Virgem Stª Maria
Era necessário...
Era necessário que Aquela que no parto tinha conservado ilesa a sua virgindade conservasse também sem nenhuma corrupção o seu corpo depois da morte.
Era necessário que Aquela que trouxera no seio o Criador feito menino fosse habitar nos divinos tabernáculos.
Era necessário que a Esposa que o Pai desposara fosse morar com o Esposo celeste.
Era necessário que Aquela que tinha visto o seu Filho na cruz e recebera no coração a espada de dor de que tinha sido preservada ao dá l’O à luz, O contemplasse sentado à direita do Pai.
Era necessário que a Mãe de Deus possuísse o que pertence ao Filho e que todas as criaturas a honrassem como Mãe e Serva de Deus.
São João Damasceno

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Eis o meu Céu...
Para suportar o exílio deste vale de lágrimas,
necessito do Olhar do meu Divino Salvador.
Este olhar pleno de Amor
revelou-me os seus encantos,
Ele fez-me pressentir a Celeste Alegria.
O meu Jesus sorri-me quando por Ele suspiro.
Então já não sinto as provas da fé.
O olhar do meu Deus,
o seu encantador sorriso…
Eis o meu Céu que vem mim!...
Santa Teresa do Menino Jesus

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Santa Clara de Assis,
virgem e fundadora
11 de Agosto
Resumo Biográfico
Nasceu em Assis no ano 1193. Imitando o exemplo do seu concidadão Francisco, seguiu o caminho da pobreza e fundou a Ordem monástica de Santa Clara (Clarissas). A sua vida foi de grande austeridade, mas rica em obras de caridade e de piedade. Morreu em 1253.

Da Carta de Santa Clara, virgem, à Beata Inês de Praga
(Escritos de S. Clara, ed. 1 Omaecheverría, Madrid 1970, pp. 339-341) (Sec. XIII)
Imita a pobreza, a humildade e a caridade de Cristo
Feliz de quem pode gozar as delícias do sagrado banquete e unir se intimamente ao coração de Cristo, cuja beleza os Anjos admiram sem cessar, cujo afecto atrai os corações, cuja contemplação nos reconforta, cuja benignidade nos sacia, cuja suavidade enche a alma, cuja lembrança nos inunda de luz suave, cuja fragrância ressuscita os mortos, cuja visão gloriosa constitui a felicidade de todos os habitantes da Jerusalém celeste. Ele é o esplendor da luz eterna, o espelho puríssimo da acção divina. Olha continuamente para este espelho, rainha e esposa de Cristo; contempla nele o teu rosto e procura adornar te interior e exteriormente com as mais variadas flores das virtudes e com as vestes formosas que convêm à filha e à esposa castíssima do Rei dos reis.
Neste espelho se reflecte esplendidamente a ditosa pobreza, a santa humildade e a inefável caridade, como podes observar, com a graça de Deus, em todas as suas partes. Ao começo do espelho, repara na pobreza d’Aquele que foi colocado no presépio e envolvido em panos. Oh admirável humildade, oh espantosa pobreza! O Rei dos Anjos, o Senhor do céu e da terra deitado num presépio! No centro do espelho, observa como a humildade, ou a santa pobreza, suporta tantos trabalhos e tormentos para remir o género humano. E no fim do espelho, contempla a caridade inefável que O levou à cruz e à morte mais infamante.
Por isso o próprio espelho, suspenso na cruz, exortava os transeuntes a considerar estas coisas, dizendo: Ó vós todos que passais pelo caminho, olhai e vede se há dor semelhante à minha dor.
Respondamos nós aos seus clamores e gemidos, com uma só alma e um só coração: A minha alma sempre o recorda e desfalece de tristeza dentro de mim. Abrasa te cada vez mais neste amor, ó rainha do Rei celeste.
Contempla ao mesmo tempo as delícias inefáveis do Rei dos Céus e as suas riquezas e honras perpétuas e, suspirando de amor ardente, proclama no íntimo do teu coração: Leva me contigo; correrei seguindo o aroma dos teus perfumes, ó Esposo celeste. Correrei sem desfalecer, até que me introduzas na sala do festim, até que na tua mão esquerda descanse a minha cabeça e a tua direita me abrace com terno amor.
No meio destas piedosas contemplações, lembra te desta pobrezinha, tua mãe, sabendo que te levo inseparavelmente gravada no meu coração como filha predilecta.

sábado, 9 de agosto de 2008

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR
Mateus 17, 1-9
Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João seu irmão e levou-os, em particular, a um alto monte e transfigurou-Se diante deles: o seu rosto ficou resplandecente como o sol e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz. E apareceram Moisés e Elias a falar com Ele. Pedro disse a Jesus: «Senhor, como é bom estarmos aqui! Se quiseres, farei aqui três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias». Ainda ele falava, quando uma nuvem luminosa os cobriu com a sua sombra e da nuvem uma voz dizia: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência. Escutai-O». Ao ouvirem estas palavras, os discípulos caíram de rosto por terra e assustaram-se muito. Então Jesus aproximou-se e, tocando-os, disse: «Levantai-vos e não temais». Erguendo os olhos, eles não viram mais ninguém, senão Jesus. Ao descerem do monte, Jesus deu-lhes esta ordem: «Não conteis a ninguém esta visão, até o Filho do homem ressuscitar dos mortos».
Deus da luz
no dia da Transfiguração luminosa do Vosso Filho
frente aos discípulos,
Vós fizestes aparecer Moisés e Elias
para afirmar o cumprimento das Escrituras
e a continuidade da fé:
lembrai-nos de contemplar esta Luz
afim que também nós sejamos transfigurados
à imagem de Cristo Jesus
Bendito pelos séculos dos séculos.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

São João Maria Vianney
resumo biográfico
Nasceu em Lião no ano 1786. Depois de superar muitas dificuldades, pôde ser ordenado sacerdote. Tendo-lhe sido confiada a paróquia de Ars, na diocese de Belley, o santo promoveu nela admiravelmente a vida cristã, por meio duma eficaz pregação, com a mortificação, a oração e a caridade. Revelou especiais qualidades na administração do sacramento da Penitência e na direcção espiritual, e por isso acorriam fiéis de todas as partes para escutar os seus santos conselhos. Morreu em 1859.

Da Catequese de São João Maria Vianney, presbítero
(Catéchisme sur la prière: A. Monnin, Esprit du Curé d’Ars, Paris 1899, pp. 87-89) (Sec. XIX)

Belo dever do homem: Orar e amar
Prestai atenção, meus filhos: o tesouro do homem cristão não está na terra, mas no Céu. Por isso, o nosso pensamento deve voltar-se para onde está o nosso tesouro.
O homem tem este belo dever e obrigação: orar e amar. Se orais e amais, tendes a felicidade do homem sobre a terra.
A oração não é outra coisa senão a união com Deus. Quando alguém tem o coração puro e unido a Deus, experimenta em si mesmo uma certa suavidade e doçura que inebria e uma luz admirável que o circunda. Nesta íntima união, Deus e a alma são como dois pedaços de cera, fundidos num só, de tal modo que ninguém mais os pode separar. Como é bela esta união de Deus com a sua pequena criatura! É uma felicidade que supera toda a compreensão humana.
Nós tornámo-nos indignos de orar; mas Deus, na sua bondade, permite-nos falar com Ele. A nossa oração é o incenso que mais Lhe agrada.
Meus filhos, o vosso coração é pequeno, mas a oração dilata-o e torna-o capaz de amar a Deus. A oração faz-nos saborear antecipadamente a suavidade do Céu, é como se alguma coisa do Paraíso descesse até nós. Ela nunca nos deixa sem doçura; é como o mel que se derrama sobre a alma e faz com que tudo nos seja doce. Na oração bem feita desaparecem as dores, como a neve aos raios do sol.
Outro benefício nos traz a oração: o tempo passa depressa e com tanto prazer que não se sente a sua duração. Escutai: quando era pároco em Bresse, em certa ocasião tive de percorrer grandes distâncias para substituir quase todos os meus colegas, que estavam doentes; e podeis estar certos disto: nessas longas caminhadas rezava ao bom Deus e o tempo não me parecia longo.
Há pessoas que se submergem profundamente na oração, como os peixes na água, porque estão completamente entregues a Deus. O seu coração não está dividido. Oh como eu amo estas almas generosas! São Francisco de Assis e Santa Coleta viam Nosso Senhor e conversavam com Ele do mesmo modo que nós falamos uns com os outros.
Nós, pelo contrário, quantas vezes vimos para a igreja sem saber o que havemos de fazer ou que pedir! No entanto, sempre que vamos ter com algum homem, sabemos perfeitamente o motivo por que vamos. Mais: há pessoas que parecem falar a Deus deste modo: «Só tenho a dizer-Vos duas palavras para ficar despachado...». Muitas vezes penso: Quando vimos para adorar a Deus, conseguiríamos tudo o que pedimos se pedíssemos com fé viva e coração puro.

sábado, 2 de agosto de 2008

Palavra de Vida
Agosto de 2008
Chiara Lubich
«A lâmpada do teu corpo
são o
s teus olhos.

Se os teus olhos estiverem sãos,
todo o teu corpo estará iluminado» (Lc 11,34).
Quantos próximos encontramos ao longo do dia, desde a manhã até à noite! Em todos eles devemos ver Jesus. Se a nosso olhar for simples, é como a olhar de Deus. E Deus é Amor e o amor quer unir, conquistando.
Há muitas pessoas que, erradamente, olham para as criaturas e para as coisas com a intenção de as possuir. E o seu olhar é egoísmo ou inveja ou, de qualquer forma, pecado. Ou olham para dentro de si próprias para se possuírem, para possuírem a sua alma, e o olhar delas é mortiço porque aborrecido ou perturbado. A alma, porque é imagem de Deus, é amor e o amor voltado para si mesmo é como uma chama que, se não for alimentada, se apaga. Olhemos para fora de nós: não olhemos para nós, nem para as coisas, nem para as criaturas. Olhemos para Deus, fora de nós, para nos unirmos a Ele. Deus está no fundo de cada pessoa que ama e, se não amar, é um tabernáculo de Deus, vazio, à espera que Ele dê alegria e expressão à sua existência. Olhemos, portanto, para cada irmão amando e amar e dar. E, em quem recebe, pode nascer o desejo de dar e seremos também amados. Deste modo, o amor é amar e ser amado: como na Santíssima Trindade. Deus em nós arrebatara os corações, acendendo neles a Sanssima Trindade que já ali repousa, pela graça, mas que está apagada.
Não se consegue acender a luz num ambiente - mesmo que lá exista a corrente eléctrica - enquanto não se puserem os dois pólos em contacto.
Também a vida de Deus em s é assim. Deve ser posta a circular para poder irradiar para fora e testemunhar Cristo: o Uno que liga o Céu a Terra, irmão a irmão. Olhemos, portanto, para cada irmão dando-nos, para nos darmos a Jesus. E Jesus há-de dar-se a s. É a lei do amor: «Dai e ser-vos-á dado» (Lc 6, 38).
Temos que nos dar aos irmãos - por amor a Jesus -, tornarmo-nos "alimento" deles, como outra Eucaristia. Pormo-nos totalmente ao serviço deles, que é estar ao serviço de Deus. E os irmãos retribuir-nos-ão esse amor. E, no amor fraterno, está o cumprimento de todos os desejos de Deus, que estão no mandamento: «Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros» (Jo 13, 34). O amor é um Fogo que une os corações em fuo perfeita.
Então, encontraremos em nós já não nós próprios, já não os irmãos. Vamos encontrar o Amor, que é Deus, vivo em nós. E o Amor em nós leva-nos a amar outros irmãos porque, estando os olhos sãos, reencontrar-Se-á neles e todos serão uma coisa .
À nossa volta crescerá a Comunidade, como à volta de Jesus: doze, setenta e dois, milhares... É o Evangelho que, ao fascinar - porque é Luz no amor -, arrebata e atrai. Depois, talvez acabemos por morrer numa cruz, para não sermos mais do que o Mestre. Mas morreremos por quem nos crucificar, e assim o amor terá a última vitória.
Mas a sua linfa - derramada nos corações - não morrerá. Fecundando, dará frutos de alegria, paz e Paraíso aberto.
E a glória de Deus crescerá. Mas, s, sejamos na Terra o Amor perfeito!
Publicada no jornal "La Via", 12 de Novembro de 1949, e retomada, em parte, em: Chiara Lubich, La dottrina spirituale, Roma 2006, pp. 134-135.