segunda-feira, 1 de abril de 2024

Palavra de Vida

Abril 2024

Patrizia Mazzola e equipa «Palavra de Vida»

«Com grande poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e gozavam todos de uma grande simpatia». (At 4,33)

Em tempo de Páscoa e com a plenitude da liberdade de quem recebeu a mensagem evangélica, esta palavra convida-nos a sermos também nós testemunhas do acontecimento que marcou a história: Jesus ressuscitou!

Para compreender plenamente o significado deste versículo, tirado dos Atos dos Apóstolos, convém citar a frase que o precede: «A multidão dos que abraçaram a fé tinha um só coração e uma só alma. Ninguém considerava seu nenhum dos seus bens; pelo contrário, tinham tudo em comum» (At 4,32).

«Com grande poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e gozavam todos de uma grande simpatia». (At 4,33)

No texto é apresentada a primeira comunidade cristã, animada pela poderosa força do Espírito Santo, caracterizada pela comunhão que a impele a proclamar o Evangelho a todos, a boa nova: Cristo ressuscitou.

São as mesmas pessoas que, antes do Pentecostes, estavam assustadas e desanimadas diante dos últimos acontecimentos, mas agora saem para a praça pública, prontas a dar testemunho até ao martírio, graças à força do Espírito que dissipou medos e receios. 

Eram um só coração e uma só alma, atuavam o amor recíproco até ao ponto de colocarem em comum os seus bens: esta era a realidade que ia envolvendo um número cada vez maior de pessoas. 

Mulheres e homens no seguimento de Jesus, tinham escutado as suas palavras, tinham vivido com Ele no serviço e no amor preferencial pelos últimos, pelos doentes. Tinham visto com os próprios olhos os factos prodigiosos realizados por Jesus. As suas vidas tinham mudado, porque eram chamados a viver uma nova lei. Tinham sido as primeiras testemunhas da presença viva de Deus no meio dos homens. 

Mas para nós, seguidores de Jesus nos dias de hoje, o que significa dar testemunho?

«Com grande poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e gozavam todos de uma grande simpatia». (At 4,33)

O modo mais eficaz de dar testemunho do Ressuscitado é mostrar que Ele está vivo e habita no meio de nós. «Se vivermos a sua Palavra, […] mantendo aceso no coração o amor ao próximo, se nos esforçarmos, de modo especial, por conservar sempre o amor recíproco entre nós, então o Ressuscitado viverá em nós, viverá no meio de nós e irradiará à nossa volta a sua luz e a sua graça, transformando os ambientes com frutos incalculáveis. Será Ele, mediante o seu Espírito, a guiar os nossos passos e as nossas atividades. Será Ele a determinar as circunstâncias e a proporcionar-nos as ocasiões para levar a Sua vida às pessoas que d’Ele necessitam» (C. Lubich, Palavra de Vida de janeiro de 1986, in Parole di Vita, a cura di Fabio Ciardi (Opere di Chiara Lubich 5), Città Nuova, Roma 2017, p. 347).

«Com grande poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e gozavam todos de uma grande simpatia». (At 4,33)

Escreve Margaret Karram (Presidente do Movimento dos Focolares): «“Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura” (Mc 16,15). foi a extraordinária missão que há 2000 anos os apóstolos receberam diretamente de Jesus e que mudou o curso da história. Hoje, Jesus também nos dirige o mesmo convite: oferece-nos a possibilidade de O levar ao mundo com toda a criatividade, as capacidades e a liberdade que Ele próprio nos deu» (Margaret Karram, Chamados e enviados, Rocca di Papa, 15 setembro de 2023).

Foi um anúncio «que não terminou com a Sua morte. Pelo contrário! Assumiu nova força depois da Ressurreição e do Pentecostes, quando os discípulos se tornaram testemunhas corajosas do Evangelho. O Seu mandato, portanto, chegou até nós hoje. Através de mim, através de cada um de nós, Deus quer continuar a contar a Sua história de amor àqueles com quem partilhamos breves ou longos percursos de vida» (Ibid.).

domingo, 31 de março de 2024

Regina caeli

Durante o tempo pascal, que vai do Domingo de Páscoa até ao Pentecostes, em vez da Oração do Anjo (Angelus) reza-se o Regina Caeli, para sublinhar a alegria cristã pela ressurreição de Nosso Senhor.


Português:

V. Rainha do Céu, alegrai-vos, Aleluia!

R. Porque Aquele que merecestes trazer em Vosso ventre, Aleluia!

V. Ressuscitou como disse, Aleluia!

R. Rogai por nós a Deus, Aleluia!

V. Alegrai-vos e exultai, ó Virgem Maria, Aleluia!

R. Porque o Senhor ressuscitou verdadeiramente, Aleluia!

Oremos. Ó Deus, que Vos dignastes alegrar o mundo com a Ressurreição do vosso Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, concedei-nos, Vos suplicamos, a graça de alcançarmos pela protecção da Virgem Maria, Sua Mãe, a glória da vida eterna. Pelo mesmo Cristo Nosso Senhor. Ámen.

Latim:

V. Regina caeli, laetare, alleluia.

R. Quia quem meruisti portare, alleluia.

V. Resurrexit, sicut dixit, alleluia.

R. Ora pro nobis Deum, alleluia.

V. Gaude et laetare, Virgo Maria, alleluia.

R. Quia surrexit Dominus vere, alleluia.

Oremus. Deus, qui per resurrectionem Filii tui, Domini nostri Iesu Christi, mundum laetificare dignatus es: praesta, quaesumus; ut per eius Genetricem Virginem Mariam, perpetuae capiamus gaudia vitae. Per eundem Christum Dominum nostrum. Amen.

sexta-feira, 1 de março de 2024

MARÇO - Mês de São José

O mês de Março é dedicado à devoção a São José, que é comemorada a 19 de Março. São José é o exemplo de um pai bom e amoroso por excelência, de um marido fiel e solidário, mas também de um humilde servo da vontade divina, ao aceitar o seu papel de marido de Maria e suposto pai de Jesus sem questionar o desígnio de Deus.

São José é muito honrado pela Igreja Católica e goza de um papel de grande importância em muitas orações do rito romano. Também é o protagonista de muitas práticas devocionais, como a “prática das Sete Dores e Alegrias de São José”, assim como muitas Ladainhas, como o Cordão de São José, o Rosário de São José, o Escapulário de São José, o Manto Sagrado, a Novena Perpétua, o Rosário Perpétuo, o Tribunal Perpétuo. Para ele nos voltamos para pedir graças e intercessões.

Palavra de Vida

Março de 2024

Parody Reyes e pela equipa da Palavra de Vida

«Cria em mim, ó Deus, um coração puro; e renova dentro de mim um espírito firme» (Sal 51[50],12)

A frase da Sagrada Escritura, que nos é proposta neste tempo quaresmal, faz parte do Salmo 51 (50), no versículo 12, com esta comovente e humilde invocação: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro; e renova dentro de mim um espírito firme”. Este salmo é conhecido com o nome de “Miserere”. Nele, o olhar do autor começa por sondar os esconderijos da alma humana para neles captar as fibras mais profundas, onde ressoa a nossa total inadequação perante Deus e, ao mesmo tempo, o insaciável anseio pela plena comunhão com Aquele do qual procede toda a graça e misericórdia. 

«Cria em mim, ó Deus, um coração puro; e renova dentro de mim um espírito firme» (Sal 51[50],12)

O salmo parte de um episódio bem conhecido da vida de David. Ele, chamado por Deus a cuidar do povo de Israel e a guiá-lo pelos caminhos da obediência à Aliança, atraiçoa a própria missão: depois de ter cometido adultério com Betsabé, faz com que o marido – Urias, o Hitita, oficial do seu exército – morra em batalha. O profeta Natan revela-lhe a gravidade da sua culpa e ajuda-o a reconhecê-la. Este é o momento da confissão do seu pecado e da reconciliação com Deus.

«Cria em mim, ó Deus, um coração puro; e renova dentro de mim um espírito firme» (Sal 51[50],12)

O salmista coloca na boca do rei invocações muito fortes, que brotam do seu profundo arrependimento e da total confiança no perdão divino: “apaga”, “lava-me”, “purifica-me”. Principalmente, no versículo que abordamos, usa o verbo “cria” para indicar que a completa libertação da fragilidade humana só é possível a Deus. É a consciência de que só Ele nos pode tornar criaturas novas com um “coração puro”, enchendo-nos com o Seu espírito vivificante, dando-nos a verdadeira alegria e transformando radicalmente o nosso relacionamento com Deus (o “espírito firme”) e com os outros, com a natureza e o cosmos.

«Cria em mim, ó Deus, um coração puro; e renova dentro de mim um espírito firme» (Sal 51[50],12)

Como pôr em prática esta palavra de vida? O primeiro passo será reconhecer-nos pecadores e necessitados do perdão de Deus, numa atitude de ilimitada confiança para com Ele. 

Pode acontecer que os nossos repetidos erros nos desencorajem, nos fechem em nós mesmos. É preciso, então, deixar entreaberta, pelo menos um pouco, a porta do nosso coração. Escreveu Chiara Lubich, em 1946, a alguém que se sentia incapaz de ultrapassar as suas misérias: «É preciso retirar da alma todos os outros pensamentos. Acreditar que Jesus é atraído para nós pela exposição humilde, confiante e amorosa dos nossos pecados. Nós, por nós mesmas, nada temos e só fazemos misérias. Ele, por Si mesmo, em relação a nós, só tem uma qualidade: a Misericórdia. A nossa alma pode unir-se a Ele com a oferta, com a única prenda, não das nossas virtudes, mas dos nossos pecados! […] Jesus veio à Terra, fez-se homem, e, se alguma coisa anseia […] é unicamente: ser Salvador. Ser Médico! Nada mais deseja» (C. Lubich, Cartas dos primeiros tempos, Cidade Nova, Abrigada 2011, p. 111).

«Cria em mim, ó Deus, um coração puro; e renova dentro de mim um espírito firme» (Sal 51[50],12)

Assim libertados e perdoados, com a ajuda dos irmãos – porque a força do cristão vem da comunidade – podemos amar concretamente o próximo, quem quer que ele seja. «Aquilo que nos é pedido é um amor recíproco, de serviço, de compreensão, de participação nos sofrimentos, nos anseios e nas alegrias dos nossos irmãos; um amor que tudo cobre, tudo perdoa, típico do cristão» (C. Lubich, Palavra de Vida de maio de 2002, in Parole di Vita, a/c Fabio Ciardi (Opere di Chiara Lubich 5), Città Nuova, Roma 2017, pp. 658-659). Por fim, diz o Papa Francisco: «o perdão de Deus […] é o maior sinal da sua misericórdia. Uma dádiva que cada […] pessoa perdoada é chamada a partilhar com cada irmão e irmã que encontra. Todos aqueles que o Senhor colocou ao nosso lado, os familiares, os amigos, os colegas, os paroquianos… todos são, como nós, necessitados da misericórdia de Deus. É bom ser-se perdoado, mas também tu, se quiseres ser perdoado, deves perdoar. Perdoa! […] Para sermos testemunhas do seu perdão, que purifica o coração e transforma a vida» (Papa Francisco, Audiência Geral, 30 de março de 2016)

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024


Mensagem do Arcebispo de Évora para a Quaresma 2024

Ao Povo Santo de Deus, peregrino em terras do Alentejo e Ribatejo, da Arquidiocese de Évora; seus Presbíteros, Diáconos e Consagrados ao Serviço de Todos, a Paz esteja convosco!

1. A Quaresma que nos prepara para a Páscoa deste ano de 2024, desperta-nos para a necessidade de valorizarmos o nosso encontro pessoal e comunitário com a Misericórdia de Deus. Será a partir desta experiência que renovaremos e fortaleceremos a Paz e a Alegria dos nossos corações e consequentemente, o testemunho humanizado das Comunidades Cristãs em que caminhamos na Fé.

É este o propósito do nosso Ano Pastoral, “Revelar juntos um novo rosto de Comunidade”; para que o Espírito Santo nos molde e amadureça neste propósito de conversão pessoal e comunitário, rezamos e discernimos com a Palavra do Evangelho: «Por isso reconhecerão que sois meus discípulos: Se vos amardes uns aos outros como Eu vos amei» (Jo 13, 35). Como sabemos, a lei do amor fraterno não é uma novidade das catequeses de Jesus, porém Cristo dá-lhe um novo sentido e uma nova medida, assumindo-se Ele próprio como esse sentido novo e essa nova medida: “(…) como Eu vos amei”. O Seu Amor tem uma única medida, amar sem medida, por isso entrega a Sua vida pela redenção de todos; o Seu Amor tem um único sentido, revelar-nos a Misericórdia do Pai, pois o seu alimento é fazer a vontade do Seu Pai (Cf. Jo 4, 34).

O Mandamento Novo sugere a Nova Aliança. Lei e Aliança consideram-se duas noções paralelas, assim Jesus, ao dizer, “(…) Dou-vos”, actua não como simples intermediário de Deus, à maneira de Moisés e dos Profetas, mas com autoridade própria e em nome próprio, como Filho de Deus e Salvador. É o Verbo de Deus que nos revela a Nova e Eterna Aliança. Deste modo, a nossa pertença a Jesus e com Ele ao Pai exige-nos a conversão e vivência desta Palavra: “Por isso reconhecerão que sois meus discípulos se vos amardes uns aos outros como Eu vos amei”.

2. Os Quarenta Dias a que chamamos Quaresma são um Tempo de Graça, “Kairós”, que se nós quisermos, nos proporcionarão momentos de reflexão e exame de consciência, para que experimentemos a beleza do abraço misericordioso de Deus e a riqueza que nos vem da experiência da vida fraterna, “Ó como é bom viverem os irmãos no Amor de Deus!” (Sal 133, 1).

O ruído em que vivemos com frequência pode-nos roubar a liberdade interior, sobrepondo-se ao nosso discernimento e tornando-nos insensíveis aos sinais dos tempos, «ao grito dos pobres e da terra». Deste modo, somos impedidos de escutar o nosso coração onde Deus fala e ecoam os gritos da solidão e da pobreza de muitos irmãos. Por isso, importa cultivar o jejum face a todos os excessos que nos solicitam exclusiva obsessão e provar o oásis do silêncio interior, onde se tornará possível compreender que a nossa sede corresponde à água-viva da Boa Nova do Senhor.

Eis uma oportunidade de excelente terapia que, se quisermos, repito, poderemos usufruir nesta Quaresma.

Oração, jejum e partilha fraterna são os três pilares da Quaresma; desde a mais remota tradição proporcionada pelos Padres do deserto, pelos Monges, Doutores da Igreja e Mendicantes, estas três práticas quaresmais renovarão as nossas vidas e farão das nossas Comunidades eclesiais, “Mães de coração aberto para todos os sedentos de Esperança”. Neste contexto da espiritualidade e da sabedoria cristã, recordo as palavras do nosso amado Papa Francisco, proferidas aos estudantes universitários na JMJ em Lisboa e agora citadas na sua Mensagem Quaresmal: «Procurai e arriscai; sim, procurai e arriscai. Neste momento histórico, os desafios são enormes, os gemidos dolorosos: estamos a viver uma terceira guerra mundial feita aos pedaços. Mas abracemos o risco de pensar que não estamos numa agonia, mas num parto; não no fim, mas no início dum grande espetáculo. E é preciso coragem para pensar assim» (03/VIII/2023). É um mundo novo que nasce, experimentando nós simultaneamente os gritos doridos do mundo velho que morre.

3. No contexto doloroso de violência generalizada e de “guerra mundial feita aos pedaços”, como refere o Santo Padre, proponho que a Renúncia Quaresmal deste ano, se destine às Igrejas do Médio-Oriente, vítimas de guerra e que façamos chegar a essas Comunidades a nossa partilha através da Santa Sé, ao serviço da Caridade do Papa Francisco.

Agradeço todo o esforço, dedicação e generosidade da Igreja Diocesana, nomeadamente da sua Cáritas, da sua Cúria e Economato, que permitiram o envio de 20.000€, correspondente à Renúncia Quaresmal de 2023, para as vítimas dos terramotos ocorridos na Turquia e na Síria. Também este quantitativo foi enviado através do ministério da Caridade do Santo Padre, o Papa Francisco.

Como já é tradição, confio mais uma vez a campanha da Renúncia Quaresmal 2024 à Cáritas Diocesana, aos Reverendíssimos Párocos, aos Serviços Centrais da Arquidiocese e à generosidade de todos os Cristãos, entidades, empresas e pessoas de boa vontade.

Com todos permaneço em comunhão de oração, jejum e caridade. E a todos desejo fecunda Quaresma e Santa Páscoa!

+ Francisco José Senra Coelho

Arcebispo de Évora

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Palavra de Vida

Fevereiro 2024

Letizia Magri e equipa da Palavra de Vida

«Que, entre vós, tudo se faça com amor.» (1Cor 16,14) [1]

Este mês, como lâmpada para os nossos passos [Cf. Sal 119 [118], 105], deixemo-nos iluminar pela palavra e pela experiência do apóstolo Paulo.

Ele anuncia-nos, também a nós, como aos cristãos de Corinto, uma poderosa mensagem: o coração do Evangelho é a caridade, a ágape, o amor desinteressado entre irmãos. 

A nossa Palavra de Vida faz parte da conclusão desta Carta, em que a caridade é amplamente recordada e explicada em todas as suas caraterísticas: é paciente, benevolente, rejubila com a verdade, não procura o próprio interesse [Cf. cap. 13]

O amor recíproco, se for vivido na comunidade cristã, é bálsamo para as divisões que sempre a ameaçam e sinal de esperança para toda a humanidade. 

«Que, entre vós, tudo se faça com amor.» (1Cor 16,14)

Impressiona que Paulo – no texto grego – exorte a agir “estando no amor”, como a indicar-nos uma condição estável, uma inabitação em Deus, que é Amor.

Como poderemos, de facto, acolher-nos reciprocamente e acolher cada pessoa com esta atitude, senão a partir do reconhecimento de que nós próprios somos amados por Deus, até nas nossas fragilidades?

É com esta renovada consciência que é possível abrirmo-nos sem medo aos outros, para compreender as suas necessidades e para nos colocarmos ao seu lado, partilhando recursos materiais e espirituais.

Olhemos para o modo como Jesus atuou; é Ele o nosso modelo.

Ele foi sempre o primeiro a dar: «[…] a saúde aos doentes, o perdão aos pecadores, a vida a todos nós. Ao instinto egoísta de acumular opõe a generosidade; à concentração nas próprias necessidades, a atenção aos outros; à cultura do ter, a cultura do dar. Não interessa se podemos dar muito ou pouco. O importante é o modo como damos, quanto amor colocamos até num pequeno gesto de atenção aos outros. […] É essencial o amor, porque sabe ir ao encontro do próximo numa atitude de escuta, de serviço, de disponibilidade. Como é importante […] procurar ser o amor junto de cada um! Encontraremos o caminho direto para entrar no seu coração e elevá-lo» [C. Lubich, Palavra de Vida de outubro de 2006, em Parole di Vita, a/c Fabio Ciardi (Opere di Chiara Lubich 5) Città Nuova, Roma 2017, pp. 791-792.].

«Que, entre vós, tudo se faça com amor.» (1Cor 16,14)

Esta Palavra ensina a aproximarmo-nos dos outros com respeito, sem falsidade, com criatividade, dando espaço às suas mais belas aspirações, para que cada um dê o seu próprio contributo para o bem comum.

Ajuda-nos a valorizar cada ocasião concreta da nossa vida quotidiana: «[…] desde o trabalho em casa, nos campos ou nas oficinas, aos trâmites burocráticos, às tarefas escolares, até às responsabilidades no campo civil, político ou religioso. Tudo se pode transformar em serviço atento e gentil» [ Ibid. p. 792. ].

Poderemos imaginar um mosaico de Evangelho vivido na simplicidade.

Dois pais escreveram: «Quando uma vizinha, angustiada, nos disse que o seu filho estava na prisão, combinámos ir visitá-lo. Jejuámos no dia anterior à visita, esperando ter a graça de lhe dizer as palavras certas. Depois, pagámos a caução para que fosse libertado» [S. Pellegrini, G. Salerno e M. Caporale, Famílias em ação – Um mosaico de vida, Cidade Nova 2022, p. 71.].

Um grupo de jovens de Buea (sudoeste dos Camarões) organizou uma recolha de bens e de fundos para ajudar os refugiados internos, por causa da guerra em curso [Texto adaptado do site https://www.unitedworldproject.org/pt-br/workshop/camaroes-partilha-com-pessoas-deslocadas/.]. Visitaram um homem que perdeu um braço durante a fuga. Conviver com esta incapacidade tornou-se para ele um grande desafio, porque os seus hábitos mudaram drasticamente. «Disse-nos que a nossa visita lhe deu esperança, alegria e confiança. Sentiu o amor de Deus através de nós», contou a Regina. Acrescentou a Marita: «Depois desta experiência, estou realmente convencida que nenhuma dádiva é pequena se for feita com amor… Não é preciso mais nada: é o amor que faz mover o mundo. Experimentemo-lo!»

[1] Este mês, a Palavra de Vida que nos é proposta é a mesma que um grupo de cristãos de várias igrejas da Alemanha escolheu para viver durante todo este ano.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

"A verdadeira oração"

Uma noite, estando São Bernardo, na Igreja em oração, teve uma visão:

- No início da cerimónia, vi uma multidão de anjos descendo do céu. Cada anjo ficou ao lado de um dos fiéis presentes; abriu um livro e começou a escrever. Reparei que alguns anjos escreviam com letras de ouro; outros com letras de prata; outros com tinta; e outros com água.

Então, São Bernardo perguntou:

- Por que não escrevem todos com o mesmo material?

Um dos anjos explicou-lhe:

- Escrevemos com ouro as orações feitas com amor; com prata, as orações feitas com fé; com tinta, as orações feitas com atenção; com água, as orações feitas apenas com os lábios.

Que isso nos sirva para examinar nossa oração e pedir a Deus a graça de torná-la cada vez melhor, unindo-nos cada vez mais a Ele.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

 

Palavra de Vida

Janeiro de 2024

Patrizia Mazzola e equipa da Palavra de Vida 

«Amarás o Senhor teu Deus… e o teu próximo como a ti mesmo» (Lc 10,27)

A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (Esta celebra-se no hemisfério norte de 18 a 25 de janeiro e no hemisfério sul na semana de Pentecostes. Os textos da oração deste ano foram preparados por uma equipa ecuménica do Burkina Faso) propõe este ano, como tema de reflexão, a frase acima referida que tem a sua origem no Antigo Testamento (Cf. Dt 6,4-5 e Lv 19,18). No seu caminho para Jerusalém, Jesus é interpelado por um doutor da Lei que lhe pergunta: “Mestre, que hei de fazer para herdar a vida eterna?” (Lc 10,25). Abre-se assim um diálogo em que Jesus responde com outra pergunta: “O que está escrito na Lei?” (Lc 10,26), suscitando a resposta do seu interlocutor: o amor a Deus e o amor ao próximo, que no seu conjunto são considerados a síntese da Lei e dos Profetas. 

«Amarás o Senhor teu Deus… e o teu próximo como a ti mesmo» (Lc 10,27)

“E quem é o meu próximo?”, continua o doutor da Lei. O Mestre responde contando a parábola do Bom Samaritano. Ele não elenca as várias tipologias de pessoas que podem entrar na categoria de próximo, mas descreve a atitude de profunda compaixão que deve animar todas as nossas ações. Somos nós próprios que nos devemos tornar “próximos” dos outros. 

A pergunta que nos temos de fazer é: “E eu, sou próximo de quem?”.

Precisamente como fez o Samaritano, é preciso cuidar dos irmãos cujas necessidades conhecemos. Deixarmo-nos envolver plenamente nas situações que se nos apresentam, sem qualquer temor. Ter um amor que procura ajudar, promover e encorajar a todos. 

É preciso ver o outro como um outro eu, e fazer ao outro aquilo que faríamos a nós próprios. É a denominada “regra de ouro”, que encontramos em todas as religiões. Gandhi explica-a de um modo muito eficaz: «Tu e eu somos uma coisa só. Não posso fazer-te mal sem me ferir a mim mesmo» (C. Lubich, A arte de amar, Cidade Nova, Abrigada 2007, p. 24).

«Amarás o Senhor teu Deus… e o teu próximo como a ti mesmo» (Lc 10,27)

«Se nós ficarmos indiferentes ou resignados diante das necessidades do nosso próximo, quer no plano dos bens materiais quer nos bens espirituais, não podemos dizer que amamos o próximo como a nós mesmos. Não podemos dizer que o amamos como Jesus o amou. Numa comunidade, se quisermos inspirar-nos no amor que Jesus nos ensinou, não pode haver lugar para desigualdades, desníveis, marginalização, negligência. […] Enquanto virmos no nosso próximo um estranho, alguém que perturba a nossa tranquilidade, que transtorna os nossos projetos, não podemos dizer que amamos a Deus com todo o nosso coração» (C. Lubich, Palavra de Vida de novembro de 1985, em Parole di Vita, a/c Fabio Ciardi (Opere di Chiara Lubich 5), Città Nuova, Roma 2017, pp. 340-341).

«Amarás o Senhor teu Deus… e o teu próximo como a ti mesmo» (Lc 10,27)

A vida é aquilo que nos acontece no momento presente.  Dar-nos conta de quem está ao nosso lado, saber escutar o outro pode abrir-nos sendas interessantes e suscitar iniciativas não previstas.

Foi o que aconteceu com a Victoria: 

«Na igreja, fiquei tocada pela lindíssima voz de uma mulher africana sentada ao meu lado. Felicitei-a, encorajando-a a juntar-se ao coro da paróquia. Detivemo-nos a conversar. Era uma religiosa da Guiné Equatorial, de passagem por Madrid. No seu Instituto acolhem recém-nascidos, meninos e meninas abandonados, que acompanham até à idade adulta, facultando-lhes os estudos universitários ou uma via profissional. O atelier de costura funcionava bem, mas as máquinas não são suficientes.

Ofereci-me para a ajudar a encontrar outras máquinas, confiando em Jesus, na certeza que Ele nos escutava e me impelia a amar sem calculismos.

Um meu amigo conhecia um técnico nesta área, que ficou feliz por poder participar nesta cadeia de amor. Conseguiu disponibilizar e reparar oito máquinas de costura e ainda arranjou uma de passar a ferro. Um casal amigo ofereceu-se para as transportar até Madrid, mudando o destino dos seus dois dias de férias e percorrendo quase mil quilómetros. Assim, as “máquinas da esperança”, através de uma longa viagem por terra e por mar, chegaram a Malabo. Na Guiné ficaram maravilhados! As suas mensagens falam apenas de gratidão».